Moradores criam grupo para reivindicar melhorias nas estradas rurais

Há cerca de seis meses, um grupo de mandaguarienses foi criado no WhatsApp. Intitulado “Estradas rurais de Mandaguari”, o grupo conta com 44 membros que utilizam as estradas rurais do município. Entre os integrantes, estão ainda o prefeito, Romualdo Batista, o vice-prefeito, Ari Stroher, vereadores e o secretário de Agricultura e Abastecimento, Luis Felipe Cavalheiro Martvi.

Nas conversas, os assuntos são variados, mas o principal é sem dúvida a condição das estradas. Reclamações sobre a má conservação das vias são recorrentes. Um dos membros, que visita a zona rural para trabalhar, foi enfático ao escrever que “algumas estradas estão boas, não queremos generalizar, mas muitas estão terríveis. Certos momentos, preciso ir até propriedades em dias de chuva, e é muito difícil. Digo até sobre as pontes, estamos em uma época moderna dessa e ainda encontramos pontes de madeira”.

Outro integrante do grupo, que mora na zona rural da cidade, também reclamou. “Várias estradas estão em situações deploráveis. Utilizo muito as estradas Cambota e Promessa, e é uma situação extremamente complicada. Em dia de chuva fica intransitável. É meu único meio de ir até à cidade, de me locomover, e acabo ficando de mãos atadas.”

A união de tantos moradores em um mesmo espaço não foi por engano. Todos são diretamente afetados pelas estradas, dependem dela em seu dia a dia. Além disso, os moradores compartilham da mesma vontade: a de buscar respostas e melhorias. “A criação deste grupo é apenas um dos passos que estamos dando, com o objetivo de reivindicar melhorias, de pressionar a administração pública para que algo seja feito na zona rural da nossa cidade. Não estamos pedindo algo impossível ou que não é da competência deles, muito pelo contrário. Estamos no nosso direito de reivindicar melhorias nos serviços que são prestados a nós”, declarou.

Estrada Cambota

Na última quinta-feira (11), a reportagem do Jornal Agora visitou algumas estradas rurais do município, incluindo a Estrada Cambota, uma das campeãs de reclamações. Apesar de a visita ser feita em um dia ensolarado, era possível observar trechos com muito barro.

Em outros, as pedras soltas eram o problema. No trecho paralelo à Rodovia do Contorno de Mandaguari, a estrada era muito estreita. De um lado, a pista, do outro, um barranco.

Durante o trajeto, paramos para conversar com Alberto Fuentes Knupp, morador da Estrada Cambota há 13 anos, ele é pecuarista. “Olha, para ser bem sincero, a estrada sempre foi ruim. Não vou diariamente para o centro da cidade, mas quando vou, são mais de duas vezes ao dia. Além disso, preciso da estrada para trabalhar. A cada três dias, o caminhão vem buscar o leite que produzimos, depois chega a carga de ração para os animais, então temos essa necessidade que a estrada esteja em boas condições”, contou.

Quando perguntado sobre o que acha que precisa ser mudado no local, Knupp foi enfático em dizer que falta manutenção no local. “Faz quase dez anos que jogaram cascalho nessa estrada, desde então não passou mais uma máquina por aqui. Desde então, eles estão apenas patrolando [utilizando a máquina motoniveladora para melhorar o pavimento da estrada], só que não é suficiente, uma chuva vem e leva tudo. A chuva forma o que nós chamamos por aqui de ‘panela’, que são poças enormes pelo caminho.”

Knupp garantiu que seu pedido de melhorias na estrada não é impossível. “Eu só preciso de uma estrada boa, onde eu consiga transitar sem acabar com meu carro. Uma estrada onde eu possa trabalhar sem me preocupar com veículo quebrado ou preso em buracos pelo caminho. Então esse é meu único pedido, que o município me respeite enquanto cidadão que paga seus impostos e faça manutenções periódicas nas estradas”, finalizou.

Estrada Rio Branco 

Em seguida, passamos pela Estrada Rio Branco. Por lá, cruzamos uma ponte de madeira que, em dias de chuva e aumento do nível do rio, sofre instabilidade.

Quanto a estrada, o caminho continuou com pedras irregulares. Transitável, mas em alguns trechos passamos com muita dificuldade, por conta da irregularidade do pavimento.

Estrada Rochedo

Elogiada pelos moradores como sendo referência no município, a Estrada Rochedo é completamente diferente das demais estradas da cidade. Em um estado de conservação muito grande e com um pavimento de qualidade, é muito fácil trafegar no local.

Os barulhos e “balanços” que os carros davam nas estradas anteriores, não são sentidos nessa. O carro dá a impressão de deslizar pela Estrada Rochedo, sem apresentar problema nenhum.

Os trabalhos foram intensificados na estrada por conta das diversas granjas de frango que estão instaladas no local. “Entendemos que as granjas são importantes, que essa estrada é importante, mas todas as outras também são. Os outros produtores, agricultores e pecuaristas também querem ser assistidos, atendidos, amparados pelo município”, disse um morador.

A ponte que cruza a Estrada Rochedo, hoje de madeira e em más condições, ficará por lá por pouco tempo. Isso por que o município garantiu que já conseguiu as vigas e, em breve, a mesma será de concreto.

Estrada Alegre

A última estrada que visitamos fez parte do projeto “Estradas do Crescimento”. Criado em 2015 pelo município, o objetivo era colocar pedras irregulares em cinco estradas: Alegre, Vitória do Alegre, Vitória do Meio, Vitória de São Pedro, Dourados e do Horto. A obra, financiada com recursos próprios do município, levaria o calçamento a 14 quilômetros de estradas rurais.

Apesar de parecer mais duradouro, este tipo de pavimentação também demanda cuidado frequente, para que as pedras não se soltem, danificando veículos e machucando pedestres.

Em alguns pontos da estrada, pudemos observar um desgaste das pedras. Algumas pareciam estar “afundadas”, deixando trechos irregulares ao longo de toda a via.

Câmara de Vereadores

Em contato com a Câmara de Vereadores de Mandaguari, perguntamos sobre os requerimentos realizados pelos parlamentares que visam melhorias a zona rural do município. Dos 85 requerimentos gerados neste primeiro semestre de 2019, 11 deles foram voltados à zona rural do município.

Confira a seguir a nota oficial enviada pelo órgão: “O pedido de melhorias nas estradas rurais foi tema de quase 13% dos requerimentos dos vereadores da Câmara de Mandaguari nas 17 sessões ordinárias de 2019.

Desde o início do período Legislativo, os parlamentares, nas atribuições que lhe cabem sobre a solução dos problemas de tráfego nas vias rurais, geraram 11 pedidos formais em plenária ao setor responsável da Prefeitura de Mandaguari, pedindo desde a substituição de pontes, até a implantação de galeria e pavimentação e revestimento com cascalho em, pelo menos, 11 estradas rurais.

Os requerimentos que contemplam o tema são: 004, 010, 011, 012, 014, 017, 046, 053, 062, 071, 073 e 076, todos de 2019; os materiais podem ser conferidos no site da Câmara.

Secretaria de Agricultura e Abastecimento

Procuramos o secretario de Agricultura e Abastecimento, Luis Felipe Cavalheiro Martvi, para sabermos mais detalhes sobre as estradas rurais do município e um posicionamento sobre a reclamação dos moradores.

Em entrevista, o secretário afirmou conhecer os problemas das estradas rurais do município. “Atualmente Mandaguari tem cerca de 400 quilômetros de estradas rurais. Hoje, nossa realidade é completamente diferente do cenário que tivemos há alguns anos atrás. Por exemplo, se você observar o número de protocolos que temos desde 2014 até os dias de hoje, diminuíram muitas as reclamações, os casos de carros atolados e tudo mais. Costumo dizer que existe o transitável e o confortável, e as estradas da nossa cidade são transitáveis”, afirmou.

Ainda de acordo com o secretário, existem fatores que interferem nas condições das estradas. “Temos uma topografia muito acidentada. Ou seja, são áreas com superfície ondulada, irregulares. Isso já dificulta bastante a manutenção das estradas. Junto a isso, temos a intensidade de chuvas que, querendo ou não, acaba afetando. Além disso, reconheço que nossa estrutura não é suficiente para fazer todas as adequações necessárias.”

Ao longo da entrevista, o secretário afirmou ser digna a reivindicação dos moradores. “Se algo está ruim, tem que reclamar mesmo. Também sou usuário da zona rural, conheço de perto essa realidade, mas te digo que durmo com a consciência tranquila, pois sei que estamos trabalhando. O dia em que eu estiver com a equipe parada, mesmo tendo serviço para fazer, então ficarei incomodado”, afirmou.

Para finalizar, o secretário deixou um recado aos moradores da zona rural. “Estamos trabalhando por áreas. Não posso fazer serviço em uma estrada, depois ir para outra e então retornar para a primeira. O deslocamento do maquinário não é algo fácil. Por isso nós vamos para uma estrada e fazemos todo o serviço lá. Depois, vamos para outra, e assim vai. O município está investindo dinheiro e nossa equipe está na rua. Se alguém está se sentindo desassistido neste momento, peço que tenha um pouco mais de paciência, pois chegaremos lá o quanto antes. E eu estou à disposição, aqui na secretária, para atender quem precisar de algo”, finalizou.

*Reportagem publicada na 310ª edição do Jornal Agora