Re-plantando nossa história: um projeto que busca uma relação harmoniosa entre a cidade e a natureza

“Tudo é melhor no norte do Paraná: a terra é próspera, o transporte é fácil, o clima é puro, a vegetação é abundante”, era isso o que diziam nos anúncios que promoviam as cidades que hoje compõem o eixo Maringá-Londrina, incluindo nossa cidade, Mandaguari. Resgatando esse material publicitário produzido na década de 1940, é nítido que a nossa região era enaltecida pelas riquezas naturais aqui encontradas. Não tardou e essas virtudes foram os seus principais atrativos para que milhares de migrantes aqui se estabelecessem e para que gradativamente as perobas rosas, as cabriúvas, os jaracatiás, entre outras tantas espécies arbóreas – tão fartas e múltiplas em nossa região – fossem massivamente utilizadas nas edificações, nos mobiliários das casas e em outras tantas demais aplicações.

84 anos depois, essas árvores desapareceram da nossa paisagem. Alguém se lembra da última vez que viu uma peroba rosa? Com qual facilidade se encontra no dia-a-dia um jaracatiá? Quem reconhece a aparência que tem uma cabriúva? Ou até mesmo com qual facilidade você, seu filho ou seu neto tem a oportunidade de colher uma pitanga ou uma jabuticaba diretamente dos galhos da árvore?

A história da colonização do norte do Paraná é vasta e de conhecimento por quase todos que aqui nasceram e residem. Os fatos que marcaram sua origem e formação ainda se encontram frescos na memória coletiva local, costumeiramente rememorada nas proximidades de datas festivas das cidades e em rodas de conversas por aqueles que presenciaram sua construção. Mas, e as riquezas naturais tão abundantes e que formaram a base para a sua existência, quais espaços essas ocupam em nossa cidade e nas nossas memórias?

Com base nesses questionamentos surgiu o projeto Re-plantando nossa história, coordenado pelo Rotary Club Mandaguari-Família. A ação tem por objetivo principal resgatar a nossa biodiversidade nativa, praticamente extinta, e criar uma harmonia entre nossa paisagem original e a cidade moderna, através de intervenções multidisciplinares de resgate histórico, cultural e ambiental. Aliando conhecimentos práticos de meio ambiente, cultura, educação, urbanismo e, principalmente, cidadania, em nossa comunidade mandaguariense.

A área escolhida para essa intervenção é o antigo pátio ferroviário. No centro da cidade, este espaço recebeu nos últimos anos intervenções pontuais pela gestão pública municipal com a instalação de quadras poliesportivas, playgrounds e academia da terceira idade. Contudo, grande parte dessa área continua ociosa e em estado ambiental de degradação, o que impede sua ampla utilização pela população local como um espaço de lazer público e de qualidade.

Ao desenvolver essa ação em uma área pública e central procuramos reconectar a população mandaguariense com o seu patrimônio ambiental nativo, suas formas, texturas, história, aromas e sabores, resgatando a biodiversidade original no cotidiano da vida urbana. Ainda, o projeto prevê benefícios ambientais ao local, como a diminuição da temperatura no entorno, o aumento da umidade do ar, a retenção do barulho do trem e da poeira, e também a criação de um habitat propício para trazer de volta a avifauna que se afastou da cidade.

Uma cidade com arborização nativa cria identidade cultural, equilíbrio ecológico e preserva os remanescentes naturais – até mesmo os distantes – pois o que era considerado “mato” passa a ser visto como ornamental, digno e sustentável, e melhores decisões de planejamento e gestão urbano-ambiental podem ser tomadas a partir do seu (re)conhecimento.

Mas, para que projeto se concretize, contamos com a participação ativa de cada morador, do entorno e de toda cidade. O plantio das árvores acontecerá através de mutirões voluntários aos finais de semana, com a presença de pessoas de diferentes idades e grupos sociais. O engajamento da população neste projeto tem por objetivo tornar as pessoas mais conscientes da sua participação na construção e manutenção da nossa cidade e na preservação da nossa natureza. Com isso, formaremos cidadãos que sejam capazes de participar criticamente em suas comunidades, valorizar o planejamento e propor transformações.

Por isso, faço um convite a cada leitor: vamos juntos replantar nossa história?

*Rafael Rossetto Ribeiro é Arquiteto e Urbanista pela UEM com graduação sanduíche pela Universidade Tecnológica de Dublin, na Irlanda. Mestrando na UEM e membro do Rotary Club de Mandaguari Família. Autor de artigos científicos publicados na área do Urbanismo e do Planejamento Ambiental.