Febre de figurinha

Texto e fotos: Tálita Tonolli, especial para o Jornal Agora

A pouco mais de um mês e meio para a Copa do Mundo do Catar, algumas tradições e costumes vão sendo retomados no mundo todo; sendo colecionar figurinhas do mundial uma das maiores dela. Crianças, adultos, idosos, de todos os gêneros e classes, juntam se de 4 em 4 anos para compartilhar um hábito antigo, mas que sempre encanta, além de aquecer as vendas pré-copa. É comum encontrar grupos em toda sociedade correndo atrás de completar seu álbum e a cada edição mais pessoas acabam investindo nesta modalidade de colecionismo. E os mais aficionados podem preparar os bolsos porque o pacote de figurinha ficou o dobro do valor da última edição em 2018.

Há quatro anos atrás, eram vendidas em média diariamente 40 milhões de figurinhas no Brasil e segundo os comerciantes esse número deve ser maior nesta edição. João Marcelo Arriola, proprietário da Casa do Colecionador, uma das maiores lojas especializadas em colecionismo no Brasil, comenta que as vendas aumentaram bastante nas últimas semanas, além de busca pelas figurinhas, os álbuns antigos também tem sido procurados.

A equipe do Jornal Agora, foi pesquisar para saber quanto o fã de futebol irá gastar para completar o seu álbum e segundo o cálculo de um matemático da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, para completar o álbum, o colecionador precisaria comprar 4.832 figurinhas em média. Falando em valores do Brasil, hoje cada pacote de figurinhas com 5 cromos, custa R$4,00 reais, ou seja, gastaria R$ 3.865.00 reais; 1,5 vezes a renda média mensal do país, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isto se esse fã não conhece as clássicas trocas de figurinhas.

Os seres humanos já tinham o hábito de colecionar objetos desde a Antiguidade e Idade Média, mas o costume se firmou no início do Renascimento. Foi nesta época, que os objetos de colecionismo, ganham espaço próprio para serem vistos, estudados e admirados. O hábito de colecionar auxilia em vários processos de aprendizado para as crianças. Fazer uma coleção ajuda a criança a se organizar e aprender a tomar decisões. Além do senso de responsabilidade em lidar com as finanças e a ampliação de conhecimento. Vários pais tem aproveitado as figurinhas da copa para ensinar as crianças a administrar o dinheiro e a conhecer e desbravar outros países.  Além claro, de passar vários momentos com a família e fazer novas amizades.

Mas quando surgiram as figurinhas?

As figurinhas surgiram no final do século XVIII na Europa, como estratégia de marketing e vieram para o Brasil em 1900, pela tabacaria Estrela de Nazareth, sendo composto por 60 figurinhas sobre as bandeiras mundiais. Já em 1930, a empresa de sabonetes Eucalol, visando aumentar as vendas dos seus produtos começaram a imprimir estampas colecionáveis. As primeiras séries eram de assuntos brasileiros e cultura geral. Até a década de 50 foram criados álbuns de figurinha para divulgar produtos e empresas, mas com a chegada do mundial de futebol, foi criado o primeiro álbum de figurinhas específicos sobre o esporte.  Mas elas ainda eram de papel mais duro, pouco brilhante e era necessário passar cola branca para fixá-las. O Grupo Panini que hoje é um dos mais importantes editores de figurinhas do mundo foi fundado na cidade de Modena, na Itália, em 1961, pelos irmãos Giuseppe e Bruno Panini. E foi durante a década de 1970 que os álbuns de figurinhas de futebol da Panini ganharam a forma com a qual estamos familiarizados: cromos autoadesivos, imagens dos estádios, equipe técnica, etc. No Brasil a editora Abril, foi uma das maiores responsáveis pela popularização dos álbuns de figurinha durante a década de 80, os temas eram variados e era possível comprar os cromos em bancas de todo Brasil. Mas, apenas em 1989, a editora Abril em parceria com a Panini, produziu o primeiro álbum oficial do campeonato brasileiro de futebol; o Brasileirão série A.

O cromo é um item de coleção e um objeto de memórias afetiva, podendo revelar no futuro às novas gerações, diversos aspectos da vida em sociedade, a cultura de massa, as formas de sociabilidades e até as dinâmicas de mercado de sua época.  Com a nostalgia de completar os álbuns, um outro aspecto interessante neste período é o aquecimento da economia. Muitos lojistas abriram espaço para venda e troca de figurinhas, movimentando pais e filhos em direção ao comércio.

Em Mandaguari, vários comércios estão comercializando e promovendo trocas das figurinhas do Mundial de Futebol da Fifa; um desses comércios é a Livraria do Valdecir, que trabalha com material escolar e papelaria e está na terceira edição comercializando os cromos. Valdecir comentar que o pessoal está muito mais empolgado nesta edição que nas anteriores e ele acha que isto se deve as figurinhas extras. O comerciante comenta também que as trocas de figurinhas tem sido um verdadeiro sucesso “É muito gostoso. Durante essa troca as pessoas conversam mais e fazem novas amizades e consomem outros produtos dentro da loja e isso é muito bom”; comemora o administrador.

Apesar deste nicho econômico interessante, em alguns países as figurinhas viraram assunto de governo, como na Argentina; onde representantes da Secretaria de Comercio, juntamente com representantes dos comerciários e da Panini, se reuniram para discutir o desabastecimento das prateleiras. Os comerciantes acusam a Panini de mudar a política de venda, o que aumentou os pontos de comercio, como postos de combustível, aplicativos de entrega, além de grandes empresas e supermercados e provocando o desabastecimento das pequenas bancas espalhadas pelo país. O gerente de marketing da empresa, Nicolás Salustro, disse à “Forbes” que as figurinhas não estão esgotadas, porém após a reunião com representantes governamentais, a empresa concordou em controlar os distribuidores oficiais para garantir que as figurinhas cheguem às bancas em todo país.

No Brasil as faltas são pontuais. Em Mandaguari e região é possível encontrar pacotes em vários comércios e até no supermercado. E com a proximidade do mundial, as trocas organizadas estão cada dia mais frequentes. No último final de semana aconteceu a primeira troca de figurinhas do Clube Recreativo em parceria com o programa Em Campo. Fãs das figurinhas se reuniram em uma tarde ensolarada para conseguir o máximo de trocas ou compras possíveis. Durante as trocas os participantes, também comercializam suas figurinhas por valores de R$0,80 à R$1,00 real o cromo.