“Isolamento não pode ser confundido com desamparo”
Em junho estamos chegando a 90 dias de distanciamento social em Mandaguari e cidades da região. Uma grande parcela da população voltou ao trabalho com a flexibilização de medidas, mas a rotina continua diferente, sem previsão de retorno a um “normal”.
Sem poder frequentar alguns locais de lazer ou até mesmo realizar reuniões, churrascos e festas, muita gente viu os hábitos do cotidiano mudarem de forma drástica, o que causa sérias consequências à saúde mental.
O volume grande de informações absorvidas diariamente, e o aumento do número de casos – Mandaguari, por exemplo, tinha nove pacientes com Covid-19 até o fechamento desta edição do Jornal Agora – aliados às incertezas trazidas pela pandemia e instabilidade no cenário econômico também contribuem para esse quadro. Nesta semana, o Jornal Agora recebeu o psicoterapeuta e escritor Rogério Thaddeu, para debater o assunto.
“A pandemia aflige a todos nós. Seja em menor ou maior grau. Como profissional da saúde mental, esse é o grande desafio que vamos ter de agora em diante. Existe um fenômeno que a Organização Mundial da Saúde [OMS] classifica como quarta onda, da área da saúde mental, que são os efeitos a nível psicológico. A gente tem observado isso”, comenta.
Segundo o psicoterapeuta, situações causadas pela pandemia, como a privação da liberdade e o isolamento, causam muita angústia. “E tem a questão do medo, seja de adoecer, ou de algum familiar ficar doente. É grande a preocupação nesse sentido. A pandemia potencializa algumas questões como a ansiedade, que passa a durar mais, ser mais intensa, e traz consequências graves”, complementa.
“O isolamento não pode ser confundido com desamparo. A pandemia nos força a ficar em casa e ir de encontro a nós mesmos, então a gente tem que aprender a ‘se suportar’. Isso causa alguns efeitos colaterais, como aumento de consumo de álcool, drogas, o aumento da violência doméstica. O importante nesse momento é buscar apoio”, ressalta.
E como passar pelos momentos de distanciamento social buscando minimizar os impactos na saúde mental? Para o psicoterapeuta, não há uma “receita pronta”, que ajude a resolver. É necessário, segundo Thaddeu, direcionar a energia para novos hábitos, que sejam construtivos. “Além de ouvir e falar sobre o que sente. Recomendo que as pessoas encontrem alguém que as escute. Há quem ache que isso é frescura, mas é essencial falarmos sobre o que sentimos, sobre nossos medos, angústias. Reconhecer o que nos incomoda já é um passo”, detalha.
“Espero que esse distanciamento causado pela perda do contato físico nos ajude a ter possibilidade de se humanizar. Essa é a minha esperança, que a gente saia melhor dessa pandemia. Mais solidários, empáticos”, finaliza.