Quanto custa essa autoestima?

Artigo escrito por Lucas Monteiro Campigotto e publicado na 379ª edição do Jornal Agora

Questionar o valor das coisas não é novidade para nós, o combustível e o gás de cozinha estão aí para nos lembrar disso. Mas o que faz com que as coisas tenham valor? Inflação? Guerras? De fato, cada situação irá alterar o valor de algo, mas tudo sempre teve algum valor? Acredito que, para não colocarmos um preço na palavra, vamos “fazer valer” seu significado: de origem latina, a palavra valor normalmente se refere a esse ponto mais conhecido nosso, o de “moeda de troca”, trocar um produto ou serviço por algo de valor semelhante. A palavra também se origina de valere, que era uma expressão para definir força ou saúde, além disso, a palavra também passou a se associar com o termo valentia, bravura ou coragem. Ou seja, chegamos então mais próximo do que algumas pessoas dizem: “essa pessoa tem valor”, no intuito de afirmar que essa é uma pessoa virtuosa (que tem valores), não com o intuito de comprar a pessoa. Ao menos assim esperamos.

E quando falamos sobre valorização da vida? Qual sentido usamos? Que medida devemos usar? Algumas culturas (para não ficar vago, o budismo tibetano é um exemplo) vão venerar a vida humana como um dos bens mais preciosos, pois temos uma ferramenta que permite com que todas as vidas avancem, ultrapassem o que são, temos a consciência. É isso que irão defender, que o ser humano tem ao menos o potencial para saber que a vida é preciosa e proteger ela. No entanto, contrariando Augusto dos Anjos, para que a mão que afaga não seja a mesma que apedreja, seria interessante estimular o nosso lado do Homo Sapiens Sapiens, do ser humano que sabe que sabe, para definirmos o valor da consciência e não apedrejarmos nada nem ninguém. Como dizia o tio Bem, “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Tais culturas também definirão ao ser humano o portador do papel de cuidar, proteger e respeitar não apenas a vida humana, mas todas as vidas, toda a existência.

O que acontece? Uma possibilidade que podemos elencar é que outras coisas passaram a valer mais. Uma delas é o tempo, como diria uma conhecida frase nossa: “tempo é dinheiro”, e então nos deparamos com um mundo aceleradíssimo, aonde tudo é imediato: a pessoa precisa responder na hora, a comida precisa ficar pronta em três minutos, o tempo de um no trânsito passa a ser mais importante que do outro.

Para irmos além, vivemos hoje uma realidade que a autoestima é também uma moeda, ela está constantemente baixa em várias frentes, com um mundo que quer nos dizer que eu valeria mais se eu tiver um corpinho do jeito que aparece na TV ou nas redes sociais, se eu tiver um carro de tal marca e por aí vai, ou seja, o nosso valor em muitos casos passou também a ser confundido no valor das coisas que possuímos (ou será que somos possuídos por elas?). Estimar é atribuir valor a algo, nossa autoestima diz respeito a quanto nós nos valorizamos. Alguns se adaptam e se identificam às medidas dadas, bacana, mas precisa ser para todos?

Resumindo, mas deixando claro que há também uma complexidade que pode ser aprofundada em cada uma dessas reflexões: é importante, primeiramente, encontrar o que seria esse valor próprio. Segundo: algo que pode ajudar nisso será estar atento para não colocar maior valor nos objetos ou mesmo no tempo. Terceiro: valorizar a si traz à tona a importância da valorização da vida, levando a gente a refletir como toda vida é preciosa, humana ou não-humana.

Lucas Monteiro Campigotto é Psicólogo Clínico (CRP 08/30920). Telefone – (44) 99911-1490.