Presidente da Cocari, Vilmar Sebold, fala sobre os efeitos do Covid-19 na economia brasileira

Em entrevista à Agora FM (91,3) ele falou mais sobre a economia federal e os impactos que a pandemia teve tanto na cooperativa, quanto na vida dos brasileiros.

O presidente da Cocari, Vilmar Sebold, concedeu entrevista ao apresentador Júlio César Raspinha, durante o programa Show da Manhã da Agora FM (91,3). Na ocasião, Sebold fez um balanço de 2020 e os impactos da pandemia de Covid-19 na economia.  Confira a seguir os principais trechos da conversa.

Júlio César Raspinha: A última entrevista presencial que fizemos com o Vilmar pessoalmente ocorreu no aniversário da Cocari, e ele citou na entrevista, “olha, nós estamos com um problema chegando, que é o Corona vírus, que vem da China, e há muita preocupação”.  Presidente, passados cerca de 10 ou 11 meses, nós sabemos o que aconteceu. Nos piores pesadelos, dava pra imaginar que viveríamos um ano como esse?

Vilmar Sebold: Falando nos aspectos desses 10 meses, o mais difícil é que ainda não terminou. E o que nos gera mais ansiedade e insegurança é que nós não sabemos ainda pra onde caminhar. Nós temos esperanças nessas vacinas que já começaram a ser aplicadas, que os Estados Unidos estão já na frente, com mais de 1 milhão de pessoas que tiveram acesso a vacina, depois temos Reino Unido e outros países europeus. Primeiro nós não imaginávamos uma ameaça de tão tamanha a vida, e só as pessoas que perderam um ente querido entendem que essa estatística, ela só serve quando é para os outros, ela não faz sentido quando é na nossa casa. E nós temos pessoas próximas a nós que acabaram falecendo esse ano, nós temos associados que faleceram, temos parentes de funcionários que faleceram e temos inclusive um considerável número de funcionários afastados por Covid-19, tanto positivados, quanto efetivamente com parentes, que nós tivemos que isolar. É uma norma nossa, as pessoas ficam isoladas, vão pra casa pra poder ajustar isso. Eu gostaria de citar uma perda que tivemos, o Doutor Gabriel Neves Caleffi, era o associado 001 da Cocari, o número dele de matrícula antecipou ainda o do Doutor Oribes, que era 002, e todo um registro da história de perdeu com os 94 anos do Doutor Caleffi. Nós tivemos a filha do associado lá de Marilândia do Sul, com 16 anos, que estava no final do período de isolamento, e piorou do nada e infelizmente veio à óbito. Eu acho que faz sentido, aquele termo que se usa na rádio, em que é importante limitar o número de parentes nesse momento para que nós possamos comemorar nos outros anos, o que não faz sentido é chegar no próximo Natal e ver carteira vazia. Eu comentei nas nossas lives de associados, que nós tivemos duas famílias esse ano, uma que precisa e deve fazer oração de agradecimento porque não enfrentou no seio da família o Covid, e a outra que precisa de muita força pois enfrentou, alguns se recuperaram, outros não. Infelizmente é isso que nós temos, ninguém sonhava com isso, ninguém estava preparado e isso mudou o nosso mundo de ponta cabeça, essa é a nossa realidade, desde o distanciamento até o modo de se cumprimentar, o brasileiro sempre se comprimento com as mãos, um abraço e os três beijinhos, e agora nós vemos  o soquinho na mão, o cotovelo que se toca, é quem bate o pé. Agora nós temos só que ter um  processo de conscientização de que pra superarmos isso, vamos ter que fazer juntos, cada um assumindo sua responsabilidade. Tem muita gente fazendo muito , mas também tem muitas pessoas não se preocupando. E esse agravamento, essa questão de conscientização depende de cada indivíduo, porque eu não posso obrigar você a fazer, agora a consciência é de cada um. Pois não é só a questão financeira, isso nós conseguimos ajustar, entrando nesse aspecto, vou começar pela área da Cocari que mais sofreu, que é a Fiação. Lá nós tínhamos um sonho antigo, e conseguimos duplica-la, nós modernizamos a fachada, dentro dela nós temos a maior planta de produção de fios do estado do Paraná e uma das mais modernas da América Latina.

Eu me lembro na ocasião Presidente, que estava programada a inauguração dessas instalações, com autoridades do estado, e foi cancelada encima da hora pois havia estourado o problema do Covid-19. E teve um serio problema depois, que foi ter ficado tanto tempo parado. Como que foi presidente lidar com isso?

A primeira coisa é a seguinte, nós tínhamos sim uma inauguração marcada para o dia 20 de março, já estava confirmada a presença do governador, de secretários, ainda estávamos acertando a presença da ministra na época e também já haviam sido confirmadas diversas autoridades a nível federal. Só que, não tínhamos como fazer, nem a nossa assembleia, que tinha a necessidade de ser feita até dia 31 de março. Nós conseguimos fazer, com todos os regulamentos a serem compridos. Em Março, a nossa previsão de produção já com a fábrica nova era 750 toneladas, nós conseguimos produzir em março 350 toneladas. Em abril, a previsão era produzir 770 toneladas, conseguimos 384. Maio, não produzimos nem um quilo. No mês de junho, começamos a caminhar devagarinho, para no mês de setembro conseguirmos equilibrar. Mas nós ainda não conseguimos alcançar o planejado. 

Depois disso, as coisas foram se assentando e as pessoas puderam ver que não era o fim do mundo, e a economia retomou de uma maneira avassaladora. O auxílio emergencial foi o fator preponderante pra isso?

Eu acho o seguinte, primeiro que nós temos um caso de absoluto sucesso e ele vai ser questão de análise em teses de doutorados e mestrados, que é a operação que a Caixa fez, gerar na velocidade em que gerou o cadastro de milhões de pessoas pra poder receber o auxílio emergencial, e depois descobrir  a estimativa de que nós não teríamos gasto 50% do que foi gasto por mês de auxílio emergencial. Então, isso gerou maior renda pras famílias, mas daí fora a maior renda, o que nós sempre aprendemos, você fecha a economia por decreto, você fecha uma empresa via decreto, mas você não volta a produzir por decreto. Então tivemos uma somatória, uma injeção de R$ 40 bilhões por mês ao longo da pandemia, o que movimentou a pandemia e foi fundamental , mas nós tivemos devido à paralisação um desajuste no ponto de equilíbrio da economia, quando nós desajustamos e jogamos rena na outra ponta, que era a classe mais necessitada, que veio a gerar poder de compra, nós geramos uma pressão de demanda com uma produção de ofertas.

Essa dificuldade, pela qual estamos passando agora você acha que vai moldar essa próxima geração?

Nós fizemos um processo de aceleração, nós cortamos 50 %, veio para R$ 300,00, na minha concepção, nós deviríamos ter olhado essa nova onda um pouco mais, pois só estamos aumentando o endividamento do Brasil. Não existe dinheiro público, existe dinheiro do contribuinte. Então, a arrecadação de Mandaguari, que é ótima, mas ela é feita pelos contribuintes do município, não é dinheiro que o governo federal ou estadual manda pra administração daqui. Por isso, é necessária uma seriedade um pouco maior.

Presidente, o que você acha que da pra imaginar com relação a vacina? Você acredita que vai chegar à uma parte da população? Porque fazemos o exercício, 7 bilhões de pessoas na Terra, então 14 bilhões de doses, pois são duas doses para cada um.

Primeiro eu acho que devemos despolitizar isso, devemos deixar quem sabe sobre o assunto cuidar disso. Ela vai chegar, do mesmo modo que a pandemia chegou depois no Brasil. Eu achei inteligente a medida que se for validado o processo nos outros países que já tem órgãos reguladores muito mais eficientes que os nossos, e nós temos que reconhecer isso. O que nós precisamos entender é que logo de cara, a vacina não vai chegar pra 200 milhões, mas ela vai chegar gradativamente pras classes que são mais arriscadas. Os funcionários da saúde, por que eles tem que ser os primeiros? Porque se eles não estiverem bem pra cuidar da nossa população, quem vai? Se nós tivermos esse afastamento de pessoas que geram um quadro, eles acabam comprometendo o atendimento de algumas pessoas.