Geada pode ter afetado até 15% da lavoura de café em Mandaguari

A última quarta-feira (30/6) foi a madrugada mais fria do ano em Mandaguari. Com termômetros marcando 1ºC, a sensação térmica ficou em -2ºC. Além disso, houve geada não só na cidade, mas em boa parte do Paraná.  De acordo com estimativa do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Iapar-Emater), apesar de a última geada ser considerada média, a longo prazo os estragos podem ser grandes. 
Segundo o extensionista do IDR Sérgio Luiz Zafalon, o instituto ainda calcula a extensão do prejuízo causado pela geada. “Estimamos que pode ter afetado até 15% da lavoura de café”, detalha à reportagem. 
O cafeicultor Fernando Lopes afirma que a estimativa bate com a realidade. “Ainda é cedo pra dizermos com precisão, e devemos ter certeza dentro de alguns dias, mas em algumas propriedades nossas houve perdas de até 30%. Isso deve afetar principalmente a nossa próxima safra, de 2022”, afirma.
Lopes destaca que o inverno começou há pouco tempo, e a possibilidade de novas geadas é grande. “Ainda devemos ter em julho mais uma massa de ar polar, que pode causar mais estragos”, finaliza.

Milho e hortaliças
Segundo Sérgio Zafalon, outras culturas, como hortaliças, e o milho, foram mais afetadas pela geada. “O milho segunda safra sofreu um atraso em decorrência da safra de soja, que foi atrasada por conta de condições climáticas. Boa parte das lavouras de milho estão na fase de floração, frutificação ou maturação, e devido a isso estão mais sucetíveis aos danos causados pelo frio”, conta.
De cordo com dados do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Paraná (Deral/Seab) em todo o Paraná, cerca de 25% do milho segunda safra pode ter sofrido leves danos causados pela geada, enquanto os outros 75% da área cultivada pode ter sofrido perdas significativas de produtividade. 
A segunda safra de milho no território paranaense tem em torno de 1,8 milhão de hectares potencialmente suscetíveis a serem impactados pelas geadas. Essa estimativa de extensão é feita em razão dos diferentes estágios de maturação das lavouras. Historicamente, as regiões Sul, Centro e Oeste são as que têm mais perdas. No Norte do Estado, onde está a maior área da plantação de milho, a ocorrência de perdas devido a esse fenômeno não é comum.
Para as culturas de hortaliças, os impactos ocorrem principalmente para as espécies folhosas devido à alta sensibilidade. 
Ainda segundo o extensionista do IDR, o prejuízo na safra de milho deve impactar diretamente a cesta básica, com aumento de preços entre 5% e 10% ao consumidor. “Com pouca oferta no mercado, a tendência é de que os preços se elevem”, aponta.

Trigo
Por outro lado, as condições climáticas que levaram à geada não atrapalharam os planos dos produtores de trigo. Boletim divulgado pelo Deral nesta semana aponta que o plantio de trigo continua em bom ritmo no Paraná, chegando a 95% da área prevista. No entanto, o atraso no começo da implantação da cultura faz com que apenas 1% das lavouras esteja na fase da floração. As geadas ocorridas esta semana são preocupantes para esse porcentual.
Se forem verificados prejuízos, eles devem se concentrar no Centro-Oeste paranaense, com possíveis danos pontuais no Oeste, Sudoeste e Norte. Para as lavouras localizadas no Sul e Centro-Sul, onde o plantio sequer foi concluído, o fenômeno natural das geadas é positivo neste momento, pois favorece a aclimatação da cultura.

Safra de grãos 2020/2021 deve sofrer redução
O Paraná deve produzir 38 milhões de toneladas de grãos na safra 2020/21, em uma área de 10,4 milhões de hectares. O volume da produção apresenta uma redução de 8% em relação à safra 2019/2020, apesar de a área plantada ser 3% maior.
Essas informações fazem parte do relatório mensal do Deral da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. 
Os números divulgados na semana mostram os efeitos da longa estiagem no Paraná, com perdas significativas na segunda safra de feijão e na produção de milho safrinha. “A redução, no caso do feijão, se deve ao frio, às geadas e, principalmente, à falta de chuva quando o grão mais precisava para o seu desenvolvimento”, explica o chefe do Deral, Salatiel Turra.