Pesquisa do Procon aponta variação de até 28% no preço do arroz em Mandaguari

Quem vai aos mercados com frequência notou, nas últimas semanas, alta nos preços de diversos alimentos que fazem parte diariamente da mesa do brasileiro. Não é apenas impressão. De fato, comer em casa está mais caro. A sazonalidade de alguns produtos pesa, sim, mas desta vez há registro de forte aumento em itens essenciais da cesta básica. Arroz, feijão, leite e óleo de soja são alguns dos alimentos que registram maior alta na inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dados divulgados nesta semana pelo Instituto confirma a tendência. Comer em casa está 11,39% mais caro no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em agosto, ou 6,1% apenas em 2020. Para se ter ideia, o índice geral do IPCA acumulado nos últimos 12 meses é de 2,44%, e no ano está em 0,7%.

Em Mandaguari, pacote de arroz custa quase R$ 30

Uma pesquisa feita pelo Procon de Mandaguari ao qual a reportagem teve acesso exclusivo mostra que na cidade o preço dos alimentos também subiu. Um pacote de arroz pode chegar a R$ 29,98, enquanto um litro de leite pode ser encontrado a R$ 4,99. O pacote de um quilo de feijão chega a R$ 8,99, enquanto o açúcar cristal de cinco quilos pode sair a R$ 11,98, o óleo de soja a R$ 6,79, e a carne bovina, como coxão mole, por exemplo, custa até R$ 32 o quilo – confira a tabela com a pesquisa do Procon mais abaixo.

O advogado Thiago Silva, coordenador do órgão de defesa do consumidor no município, explica que serão realizadas pesquisas a cada 15 dias nos preços dos alimentos no município. O objetivo do órgão é fazer um comparativo com os preços praticados antes da pandemia, e punir estabelecimentos onde forem detectados abusos.

Silva também encaminhou à reportagem uma nota na qual o Procon de Mandaguari, em conjunto com a Associação Brasileira de Procons, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Comissão Especial de Direito do Consumidor e Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor e demais entidades, solicitando que o governo faça uma intervenção para conter os aumentos.

Levantamento feito pelo Procon de Mandaguari mostra variação de preços dos alimentos
em estabelecimentos da cidade
. Foto: Reprodução/Procon

 

Brasileiro ganha em real, mas almoça em dólar

Para entender a alta dos preços, o Portal Agora conversou com Emerson Pinhati, professor e doutorando em ciências econômicas. Segundo ele, há vários fatores influenciando. “O arroz é uma commodity, ou seja, um produto que é comercializado mundialmente. No mundo, os maiores produtores de arroz estão no período de entressafra, então está faltando. É a lei de oferta e procura. Na outra ponta, nós temos um efeito promovido pelo auxílio emergencial, que injetou dinheiro no mercado, e então a procura pelos produtos da cesta básica está grande. De um lado a oferta está baixa, do outro a procura alta, então o preço sobe, ele tende a aumentar”, explica.

“Isso que eu falei também acontece muito com a carne, só que a carne, diferente do arroz, nós produzimos em grande quantidade. A carne a gente exporta, existe toda uma cadeia produtiva que quer vender para o exterior, porque com o dólar mais alto fatura-se mais. O Brasil tem oferta, tem carne pra vender, então nesse sentido também se aplica a busca, o aumento da demanda promovido pelo auxílio emergencial. As pessoas estão comendo mais carne, e os produtores continuam mandando mais produto pra fora, então falta aqui no país”, complementa.

“Para concluir, falando sobre o leite. Estamos em um período de poucas chuvas. O campo, o pasto, está fraco, então há uma redução natural da produção de leite, e o preço aumenta. Ele é um ponto fora da curva nesse processo. Açúcar, óleo de soja, esses produtos nós temos oferta, estamos ofertando pro mercado externo em detrimento do dólar alto. Nosso consumo está elevado”, ressalta.

A alta dos preços de produtos da cesta básica tem gerado uma série de repercussões. Nesta semana, o governo anunciou que vai zerar o imposto de importação sobre o arroz, como forma de conter o aumento. Segundo Pinhati, a medida ajuda, mesmo com o dólar mais alto. “No caso específico do arroz, sim. Você tirando a taxa, mesmo com o dólar alto, o produto chega mais barato. Supondo que o importador compre um pacote a R$ 10 com o dólar nesse patamar. Se tem 40% de taxa, já subiria pra R$ 14, mas se o governo zera o imposto, paga-se só os R$ 10 e dá pra fazer um preço mais em conta”.

Preços devem normalizar apenas em 2021

A reportagem também ouviu trabalhadores de supermercados. Na última semana, o Ministério da Justiça cobrou o setor para que justifique os aumentos. No entanto, os supermercadistas explicam que há toda uma cadeia produtiva por trás dos preços dos produtos, e que os estabelecimentos já adquirem os produtos mais caros.

“No caso do arroz, agora só está sendo vendido pelo produtor o que há em estoque nos silos. Por causa da entressafra, como não há a colheita agora, acreditamos que o preço deve cair apenas em fevereiro ou março de 2021”, explica Renata Morgante, gerente da loja Verona Supermercados em Mandaguari.

Renata contou à reportagem que o estabelecimento notou o aumento dos preços do arroz ainda no começo de agosto. “Já naquela época nós fomos investigar, e vimos que, por conta do dólar alto, os produtores estavam exportando arroz, mais do que reservando pro mercado interno. Com aumento na procura, a oferta fica defasada em relação à demanda”, comenta.

A gestora explica também que a pandemia tem grande peso sobre os preços. Desde o início do período de quarentena, alguns alimentos tiveram alta expressiva e oscilação nos preços. “Como os ovos, que lá atrás tiveram uma alta, mas depois estabilizou”, complementa.

Há chance de faltar produto?

Ainda ao Portal Agora, Renata explica que não há chance de faltar produtos. “Aqui na loja algumas ofertas nós limitamos a quantidade por cliente. Nesse final de semana, por exemplo, conseguimos colocar em oferta um pacote de arroz por R$ 17,98, mas limitamos o número de unidades por cliente, para evitar que uma pessoa só venha e compre o estoque todo, fazendo assim com que todos consigam consumir com preço mais em conta. Mas a limitação ocorre pela questão do preço, não pela chance de faltar produto. Tem produto, sim, não deve faltar”, relata.

Alta causou desgaste em setores do governo federal

O aumento expressivo acabou desencadeando forte reação política, com o governo tomando medidas para tentar equalizar a situação, como a suspensão de tarifas de importação. E o Ministério da Justiça cobrou os supermercados para que justifiquem os aumentos, gerando desgaste com o Ministério da Economia, que rechaça qualquer possibilidade de intervenção nos preços.

Há pressão de alguns setores para que o presidente Jair Bolsonaro faça intervenção nos preços, mas na última sexta-feira, em transmissão ao vivo nas redes sociais, ele disse que não vai interferir no mercado e nos preços do arroz. Enquanto os preços não caem, o consumidor segue com uma cesta básica indigesta.