O bairrismo às avessas

Bairrismo é um sentimento historicamente controverso. Enquanto alguns encaram essa característica como uma qualidade que valoriza e ajuda melhorar o local onde se vive, outros a interpretam de forma oposta. Eu particularmente fico com a segunda opção. Para mim, acreditar que algo ou alguém é melhor que os demais pelo simples fato ter sua origem em uma determinada localidade soa um tanto incoerente.

Quando levado ao extremo, e extremismo é uma coisa cada vez mais presente na sociedade atual, o bairrismo limita a visão de mundo, fazendo com que as pessoas se fechem para tudo o que vem de fora. Com isso, deixam de assimilar as boas influências externas e correm o sério risco de viver na mediocridade em nome do que chamam de amor por sua terra.

Entendo, porém, que gostar do lugar onde vive é o mínimo que se pode esperar de qualquer cidadão. Salvo raras exceções em que por motivos de trabalho, saúde ou questões familiares a pessoa é obrigada a residir em uma determinada cidade, todos podem escolher onde querem morar e não se justifica viver num local em que não se goste ou onde não se sinta devidamente acolhido.

Nos últimos tempos, no entanto, vem crescendo por aqui algo que se assemelha a um bairrismo às avessas. Seja por interesses políticos, por conveniência ou simplesmente para “surfar a onda do momento”, vejo cada vez mais pessoas se esforçando para desmerecer o que é daqui. Na visão – ou no discurso – desses “cidadãos”, tudo que é local acaba sendo nivelado por baixo. Comércio, indústria, agricultura, serviços, lazer, governantes, imprensa, pessoas, nada presta…

Mesmo não sendo bairrista, gosto muito de morar em Mandaguari e acho essa cidade incrível apesar de todos os problemas que ela tem. Aliás, alguém é capaz de apontar uma cidade sequer do Brasil que não tenha problemas? Como disse anteriormente, não dá pra ser hipócrita ao ponto de dizer que Mandaguari é ou está um paraíso, mas daí a se tornar um crítico contumaz de tudo e de todos aqui radicados é um tanto exagerado, ainda mais quando esse bairrismo às avessas esconde outros interesses.

Antes de sair apontando nosso dedo e dizendo que isso ou aquilo não presta, que vendedor da outra cidade atende melhor que o daqui, que as empresas de lá oferecem mais oportunidades que as de cá, que o povo de não sei onde é mais acolhedor ou que o capim do outro lado da cerca está mais verde que o do lado de cá, é bom sair da zona de conforto e ir até lá se certificar se isso realmente procede. Se for mesmo verdade, há duas opções a fazer: dar sua contribuição para mudar este cenário ou fazer a sua trouxa e procurar um novo rumo.

Eu escolhi morar aqui e pelo menos a curto prazo não tenho planos de me mudar. Dentro das minhas possibilidades, sempre procurei dar minha contribuição para fazer desta uma cidade melhor. E você que é mestre em criticar, já fez alguma coisa além de reclamar nas redes sociais?

*André De Canini é jornalista há mais de 25 anos, tem especialização em Comunicação, Publicidade e Negócios e é proprietário da Semiótika, empresa que atua na produção de conteúdo jornalístico e publicitário, assessoria de imprensa e desenvolvimento de estratégias para comunicação corporativa e institucional.