Morto há cinco anos, Justin Wilson disputou uma temporada na F1, mas, sem vaga, procurou os EUA

Considerado um dos bons talentos surgidos na Inglaterra no começo dos anos 2000, Justin Wilson morreu há cinco anos, no dia 24 de agosto de 2015, em decorrência de ferimentos na cabeça oriundos de um estúpido acidente em Pocono, durante corrida da Fórmula Indy. Wilson foi um dos típicos pilotos que poderiam ter feito carreira bem mais longa na F1 não fosse a falta de patrocínio.

Campeão da antiga Fórmula 3000 (atual Fórmula 2) em 2001, Wilson quase entrou na F1 em 2002 pela Jordan, mas a equipe, em dificuldades financeiras, aceitou os ienes de Takuma Sato e da Honda. O inglês correu na World Series para se manter em forma e ficou em quarto lugar, mas quase entrou na Minardi ainda em 2002, na vaga do “possante” Alex Yoong. Só que Wilson, de 1,90 metro, não cabia no carro, e a chance foi perdida. Pelo menos naquele momento…

O piloto ouviu de Paul Stoddart, dono do time, que precisava de 2 milhões de libras para garantir sua vaga. E lá foi Wilson correr atrás da grana… O pai do piloto hipotecou a casa da família, e amigos ajudaram a levantar a quantia. Já a Minardi projetou o modelo PS03 já pensando na grande estrutura de Justin, com o banco mais baixo para manter os joelhos longe do queixo os pedais mais para a frente. Deu certo, e Wilson assinou um contrato de três anos com a equipe italiana.

É claro que Wilson não conseguiu nada de espetacular porque a Minardi era a equipe mais fraca de todo o grid. Mas a experiência de ser companheiro de Jos Verstappen – ele mesmo, o pai do Max – foi boa. Nas classificações, o holandês levava a melhor nas voltas lançadas, uma novidade daquele campeonato, diga-se de passagem.

Mas nas corridas, Wilson conseguia um desempenho mais próximo de Verstappen. Na Espanha, por exemplo, o inglês conseguiu inclusive completar a corrida à frente do parceiro bem mais experiente. Mas o conjunto era fraco e pouco confiável, tanto que Justin abandonou quatro corridas por falha do carro. Só que nas outras ele fazia o feijão com arroz e terminava as provas. O único erro foi no chuvoso e caótico GP do Brasil, sob chuva.

 Antonio Pizzonia. Sem dúvida era uma oportunidade melhor, num carro que lhe permitiria eventualmente até brigar para marcar pontos. O inglês teria cinco corridas para demonstrar potencial e ser confirmado na temporada de 2004.

É claro que a estatura elevada era prejudicial a Wilson, já que o carro da Jaguar não havia sido projetado pensando nisso. De qualquer forma, lá foi o inglês tentar a sorte. E foi uma participação bastante honesta, diga-se de passagem.

Wilson foi evoluindo aos poucos, a ponto de alcançar seu primeiro ponto numa corrida difícil em Indianápolis debaixo de chuva. Depois de passar em 15º na primeira volta, o inglês foi ficando na pista, ficando… a ponto de chegar ao terceiro lugar! Mas um pit stop era necessário, e Justin caiu para oitavo.

Depois de subir para sexto, novo pit stop e uma queda para a 12ª colocação. Mas com um ritmo de corrida sólido, o piloto da Jaguar aproveitou os abandonos à sua frente para completar a corrida na oitava colocação. Um suado primeiro ponto, que no fim das contas seria o único de Wilson na F1.

Terminada a temporada, a Jaguar queria manter os serviços de Wilson. Mas a Ford, dona da equipe, queria investir menos e exigiu que fosse contratado um piloto pagante. Como o inglês não tinha recursos, e o austríaco Christian Klien apareceu com a grana de seu patrocinador, uma conhecida marca de energéticos, a permanência de Justin ficou inviável.

Para piorar, Wilson não poderia nem permanecer como terceiro piloto da Jaguar, pois o novo regulamento previa que apenas pilotos com menos de seis corridas disputadas poderiam ocupar tal função. O inglês acertou sua transferência para a Champ Car nos EUA. Até a fusão com a IndyCar para a recriação da Fórmula Indy, Wilson foi duas vezes vice-campeão.

O piloto seguiu vencendo corridas esporadicamente, embora sem nunca ter brigado pelo título. Em 2015, durante as 500 Milhas de Pocono, Sage Karam bateu, e o nariz do carro voou para o meio da pista. Já veterano de 37 anos, Wilson foi atingido em cheio na cabeça e teve lesões cerebrais.

Dois dias depois, Justin Boyd Wilson não resistiu aos ferimentos e morreu. Conhecido pelos colegas como “Badass” (uma expressão em inglês de baixo calão que pode ser traduzida como “agressivo”” ou “intimidador”), Wilson na verdade era considerado tranquilo, de voz suave e agradável.

– Por que fazemos isso? Porque nós amamos isso, não quero estar em outro lugar, mas em um carro de corrida. Vamos manter o seu legado amigo. Corredores correm! – disse Tony Kanaan.

De fato, num esporte em que o financeiro fala alto muitas vezes, Justin Wilson pode não ter feito a carreira que gostaria na F1, mas correu mesmo.