Sobre os rolamentos, ela busca espaço e respeito

Um esporte altamente marginalizado e praticado em sua maioria por atletas do sexo masculino, essa era a visão que a maioria da população tinha até o skate estrear nas Olimpíadas de 2020, em Tóquio. Logo em suas primeiras competições olímpicas os brasileiros já trouxeram para o Brasil três medalhas de prata e a quebra de paradigmas. Uma das medalhas, conquistada por Rayssa Leal, fez dela a mais jovem medalhista olímpica do Brasil. Com apenas 13 anos de idade, a “fadinha” fez história no outro lado do mundo, acompanhada do paulista Kelvin Hoefler, que foi o primeiro medalhista do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, e do catarinense Pedro Barros, que ao contrário dos atletas anteriores foi vice-campeão na modalidade skate park, disputada no Centro de Esportes Urbanos de Ariake, no Japão. Enquanto essas três luzes brilhavam em Tóquio, em Mandaguari, uma estrela em ascensão já combatia o preconceito e literalmente pulava por todo e qualquer obstáculo que encontrava em seu caminho.

A mandaguariense Izabela Gomes de Oliveira, de 24 anos, está há mais de oito anos na luta por respeito e reconhecimento, e de acordo com ela, com o reconhecimento do skate como esporte, estas conquistas estão cada vez mais fáceis de serem alcançadas. Em entrevista a o Jornal Agora, a jovem contou que o desejo pela prática surgiu após observar meninos andando na rua de sua casa e nos pontos públicos da cidade. “Um dia eu estava vendo a molecada andando pela cidade e pensei ‘acho que vou comprar um skate’, então juntei meu dinheiro, comprei um e comecei a praticar junto com eles”.

Após mais de meia década sobre rolamentos e uma prancha de madeira, Izabela comenta que sempre buscou participar de campeonatos, mas que no início ela tinha que competir contra meninos, pois a categoria feminina demorou a surgir. A mandaguariense participou do Circuito Paranaense de Skate 1º Etapa, em Ponta Grossa, Campeonato Paranaense de Skate 2º Etapa, em Cianorte, onde foi a campeã, e do Campeonato Feminino Brasileiro de Skate, em São Paulo.

Ser moradora de uma cidade onde a prática do skate ainda era marginalizada e mulher não foram objeções suficientes para parar a skatista. “No começo foi bem difícil, sempre tinha as críticas que o esporte era só para os meninos, que eu só ficava no meio de meninos, me diziam que para mulheres era perigoso, sempre tinha esse tipo de comentário”.

A pista de skate de Mandaguari, localizada no Jardim Esplanada, completou em agosto nove anos de existência. O único local onde os praticantes encontram refúgio para treinar com segurança é constantemente alvo de indivíduos com intenções que consequentemente levaram à construção de uma vista marginalizada do local. “Essa visão que as pessoas têm da pista de skate que tem aqui em Mandaguari é muito complicada, pois tem muita gente que vai lá para praticar. É muito difícil para nós, pois tem gente que vai lá para ficar atoa. Ali, na volta da pista, tem muitos moradores que gostam de nos ver participando, e às vezes quando precisamos de alguma coisa eles sempre nos ajudam. Às vezes com uma água gelada, rodinho,sempre tem alguém que ajuda. Mas infelizmente também tem aqueles que ficam ali nos recriminando, mas não temos o que fazer”.

Com o final das olimpíadas nos resta as conquistas e as memórias, mas para Izabela ainda existe o orgulho. “Traz uma sensação muito boa ver a nossa fadinha fazendo história, fico muito feliz por ela ter nos trazido uma medalha tão novinha, representando todas as meninas do país que andam de skate. A Letícia Bufoni representa muita inspiração para mim, mas todas elas são inspirações para nós.” Iza ainda contou à reportagem que sonha em estar nas Olimpíadas de 2024, em Paris, na França. “Eu sonho né, vamos ver, vai que um dia chegamos lá. Eu gostaria de estar em Paris sim, se não for pra competir, para assistir pelo menos”.

Reportagem publicada na 370ª edição do Jornal Agora