O Fla-Flu entre a incerteza de Jorge Jesus e a arapuca de Odair Hellmann

Pela primeira vez desde o início da pandemia, o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, passou três dias seguidos indo ao Ninho do Urubu. Não é comum. Por mais que isto se pareça com preocupação com a possível saída de Jorge Jesus, os encontros de Marcos Braz com o elenco rubro-negro foram em outra direção: “O problema do Flamengo, hoje, chama-se Fluminense F. C..” Foi o que Marcos Braz disse a seus jogadores.

Faz sentido. Por mais que possa ter havido encontro de Rodolfo Landim com Jorge Jesus na quinta-feira, negado pelo presidente, ou do treinador com o presidente do Benfica, por vídeo conferência na quinta-feira à noite — o advogado de Jesus descarta — está claro que não haverá nenhuma posição oficial antes da decisão do Campeonato Carioca.

Os representantes de Jorge Jesus deixam claro que o treinador não se sentará para conversar com representantes do Benfica antes de definir o Campeonato Carioca. Receber um telefonema de Luis Filipe Vieira, seu velho chefe e amigo, é claro que pode acontecer… A qualquer tempo e hora. Mas reuniões formais só vão ocorrer depois da decisão do estadual.

O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, disse a Jesus que, se o português não estivesse seguro para um novo contrato de um ano, contrataria outro técnico. “Nós queremos você aqui, mas, se você não tiver certeza, vamos contratar outro profissional.”

Disse isso no processo de renovação. “O que pode fazer você não ficar?”, perguntou Landim. Jesus respondeu que a situação não era confortável, porque a pandemia poderia atrasar o retorno das competições no Brasil. “Isto não faz sentido. O estadual vai retornar em junho e o Brasileiro no dia 9 de agosto”, disse Landim a Jesus antes da assinatura do contrato.

O português renovou e, então, o Flamengo entendeu que não há mais o que conversar. Está sacramentado. Há as condições do contrato para a saída, mas também o compromisso que Jesus assumiu com o grupo de jogadores de tentar voltar ao Mundial para vencer. Veja, não é um compromisso com o Flamengo, mas com os atletas que comanda.

Antes do Mundial, há o estadual. O Fluminense armou uma grande arapuca defensiva e o Flamengo não soube sair dela. Odair Hellmann vive o dilema de repetir a estratégia, já conhecida pelo rival, ou de mudá-la e convencer seus jogadores de que é a melhor escolha. Seria como dizer a eles: “Parabéns, empatamos e vocês foram brilhantes. Agora vamos mudar tudo.” Que confiança receberia de seus atletas?

Jesus sabe disso e pretende conquistar o estadual. Neste domingo, ele está concentrado no Campeonato Carioca, na decisão, no Fluminense. Depois de ser campeão — ou vice — pode pegar um avião e se encontrar com Luis Filipe Vieira no Solar dos Presuntos, pertinho da Avenida da Liberdade, no centro de Lisboa. Antes de quarta-feira, não.

Jorge Jesus sabe que virou uma celebridade pelo que venceu pelo Benfica e pelo Flamengo. Perder o próximo título é também perder um pouco de seu enorme prestígio. Não vai haver decisão sobre seu destino antes de se conhecer o novo campeão carioca.