Descubra as PANC: Plantas Alimentícias Não Convencionais que podem transformar sua dieta

Reportagem escrita por Tálita Tonolli, especial para a 397ª edição do Jornal Agora

Se você está cansado de consumir sempre os mesmos alimentos, talvez esteja na hora de experimentar as PANC: Plantas Alimentícias Não Convencionais. Apesar do nome pouco conhecido, essas plantas podem trazer diversos benefícios para a sua saúde e ainda contribuir para a diversificação da agricultura.

A sigla PANC é, em outras palavras, “todas as plantas que poderíamos consumir, mas não consumimos”. Algumas dessas plantas são classificadas como infestantes, invasoras ou daninhas, porém o correto e adequado é: plantas/ervas espontâneas, que crescem entre outras plantações e sem serem semeadas.

As PANC incluem uma grande variedade de plantas, sendo utilizadas folhas, flores, frutas e sementes, que podem ser encontradas em diferentes regiões do mundo. No Brasil, algumas das PANC mais comuns são a ora-pro-nóbis, a taioba, a beldroega, jaca verde, caruru, cereja do rio… Apesar de não serem muito conhecidas, as PANC têm sido cada vez mais valorizadas como uma alternativa para diversificar a alimentação e trazer mais benefícios para a saúde; além de trazer novos sabores e texturas para a mesa.

Essas plantas versáteis também são aproveitadas na alimentação de animais, como a palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) P. Mill) que é uma planta originária do México que foi introduzida no Brasil no século XIX, com o intuito de ser cultivada para a produção de corante, mas com o passar do tempo percebeu-se sua capacidade na alimentação de bovinos, passando então a ser utilizada na pecuária.

Por serem de fácil cultivo e se desenvolverem de forma natural, sem necessidade de grandes áreas, gera baixo impacto na agricultura podendo inclusive serem cultivadas associadas a outras plantas alimentícias e para alimentação animal, o que caracteriza um desenvolvimento sustentável.

Muitas das PANC eram plantas que acabaram esquecidas no nosso dia a dia e voltar a consumi-las é uma forma de evitar seu desaparecimento como alimento e deixar de serem lembradas como pragas.

Os benefícios das PANC para a saúde

As PANC possuem uma grande variedade de nutrientes, como vitaminas, minerais e compostos antioxidantes, que podem contribuir para a prevenção de doenças e o fortalecimento do sistema imunológico.

Cada PANC possui sua composição nutricional específica, mas algumas características gerais e comuns são:

• Alto teor de proteínas: muitas PANC possuem uma quantidade significativa de proteínas, o que é importante para a manutenção e desenvolvimento dos tecidos do corpo;

• Fonte de vitaminas e minerais: as PANC são ricas em vitaminas e minerais, que têm funções importantes no organismo, como a proteção contra doenças e a regulação de processos metabólicos;

• Antioxidantes: muitas PANC possuem compostos antioxidantes, que combatem os radicais livres e ajudam a prevenir o envelhecimento celular e o desenvolvimento de doenças crônicas.

Mesmo com uma infinidade de benefícios, ainda é um desafio a utilização das PANC em larga escala. A falta de conhecimento é um dos maiores problemas, pois algumas PANC podem apresentar toxicidade em determinadas partes da planta ou em determinadas épocas do ano, o que pode ser um obstáculo para o seu consumo seguro. Um outro desafio é a falta de incentivos para o cultivo e comercialização das PANC podendo limitar a oferta desses produtos nos mercados e torná-los mais caros para o consumidor.

Investir em iniciativas que valorizem as PANC, como feiras e mercados exclusivos, restaurantes que incluam essas plantas em seus cardápios, além de programas de educação sobre essas plantas, pode contribuir para a popularização do consumo de PANC e a diversificação da oferta de alimentos no país. Por isso, é importante que as pessoas tenham acesso a informações confiáveis sobre as PANC e saibam como identificar e preparar essas plantas de forma segura, a fim de aproveitar todos os seus benefícios para a saúde e para o meio ambiente. A diversidade alimentar é fundamental para uma alimentação saudável e sustentável, e as PANC podem contribuir para alcançarmos esse objetivo.Parte superior do formulário

Dicas Importantes:

Atenção para nomes populares: eles geram confusão. Sempre que puder, verifique se o nome científico, aquele em latim, corresponde à planta. A internet ajuda nessa identificação. Plantas diferentes podem ter o mesmo nome popular; então, tome cuidado!

Caso deseje identificar uma planta, não se esqueça de tirar fotos detalhadas das folhas, das flores, e caso seja possível, do fruto e das sementes. Essas informações são fundamentais para que os especialistas consigam identificá-la corretamente.

No caso de dúvidas, consulte sempre um especialista, podendo ser um biólogo ou engenheiro agrônomo por exemplo.

Esses são alguns exemplos de PANC que são encontradas em nossa região:

Eugenia involucrata

A Cereja do Rio Grande ou cerejeira brasileira é uma Árvore frutífera brasileira, que também pode ser encontrada na Argentina, Uruguai e no Paraguai. Seu fruto é carnudo e suculento, levemente adocicada e a copa da sua árvore tem uma arborização frondosa. O fruto tem baixo teor de gordura e elevado conteúdo de fibras insolúveis, além de ter vitamina A, do completo B e C, minerais, com destaque para o potássio e o magnésio. Além do fruto in natura é possível fazer geleias, bolos, doces e compotas.

Pereskia aculeata

Ora-Pro-Nóbis é um tipo de planta trepadeira altamente nutritiva: tem alto teor de proteínas, fibras, vitaminas e minerais importantes. Ela possui folhas verde-escuras e macias, que podem ser usadas no preparo de saladas, chás, bolos, pães. De suas flores, pode ser feito sopas, tortas e até sucos.

Talinum paniculatum

Beldroega grande, maria gorda, major gomes, são alguns dos nomes populares dessa planta super nutritiva e versátil onde as folhas, caule e as flores são comestíveis, sendo uma planta rasteira nativa do continente americano e de crescimento espontâneo. Suas folhas tem mais ferro que as folhas do espinafre cru. Pode ser consumida em saladas, sopas, refogada, em tortas e sucos. Suas sementes são utilizadas na confeitaria como substituto da semente de papoula.

Receita para fazer com a família

Bolo de ora-pro-nóbis

Ingredientes para o bolo:

  • 2 e ½ xícaras de farinha de trigo
  • 2 xícaras de açúcar
  • 1 xícara de folhas de ora-pro-nóbis (80 g)
  • 3 ovos
  • 1 copo de leite
  • 1 pitada de sal
  • colheres (chá) de fermento em pó
  • Raspas de casca de 1 limão
  • 1 xícara de óleo de milho ou de coco

Ingredientes para a cobertura:

  • 1 xícara de açúcar de confeiteiro (ou açúcar refinado batido no liquidificador)
  • 3 colheres (de sopa) de suco de limão

Modo de Preparo:

  • Unte uma forma com manteiga e farinha
  • de trigo. Reserve.
  • Ligue o forno para aquecer.
  • Bata no liquidificador os ovos, o óleo, o leite, o açúcar e as folhas de ora-pro-nóbis lavadas. Peneire a farinha com o sal e o fermento e coloque numa tigela.
  • Jogue o líquido e as raspas de limão sobre a farinha peneirada.
  • Misture bem, sem bater. Leve para assar em forno quente.
  • Quando o bolo estiver quase assado, prepare a cobertura:
  • Misture o açúcar com o suco de limão até formar uma pasta.
  • Retire o bolo do forno – espere uns 5 minutos para retirar da forma e aplique a cobertura (sobre o bolo ainda quente).

Esta matéria foi produzida em homenagem a Dona Maria Tereza Baier, que desde que retornei a Mandaguari, sempre conversava comigo sobre as PANC, mesmo sem conhecer o termo, ela sempre usava da sabedoria das plantas para ter uma qualidade de vida.