Máscara, a “aminimiga” da população

No Brasil não existia uma cultura de se usar a máscara de proteção para prevenir vírus e resfriados em lugares públicos, como ocorre em países como Japão. No país asiático é comum as pessoas usarem máscaras em lugares públicos quando estão com doenças contagiosas, por exemplo, gripes e resfriados, mesmo antes da pandemia da Covid-19 e por isso segue sendo um modelo na propagação do coronavírus, hábito no qual poderíamos ter nos inspirado.

As máscaras acabaram se tornando “aminimigas” – termo que é uma junção de “amigo” e “inimigo”, e se refere a algo ou alguém que combina as características de um amigo e de um inimigo, e nesse caso se encaixa perfeitamente na relação de amor e ódio que o brasileiro tem com o acessório, já que ao mesmo tempo em que ela nos protege, também gera alguns incômodos, como a dificuldade em respirar, e as lentes embaçadas no caso de quem usa óculos.

Mesmo que o número de pessoas que usam máscaras em lugares públicos esteja baixo, tanto no Paraná quanto no Brasil todo, quem confecciona o item tem registrado alta em números. Dados divulgados pela Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg) mostram que a produção de máscaras do tipo PFF2, considerada a mais eficaz para prevenir a transmissão do novo coronavírus, triplicou em um ano. O salto foi de 11 milhões de unidades em fevereiro de 2020 para 34 milhões em fevereiro de 2021.

Segundo a Animaseg, em fevereiro de 2020 os hospitais consumiam cerca de 1 milhão de unidades da máscara PFF2 por mês. Em fevereiro deste ano, esse consumo aumentou dez vezes, para 10 milhões por mês. E a demanda continua aumentando, tanto em hospitais quanto para a população em geral, devido à obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção em estabelecimentos.

Os números mostram um mercado que tem gerado emprego e renda para muita gente. É o que conta o empresário mandaguariense Fernando Amorim. Dono de uma empresa especializada em fabricação de uniformes, ele adaptou e ampliou sua linha de produção para comercializar máscaras cirúrgicas e produtos descartáveis durante a pandemia.

No começo a empresa não estava conseguindo dar conta de produzir todos os produtos dessa linha e teve que se organizar melhor para que não faltasse matéria-prima. “Muitas pessoas não acreditavam na pandemia, e em março quando chegou as informações estávamos até tranquilos porque tinha bastante estoque de matéria-prima para continuar a fabricação por até 30 dias, mas tão logo ela se agravou e o estado de Santa Catarina se fechou, e nossos fornecedores eram de lá, ficamos desesperados, com medo de faltar. Tínhamos uma equipe de mais ou menos 25 pessoas e tivemos que dispensar algumas pela falta de trabalho e isso nos trouxe muitas dúvidas sobre o futuro”, relata Amorim.

Apesar do começo da pandemia ter um peso muito forte nesse sentido, dentro de um ano a empresa se reinventou e continuou trabalhando no mesmo ramo. Tanto que atualmente a fábrica recebe trabalho 24 horas, e já contratou 100 funcionários somente nesta sessão. “A nossa capacidade produtiva atual está em torno de 400 a 450 mil máscaras por dia, nós automatizamos todo o nosso processo e isso foi tão em larga escala que aumentamos exponencialmente muito rápido e precisamos de muitas pessoas para fazer o trabalho. E esse número pode ainda aumentar”.

Na primeira onda da pandemia a escala de produção aumentou, e, com a demanda sempre em alta, a empresa teve que se reorganizar e inovar. Em um primeiro momento, conta Amorim, a empresa focou em vender os materiais para consultórios odontológicos. Já na segunda onda, a empresa passou a confeccionar itens somente para a área hospitalar, por conta do aumento na demanda, com o crescimento do número de doentes. “Por orientação da OMS [Organização Mundial da Saúde] e pelo fato de as máscaras serem seguras, nós estamos vendo que a população está usando mais nessa segunda onda, então somamos na parte odontológica, hospitalar e uso pessoal”.

Perguntado sobre uma possível falta de matéria-prima no futuro para fabricação das máscaras ele nega.  “Existem altas e baixas neste contexto. No início tivemos dificuldade para obter matéria-prima, mas agora estamos com parcerias que nos fornecem, e hoje não vemos dificuldade em manter a produção. Material não é mais problema pra gente”.

Ele também comentou sobre a diferença dos preços das máscaras a um ano atrás e atualmente, “Um ano atrás custava mais ou menos R$ 1,60 unitário e houve um preço final de R$ 0,50 e vai mudando de acordo com o produto que é descartável. Atualmente vemos alguns fornecedores da matéria-prima vendendo por preços abusivos e sempre brigamos por isso, e mesmo assim as vendas só crescem”.

“Nossas caixas de máscaras descartáveis apresentam uma mensagem de agradecimento aos profissionais da área da saúde e também para as pessoas que perderam familiares para a doença. E com esse ramo das máscaras criamos uma nova empresa. Várias famílias dependem desse trabalho e nós continuamos nessa batalha para que possamos prosperar contra a doença e que superemos tão logo esse momento difícil”, conclui o empresário.