Segue o impasse

Quando o Movimento Tarifa Zero conseguiu um acordo com a concessionária Viapar para desconto na tarifa de pedágio em 2017, quatro anos atrás, ninguém imaginava que era apenas uma batalha vencida em uma guerra que estava longe de acabar. Aos poucos, uma série de coincidências minou a confiança do mandaguariense no movimento, dividiu a população e abriu brecha para um possível fim do acordo e até o fechamento da Estrada Terra Roxa, que funciona como rota alternativa ao pedágio local. 

Relembrando

Se você não acompanhou os principais acontecimentos que levaram ao ponto atual e também está perdido em relação ao assunto, calma que a gente refresca a memória. Desde que o município conseguiu um acordo com a Viapar, em abril de 2017, foi instalada uma cancela na parte da Terra Roxa que fica próxima à praça de pedágio. A própria concessionária assumiu a responsabilidade por instalar o equipamento, para fazer um controle e limitar a passagem apenas a veículos de Mandaguari e Marialva. 

Porém mesmo naquela época não demorou muito para que viessem as reclamações dos motoristas locais. Alguns reclamavam que a cancela não funcionava, que era lenta, que havia formação de filas desnecessariamente grandes no trecho, justamente para tentar minimizar a passagem de veículos. Houve até um episódio no qual moradores, irritados com a demora do equipamento, arrancaram um dos portões do local. Isso ainda naquele 2017.

Outro ponto foi a exigência de cadastro e atualizações anuais de motoristas que queriam passar pela praça de pedágio com desconto de 80%. À época, o Tarifa Zero conseguiu com que a Agência Regional de Desenvolvimento (ARD) fizesse o serviço, que por questões legais não poderia ser bancado pelo município. Para fazer o cadastro, a ARD precisou investir em contratação de pessoal e equipamento, resultando na cobrança de uma taxa. 

Houve reclamações por conta da cobrança, mas a “bronca” mais frequente era a demora para que o cadastro fosse efetivado na praça de pedágio, e vários motoristas relataram que nunca conseguiam o desconto. As reclamações foram aumentando até que chegou um ponto em que a Viapar optou por realizar o cadastro por conta, no Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU), no próprio pedágio. E agora está realizando o serviço em sua sede, na PR-317, próximo ao aeroporto de Maringá. 

Paralelo a isso, desde 2017 a concessionária briga pelo fechamento da rota alternativa na Terra Roxa, e entrou com uma ação na justiça exigindo isso. A empresa se propôs a celebrar um contrato com o município, oficializando o desconto de 80% para motoristas locais na tarifa de pedágio, porém pede, em contrapartida, o fechamento da estrada rural. E na Justiça a Viapar alega que não houve contrato assinado há cinco anos. Até o equipamento na Terra Roxa foi retirado pela própria concessionária, que alega nos tribunais que qualquer veículo “de fora” pode passar pelo trecho, desviando do pedágio. 

Em março a Viapar conseguiu uma liminar autorizando o fechamento dos acessos à estrada rural, mas um grupo de moradores acampou no local para evitar a ação. Posteriormente, a empresa tentou o bloqueio dos acessos novamente e chegou a notificar os moradores daquela região, mas a Justiça deu mais um mês para que concessionária e municípios resolvam a questão de forma amigável.

Números

Agora que fizemos uma breve linha do tempo dos acontecimentos, vamos entender a insistência nas tentativas de fechar a Terra Roxa. Somente de 2017 a 2019 estima-se que os motoristas de Mandaguari economizaram mais de R$ 12 milhões em pedágio, uma média de quase R$ 500 mil por mês. É um valor considerável.

Além disso, o atual contrato de concessão termina no final deste ano. A nova concessão deve começar a partir de 2022 e valerá por 30 anos. Legalizar uma “rota alternativa”, no ponto de vista das pedagiadoras, é mau negócio. Um motorista que passa pela praça de pedágio e paga tarifa reduzida ainda rende dinheiro às concessionárias, enquanto o motorista que usa a rota alternativa não rende.

E se a Terra Roxa fechar?

Em Mandaguari existe outra rota alternativa ao pedágio, pela Estrada Keller, que também faz divisa com Marialva. Até encarando a possibilidade de a Terra Roxa fechar, ambos os municípios assinaram um termo de cooperação para melhorar a qualidade da Keller. 

Porém é uma conta que para alguns motoristas pode não fechar. O trajeto pela Keller tem 11 quilômetros de extensão, enquanto o da Terra Roxa, com o acesso próximo à praça de pedágio, tem cerca de um quilômetro. 

O outro lado…

A reportagem do Jornal Agora tentou contato com a assessoria de imprensa da Viapar para obter uma posição oficial a respeito do assunto. Até o fechamento desta edição, porém, a empresa não respondeu a nenhuma dessas tentativas.