“O azul autista no meu mundo rosa”

Há aproximadamente seis meses, se misturou ao nosso mundo rosa o diagnóstico de tom azul. O azul do transtorno do espectro autista, o TEA.

Parece jargão, mas é a pura verdade: só sabe o que é o autismo quem convive com um autista. As dificuldades de comunicação, as risadas histéricas, os gritos, as crises frente aos muitos estímulos visuais, táteis ou auditivos, a necessidade de uma rotina rígida, as manias e o estar alheio às coisas cotidianas faz de nós, humildes pais, pessoas pequenas frente à grandeza de uma criança que além do nosso, ainda possui um mundo muito particular, lúdico e único.

Apesar do diagnóstico de grau leve, o azul autista veio com um peso muito grande, desses que a gente acha que não vai dar conta. Grande nos medos de não saber lidar com as dificuldades do dia a dia, das dificuldades financeiras, de como será o futuro e o pior: no medo do preconceito, da falta de empatia e da exclusão, afinal, vivemos num mundo muito frio e estranho ultimamente.

Mas o azul autista também tem sua luz na escuridão. Luz através dos profissionais que passaram a fazer parte do nosso cotidiano e se tornaram quase membros da família. O neuropediatra que mostra o caminho a seguir, a psicóloga que ajuda entender o comportamento, a fonoaudióloga que auxilia na fala, a terapeuta ocupacional que orienta quanto aos estímulos sensoriais e, finalmente, a escola, sempre pronta a acolher. Com o apoio dele os medos vão se amenizando, o caminho parece menos pedregoso e a esperança na humanidade volta a florir.

Além disso, o azul autista também nos tira da zona de conforto, pois nos obriga a estudar, pesquisar e buscar o conhecimento diário sobre um assunto que até então nos era alheio e desconhecido. A pesquisa no Google, as cartilhas e a troca de experiências dos grupos de mães do Facebook passaram a ser uma constante e assim vamos evoluindo enquanto pessoas, enquanto profissionais e enquanto pais de uma menina para lá de especial e amada.

Por fim, o TEA nos mostra grandes vitórias nas pequenas coisas e nos pequenos gestos. Uma pequena frase dita com perfeição, o atendimento a um comando, a manifestação da vontade, um “tchau” dito espontaneamente, um abraço, um beijo, enfim, coisas que as vezes passam despercebidas aos outros pais, para nós, pais de uma criança com TEA, são de um valor inestimável e trazem uma alegria muito grande.

A vida depois que o azul autista nos foi apresentado mudou de rumo, nos tornou mais fortes, mais tolerantes, mais esperançosos e as alegrias dos pequenos progressos são tão constantes quanto as dificuldades diárias.

É como diz o ditado: “não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”. Tudo é experiência, e com fé a gente vence os obstáculos.

Josiane Pires Viana é mãe da Heloísa. Graduada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e especialista em Direito Público pela Unicesumar e advogada atuante nas áreas trabalhista, cível, consumidor e previdenciária