O futuro de Mandaguari em boas mãos

Depositar toda a responsabilidade de um futuro melhor e próspero nos jovens não é novidade para ninguém, e para os mais novos, o conceito de ser o futuro do país já é uma coisa intrínseca. Os jovens mandaguarienses não têm deixado a desejar quando a questão se tornar profissionais determinados e apaixonados pelo que fazem para o município.

 

José Guilherme Pinhatti Carrasco, de 18 anos, estudante no Colégio Integral até o ano passado, é um dos jovens que pretendem fazer deste lugar uma cidade melhor. Ele foi um dos 734 alunos que realizaram as três provas do PAS (Processo de Avaliação Seriado) da UEM (Universidade Estadual de Maringá), e obteve a terceira melhor nota (1.460 pontos). O processo seriado é direcionado exclusivamente aos estudantes do ensino médio e recebeu mais de 24 mil inscrições ao todo. As provas são aplicadas todos os anos e os alunos devem realizá-las do 1° ano ao 3° ano do ensino médio e elas são aplicadas em 11 cidades do Paraná com candidatos de diversos municípios. No ranking de dez primeiros colocados na Etapa 3 do PAS, o jovem ficou em quarto lugar.

 

Medicina é o curso mais concorrido da UEM e, em entrevista a reportagem do Jornal Agora, José Guilherme conta que esta sempre foi sua primeira opção de curso. “Na minha família meu pai é advogado, a maioria dos meus outros familiares também, e a pressão para que eu fizesse Direito sempre foi muito grande. Mas eu sempre gostei muito de Medicina, e então sempre foi algo inato desde criança para mim”. A rotina de um vestibulando do PAS é diferente da dos outros alunos que não participam deste processo seletivo, isso pois eles realizam uma prova no final de todos os anos do ensino médio, por três anos consecutivos.

 

O calouro conta que sua rotina, por mais que tenha sido corrida nos últimos três anos, nunca foi um empecilho para que este conseguisse prezar seus momentos com famílias e amigos. “Minha rotina era muito corrida e o PAS pede dedicação durante os três anos do ensino médio, é claro que a rotina vai ficando mais pesada conforme as etapas vão passando pois nós começamos a nos preparar também para o Vestibular. Só que foi necessário manter uma rotina bem rígida de estudos. Eu não gosto de estipular horas pois a nossa rotina muda conforme as necessidades, e eu acho que cada pessoa lida com os estudos de uma maneira diferente. Eu precisava estudar muito para fixar os conteúdos, e eu sou bem detalhista, me apego muito aos detalhes, o que talvez não tenha sido o diferencial para que eu passasse, mas para mim era uma coisa que fazia sentido. Nesse terceiro ano, com essas incertezas todas tendo que estudar por conta própria, acabou aumentando bastante minha carga horária.

 

Nos últimos tempos, médicos e os profissionais da área se mostraram muito mais do que essenciais, porém este fator não foi suficiente para que as coisas ficassem mais fáceis ou leves para aqueles que tentavam entrar nesse longo caminho que é o estudo da medicina. Carrasco relata suas dificuldades, mas não deixa de lembrar como foi privilegiado com relação a maioria dos estudantes brasileiros. “Foi muito difícil exatamente por todas essas incertezas, só que reconhecer privilégios é uma coisa muito importante e durante essa pandemia eu tive muitos. Eu pude contar com um ambiente saudável para estudar, tive aulas durante a pandemia inteira, tive suporte pedagógico, apoio dos meus pais e acesso a livros, internet, e isso é uma coisa que em um país desigual como o Brasil, a maioria dos jovens não teve. Então apesar da dificuldade de estudar muitas horas, de ter que ter um esforço muito grande, também é importante ressaltar todos os privilégios que eu tive para conseguir a aprovação”.

 

Renata Camargo Oliveira Ignácio, de 18 anos, até o ano passado estudante do Colégio Estadual José Luiz Gori, foi uma das oito aprovadas em Economia na UEM através do PAS. Ela é natural da Bahia, mas mudou-se para Mandaguari com sua família no início de sua adolescência. Por mais que sempre tivesse sonhado em estudar na universidade maringaense, Renata contou à reportagem que seu curso de desejo não era algo certo. “Nunca fui uma daquelas pessoas que sabe desde criança o que quer fazer da vida e eu tinha muita preocupação em descobrir logo qual curso eu faria. A pandemia na verdade me ajudou nessa questão, porque nesse tempo de isolamento eu fiquei confinada em casa e acabei passando por um momento de autoconhecimento, de descobrir coisas que eu realmente gosto e aquilo que eu me vejo fazendo no futuro, e esse caminho de um mundo de opções acabou se afunilando na economia, é uma área que me cativa. Na verdade, eu sempre quis estudar na UEM, mas eu morava na Bahia, então era inviável para mim, mas, graças a Deus, Ele abriu portas que me possibilitaram vir para o Paraná, e hoje tenho o maior orgulho em dizer que sou caloura da UEM. Impossível definir em uma palavra a sensação, é mais uma mistura de vários sentimentos.”
 

A jovem, ao contrário de José Guilherme, viu em sua realidade uma necessidade diferente. “Logo que as aulas acabaram eu fiquei um pouco ansiosa em ter que estudar sozinha justamente para um vestibular tão difícil, então eu sabia que precisaria me esforçar em dobro. Estudava por volta de 12h todos os dias, estava sempre lendo, buscando ajuda de alguns professores que ainda estavam disponíveis. Também foi um tempo de abrir mão de algumas coisas como tempo em família, com amigos, nas redes sociais e outras coisas em prol da aprovação. Não é fácil, mas é necessário”, relata ela.

 

Em algum momento a desistência já passou pela cabeça de todo e qualquer estudante. A pandemia com certeza fez com que esse sentimento fosse constante na maior parte das vezes, as provas do PAS foram adiadas durante quatro meses, o vestibular por cerca de um ano, e esses são fatores que com certeza desanimou os estudantes, porém não foi o suficiente para abater uma meta bem estipulada. “Eu sempre digo que desistir nunca é uma opção para qualquer coisa que você faça na vida, quando a desistência é opção ela se torna atrativa. A motivação eu criava todos os dias pensando que o sono, cansaço físico e mental não superaram a alegria e o orgulho que eu sentiria em ver meu nome na lista de aprovados, então eu focava nisso e tentava lidar com o resto da melhor forma possível”.

 

Ela finaliza a entrevista falando sobre a área que pretende atuar na economia. “Acredito que no curso de fato isso não será um problema, mas no mercado de trabalho posso enfrentar alguma resistência por ser mulher em um mundo predominantemente masculino, mas isso não me intimida, conquistarei o meu lugar com muito trabalho e esforço independente de qualquer coisa”.

 

Maria Eduarda de Freitas Castro, de 17 anos, também era estudante do Colégio Gori e foi colega de sala de Renata durante os três anos do ensino médio. Mas diferente da amiga, Maria teve um bom resultado no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), onde obteve 920 pontos na redação, uma nota altíssima visto que a nota máxima é 1000 pontos. Utilizando sua nota no processo seletivo do Sisu, sistema que oferece vagas em universidades públicas sem precisar fazer o vestibular, a jovem conseguiu uma vaga na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) no curso de Engenharia Civil. Segundo ela, a escolha do curso veio após uma reforma em sua casa. “Eu ia todos os dias ver a obra, acompanhava os projetos e acabei me apaixonando pela Engenharia Civil”, conta ela.

 

Tendo como únicos meios de estudo as aulas online e seus estudos por conta própria, Maria Eduarda aproveitou cada um dos recursos que pôde usufruir. “O ano passado foi um ano muito atípico, então, por mais que fosse difícil eu sempre tentei acompanhar as aulas de casa, às vezes estudar um pouco por fora para obter mais conhecimento, mas consegui manter o foco. Minha técnica para conseguir estudar e não desistir foi manter o foco, conversar com os professores, assistir às aulas, por mais difícil que fosse, ainda mais em escola estadual que não foi um processo tão fácil, e acredito que como nem todo mundo tinha acesso foi muito difícil pros professores também, mas eu tentei sempre acompanhar as aulas e ficar por dentro do que estava sendo aplicado no colégio”.

 

Antes que o resultado fosse divulgado, Maria Eduarda conquistou uma bolsa de estudos em uma universidade particular e iniciou com antecedência seus estudos na engenharia civil, o que não diminuiu sua felicidade ao ver que havia sido uma das aprovadas através do sistema. “Quando vi meu nome entre os aprovados, eu nem esperava na verdade, me enviaram um e-mail e quando eu vi eu fiquei em choque”, conta ela.

 

Assim como os outros estudantes, Maria Eduarda tem esperanças altas para seus próximos anos. “Espero que sejam 5 anos maravilhosos, sei que serão difíceis, mas eu vou me dedicar ao máximo para conseguir alcançar meus objetivos e tenho ótimas expectativas e espero alcançar todas”, ela diz.

 

*Reportagem publicada na 365ª edição do Jornal Agora