Tim Maia e a fase Racional

Em 1974, Tim Maia entrou em contato com a Cultura Racional, grupo conhecido por divulgar as ideias escritas pelo carioca Manoel Jacintho Coelho no livro Universo em Desencanto. Em seus livros, Manoel explica a criação do universo, da vida na Terra e o destino da humanidade.

Depois de ler o primeiro volume da obra de Manoel, Tim Maia, um cara que já havia passado por de tudo um pouco, alcançou a chamada Imunização Racional. Compreendeu o sentido da vida, de onde viemos e para onde vamos. Sua música nada mais era agora do que um instrumento para divulgar a causa Racional. Começou a usar roupas brancas e a tentar influenciar todos a ler o livro.

Tim não conseguiu convencer sua gravadora sobre as ideias da Cultura Racional, rescindindo seu contrato e fundado a sua própria a SEROMA, iniciais de nome de batismo, Sebastião Rodrigues Maia. Lançando em 1975, Tim Maia Racional Vol. I e em 1976 Tim Maia Racional Vol. II.

O que faz dos dois volumes de Tim Maia Racional essenciais não é a mensagem que o cantor divulga nas canções. Os álbuns são marcantes por trazerem um Tim Maia diferente daquele que o grande público conhecia. Tim não fumava, não cheirava e não bebia mais. A vida saudável permitiu que o cantor atingisse o máximo que sua voz podia render. Por acreditar na mensagem que transmitia, Tim cantava com paixão, dava o melhor de si por aquela causa.

Apesar de as vendas dos álbuns racionais terem sido um fracasso, algumas músicas ficaram marcadas entre os fãs e na história, como a clássica Imunização Racional, que traz nada menos do que o tradicional: Uh, uh, uh, que beleza. Tim e os músicos que o acompanham criaram um trabalho digno de um dos maiores nomes da história da música brasileira. Na faixa Universo em Desencanto, por exemplo, rolam quebras de tempo capazes de dar um nó na cabeça de qualquer um. Enfim, a qualidade musical do álbum é inquestionável.

Após dois anos de dedicação e pregação das crenças da Cultura Racional nas ruas, nos morros e nos seus shows, Tim Maia acabou se desiludindo com Manoel e seus seguidores e abandonou o grupo. Recolheu os discos das prateleiras, tirou as músicas dessa fase de seu repertório e nunca mais tocou no assunto. Voltou também para as drogas e para a vida desregrada.

Até sua morte em 21 de março de 1998, Tim Maia renegou os dois álbuns a ponto de proibir seu relançamento, transformando os discos em artigo de luxo disputado por fãs e colecionadores do mundo todo chegando a custar R$ 3000, dependendo o estado o valor pode até dobrar.

Em 2006, após um acerto com a família que administra o espólio de Tim Maia, o primeiro volume ganhou versão em CD pela Trama e reavivou o interesse por essa fase de valor artístico incontestável. Foi mais ou menos nessa época que surgiram na internet versões inacabadas de canções que fariam o terceiro volume de Racional. Cinco anos mais tarde, eis que Tim Maia Racional Vol. 3 é lançado, infelizmente como bônus exclusivo para quem adquiriu os 14 CDs da Coleção Tim Maia da Editora Abril.