Roteiro de uma tragédia

Um grave acidente com vítima fatal registrado na noite da última quarta-feira (14) entre Bom Sucesso e Itambé teve um desfecho ainda mais triste. O caso resultou em uma verdadeira tragédia, com inquérito policial que investiga um feminicídio seguido de suicídio.

A reportagem do Jornal Agora ouviu amigos e familiares dos envolvidos, pessoas que faziam parte da rotina dos dois, e também a Polícia Civil. Nas próximas linhas você confere todos os detalhes do roteiro da tragédia envolvendo a professora Eliane Pedrina Henriques, de 40 anos, e Dalcir Bortolanza, de 65.

A relação

O primeiro ponto a ser esclarecido é a relação entre os dois. A reportagem ouviu pessoas próximas a ambos, e há o consenso de que eram amigos. Se conheciam há alguns anos. Ela era responsável por cuidar diretamente de cinco idosos, sendo eles o pai, a mãe e três tios.

Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que frequentemente Dalcir aparecia para ajudar a professora a resolver questões pontuais, como consertar uma torneira quebrada, por exemplo, ou até auxiliar no cuidado com a família. Por outro lado, há relatos de que Eliane de vez em quando auxiliava o amigo financeiramente.

Eliane foi descrita por amigos e familiares como uma pessoa que tinha muita empatia, sempre disposta a ouvir os problemas alheios e ajudar a resolver. Característica essa que pode ter chamado muito a atenção de Dalcir, que vez ou outra era convidado a acompanha-la em alguma ida a lanchonete, por exemplo, ocasiões em que outras pessoas também estavam junto.

O consenso das fontes consultadas pelo Jornal Agora é de que enquanto Eliane via essa uma figura quase paterna em Dalcir, ele enxergava a relação de outra maneira, nutrindo uma espécie de amor patológico, já que, ainda de acordo com essas fontes, não houve uma relação amorosa entre os dois.

Eliane era solteira e morava na Rua Rui Barbosa, Centro. Já Dalcir era divorciado, tinha um filho e morava na Avenida Amazonas, próximo ao Cemitério. Recentemente, a professora estava se relacionando com uma pessoa, que não era Bortolanza, o que pode ter causado ciúmes e motivado o crime. Pessoas próximas confidenciaram à reportagem que ultimamente ele andava muito quieto.

O dia do crime

Como fazia todos os dias, na quarta-feira Eliane começou seu expediente na academia onde trabalhava por volta de 6h. Fez seus atendimentos de rotina, e participou de uma reunião remota de um projeto que estava desenvolvendo, e por volta de 21h30 encerrou o expediente. Às 21h40 trocou mensagens com uma amiga e companheira de trabalho, provavelmente uma das últimas pessoas com quem falou em vida.

Quanto à rotina de Bortolanza, conseguimos apurar que ele esteve no Clube dos 33, onde trabalhava como autônomo, durante a maior parte do dia. Jogou baralho com alguns amigos ainda no clube, e por volta de 20h30 saiu para voltar para casa, e deu carona a um amigo nesse trajeto. Como ele não possuía redes sociais ou WhatsApp, somente a quebra do sigilo telefônico pode resultar em detalhe sobre a última conversa que ele teve com a professora.

Câmeras de segurança registraram que o carro de Eliane, um Fiat Argo 2018 com placa de Mandaguari, foi visto saindo da casa de Dalcir por volta de 22h35. Ao sair ele deixou a luz do quarto acesa.

Ainda não foi possível precisar se ele estava no banco do carona ou motorista. O que se sabe até o momento é que após a rotatória do Pesqueiro Lagoa Azul, próximo a um pé de flamboyant, já na BR-376, e não na Estrada Rochedo como apontado em algumas versões do fato, Eliane foi jogada do carro.

A Polícia Civil acredita que Dalcir tenha esfaqueado Eliane ainda dentro do carro – ela não teve morte instantânea, vindo a óbito algumas horas depois. Após golpear e jogar a professora, Bortolanza disparou em alta velocidade pela rodovia e foi em direção ao Vale do Ivaí.

Na PR-546, saída de Bom Sucesso para Itambé, ainda em alta velocidade, jogou o automóvel contra um caminhão com placa de Maringá, e teve morte instantânea. O corpo dele ficou preso às ferragens, e o carro ficou completamente destruído. A reportagem do Jornal Agora teve acesso, com exclusividade, ao boletim de ocorrência registrado pela Polícia Rodoviária sobre o acidente. O documento informa que a batida ocorreu por volta de 22h50 daquela quarta-feira.

Os socorristas que trabalhavam na cena do acidente encontraram os documentos de Bortolanza, e também uma bolsa com pertences e documentos pessoais de Eliane. Diante disso, pensaram que a professora poderia ser mais uma vítima fatal do acidente. Foi quando socorristas e policiais encontraram uma faca ensanguentada no carro que deixaram de considerar que ela morreu no acidente e passaram a trabalhar com a hipótese de homicídio, e que o corpo de Eliane poderia estar em outro lugar.

E foi por volta de 3h que o corpo da professora foi encontrado às margens da BR-376, debaixo do pé de flamboyant. A esse horário ela já estava morta, e apresentava quatro ferimentos causados por golpes de faca, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML).

Perguntas sem resposta

Diante de toda essa narrativa, algumas perguntas seguem sem resposta. Acredita-se que o crime foi premeditado, porém a atitude de Bortolanza de causar um acidente e tirar a própria vida teria sido tomada em desespero. Outra questão é como a faca usada no crime entrou no carro, algo que a Polícia Civil espera o laudo de criminalística para ter certeza e concluir o inquérito a respeito do caso.