“Hoje eu estou no paraíso”

Jornal Agora visita propriedade com produção orgânica em Mandaguari, para contar a história do agricultor José Carlos da Costa

Texto: Rogério Curiel, da Redação do Jornal Agora

Nos últimos anos a busca por uma alimentação mais saudável, livre dos habituais agrotóxicos, tem feito crescer a produção de alimentos orgânicos.

A agricultura orgânica é mistura de técnicas e conhecimentos que busca combater as pragas que assolam uma plantação usando o próprio meio ambiente ou misturas que não levam nada de veneno. Na prática, a agricultura orgânica defende o uso de produtos 100% naturais, onde o bem-estar da natureza e das pessoas é tão importante quanto a produção de alimentos.

No sistema orgânico, o agricultor cultiva produtos saudáveis e livres de componentes que possam prejudicar o homem e a natureza. A ideia básica da agricultura orgânica é fornecer alimentos com um valor nutricional, usando substâncias permitidas e liberadas pelos órgãos que regulamentam e fiscalizam a prática. O princípio também requer forragens 100% naturais para o gado e o seu posterior processamento sem sintéticos.

As técnicas também envolvem o cuidado dos trabalhadores do campo e visam manter o equilíbrio harmonioso no meio ambiente, mantendo-o tão vivo e produtivo quanto possível. Os produtores também devem seguir os quatro princípios básicos da agricultura orgânica, da sua essência: saúde, ecologia, equidade e cuidado.

A reportagem do Jornal Agora foi até a Chácara Santa Madalena, localizada no contorno da BR-376 em Mandaguari. A propriedade começa a chamar a atenção pela área verde, com uma mata nativa que predomina mais de 80% de toda a propriedade.

A chácara é do agricultor ecológico José Carlos da Costa, de 50 anos, que está há cerca de 14 anos na produção de verduras orgânicas.  De origem humilde, Zé Carlos não se sente envergonhado ao contar sua história, sobre as dificuldades enfrentadas junto com os seus pais e irmãos. O agricultor, quando criança, chegou a passar fome, além de morar por anos em uma casa precária. Como ele define o atual momento da sua vida, “hoje eu estou no paraíso”.

A busca pela produção de alimentos livres de agrotóxicos, passa pela perda do pai e de uma tia. “Perdi meu pai em 1998 e uma tia alguns meses depois. Os dois morreram em decorrências de um câncer”, conta o agricultor. Após isso, Zé Carlos, que na época trabalhava em uma empresa, sonhava em ter um pedaço de terra para produzir.

Como o passar do tempo o agricultor foi fomentando o sonho, enquanto participava da Pastoral da Juventude, que é um grupo de jovens dentro da Igreja Católica, que tem como uma das suas finalidades o debate e as mudança sociais através de ações junto à comunidade, que serviu como base para que ele tivesse contato com pessoas ligadas a agroecologia.

Em 2006 após se desligar da empresa na qual estava, José Carlos pôde se dedicar ao sonho de se tornar agricultor, e também estudar, principalmente junto ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

A Chácara Santa Madalena, José Carlos toca junto com a esposa Márcia Regina e as duas filhas do casal, Laila e Maria Emanueli. No local há pouco mais de quatro anos, a propriedade tem pouco mais de 23 mil metros quadrados. A produção é basicamente de verduras, com um espaço dedicado a morangos. Todas as plantas que estão em torno dos canteiros fazem parte no controle das pragas, como a mata que cobre boa parte da chácara. Pela reserva tem um caminho que leva até o Rio Keller que passa no fundo da propriedade. As águas do riacho são de suma importância para a produção das hortaliças, e é dele que vem boa parte do que é usado na irrigação. Para isso Zé Carlos fez um sistema com canos, que faz a água do rio ser bombeada por um motor e que em seguida fica armazenada em algumas cisternas também feitas por ele. “Quando me mudei para cá, tivemos que fazer um trabalho de limpeza no rio, que tinha muito lixo”, relata. “Hoje já dá até para pescar por aqui”.

A mata é uma parte importante dentro do sistema, que ajuda no equilíbrio e na proteção do rio, evitando o seu assoreamento. Segundo o agricultor aquele pedaço da propriedade vale ouro. “Esse pedaço é muito importante, eu pretendo plantar alguns pés de frutas para no futuro ter outra fonte renda”.

Para fazer o controle das pragas nos canteiros das hortaliças Zé Carlos usa basicamente uma mistura de detergente neutro com alguns produtos certificados e liberados. Em alguns dos canteiros é comum ver mais de uma variedade plantada, como no caso dos morangos, que dividem o espaço com a plantação de alho, fazendo assim o controle natural das pragas, além da cobertura do solo com uma mistura de palhas e capim secos.

Toda a produção – que hoje é de alface, cenoura, beterraba, alho e morango –  é comercializada na feira de orgânicos na cidade de Maringá, que Zé Carlos faz duas vezes na semana. Segundo, Mandaguari teve uma feira de orgânicos, que durou pouco mais de um ano. “Ainda é impossível competir com os preços, da produção convencional e dos produtos vendidos pelas grandes redes de supermercados”.

“Na produção orgânica cada dia é uma etapa, e para isso precisamos nos aprimorar e nos adequar, principalmente por causa das mudanças climáticas que o planeta vem sofrendo. Algumas técnicas que funcionavam anos atrás, hoje já não tem a mesma eficácia. A agricultura ecológica para mim é um estilo de viver, as vezes não muito rentável, mas é uma busca para um futuro melhor”, finaliza.