Cruzeiro na Justiça: agente cobra R$ 2,3 milhões por comissões; veja outros litígios com empresários

O Cruzeiro tem um novo presidente, Sérgio Santos Rodrigues, que toma posse nesta segunda-feira. O eleito herdará um clube em fase de reconstrução, envolvido em investigações criminais e com dívidas urgentes a serem pagas, como as da Fifa. Outra situação a ser resolvida, que engloba problemas financeiros e administrativos de gestões passadas, é débitos com empresários da bola. Há várias ações na Justiça, sendo que um mesmo agente moveu três processos contra o clube celeste. Um acabou em acordo, mas os outros dois somam R$ 2,3 milhões cobrados.

O empresário Eduardo Uram, por meio da sua empresa – Brazil Soccer – foi responsável por intermediar três transferências de jogadores ao Cruzeiro em diferentes momentos. Em 2013, ajudou a trazer o atacante Willian Bigode (hoje no Palmeiras) junto ao Metalist da Ucrânia. Primeiro por empréstimo de um ano, depois de maneira definitiva. Uram cobrava três diferentes tipos de comissão, num total de R$ 1.446.003,99. Em julho de 2018, o agente ingressou com ação ordinária no TJMG, com valor de causa de R$ 1.624.293,67 (multas e juros). No decorrer da discussão, os valores sofreram correções e atualizações até chegar a R$ 2.101.986,90 (contando honorários) em setembro de 2019.

Um ano após o início desta ação, o Cruzeiro entrou com embargos à execução da dívida relativa à contratação de Willian. Os argumentos principais utilizados pelos advogados celestes foram que o contrato firmado entre Cruzeiro e Uram de reconhecimento a dívida – “Instrumento Particular de Consolidação de Dívidas e Assunção de Obrigações” – foi assinado por Gilvan de Pinho Tavares em 23 de outubro de 2017, quando Wagner Pires de Sá havia sido eleito (mas não empossado) e, assim, tal pacto não havia sido analisado pela comissão de transição instaurada no Barro Preto.

Além disso, a defesa celeste alega que os contratos de comissão foram assinados pelo então diretor de futebol Alexandre Mattos (hoje no Atlético-MG), sendo que ele não teria autoridade para tal ato, segundo o estatuto do Cruzeiro, o que anularia os contratos. A briga segue na Justiça, com despacho último do juiz responsável em março de 2020.

Mais R$ 730 mil

Outra operação na qual Eduardo Uram esteve presente foi a volta do lateral-esquerdo Egídio ao Cruzeiro, em dezembro de 2017. O clube teria firmado contrato de R$ 600 mil ao agente, a título de comissão. O acordo seria de 10 parcelas de R$ 60 mil entre abril de 2018 e janeiro de 2019. Uram alega que não recebeu nenhum pagamento e pleiteia a quitação da dívida em R$ 730 mil. Esta ação é a mais recente, tendo sido distribuída na 36ª Vara Cível de Belo Horizonte em fevereiro de 2020.

Na petição, os advogados do empresário pedem que o Cruzeiro seja condenado e solicitam penhora de valores do clube, incluindo recebimento de direitos televisivos. Em 14 de abril, a Justiça determinou intimação ao clube mineiro para que acerte o pagamento ao credor em até três dias, com possibilidade de o réu entrar com embargos. Não houve mais movimentação da ação desde então.

Além de Egídio e Willian Bigode, Eduardo Uram também era credor do Cruzeiro em R$ 173 mil por comissões não recebidas da chegada do atacante Rafael Marques à Toca II em 2017. O acordo previa comissões de R$ 200 mil, com o Cruzeiro tendo pago parte do acertado. A discussão judicial terminou em acordo homologado, no qual a Raposa pagou a dívida em nove parcelas entre março e novembro de 2019. No decorrer da ação, o clube chegou a ofertar três veículos de sua frota – Saveiro 2008, um Linea 2011 e uma Santa Fe 2016 – como garantia de pagamento.

Em contato com a reportagem na última sexta-feira, Eduardo Uram disse que não tinha como se manifestar sobre as ações, “tento em vista que não tenho em mãos os dados inerentes à essas reclamatórias”.

Outros agentes credores

Além de Eduardo Uram, outros empresários do futebol entraram em litígio com o Cruzeiro. O GloboEsporte.com identificou diversas ações na Justiça de Minas Gerais nais quais a Raposa é ré de agentes – isso sem contar processos movidos na Câmara Nacional de Resoluções de Disputas. Uma situação resolvida foi com Giuliano Bertolucci. Ele cobrava R$ 1,71 milhão por comissão da chegada do lateral-esquerdo Bryan. Houve acordo de nove parcelas de R$ 190 mil a contar de abril de 2020.

Outro megaempresário da bola que cobra o Cruzeiro na Justiça é André Cury. Antes tratado como “persona non grata” pelo conselho gestor por causa das ações trabalhistas dos jogadores David e Enderson (resolvidas), Cury acionou o Cruzeiro em novembro de 2019 por R$ 320 mil de comissão não pagos no contrato de imagem do zagueiro equatoriano Caicedo. A última atualização foi de audiência de conciliação adiada em março, por causa da pandemia.

Discussões em aberto são do agente Adriano Spadoto por conta da mesma transferência de Bryan – R$ R$ 67.375,00 de valor de causa em ação de 2019. A empresa Sun Sports acionou o Cruzeiro cobrando R$ 1.879.892,34 relativos à transferência do volante Fabrício em 2008 (ela conseguiu bloqueio dos valores na Justiça em 2019, segundo nota do UOL Esporte).

A GT Sports também aciona o clube mineiro, cobrando R$ 206.565,85 por conta de não repasse de valores por direitos econômicos da saída do volante Souza ao Japão. A empresa alega ter direito a 20% de uma transação que teria acontecido por US$ 250 milhões, segundo os autos. A GR2 Esportes cobra R$ 434.795,20 de comissão pela renovação contratual do meia-atacante Robinho.

O agente Rogério Messias processa o Cruzeiro com relação à transferência do lateral Fabiano. Ele chegou a pedir intimação ao Flamengo para depósito em juízo de R$ 800 mil pela compra de Arrascaeta. Em despacho de março de 2020, o juiz escreveu que “foi efetuado o depósito judicial pelo Clube de Regatas do Flamengo”.

A venda do zagueiro Bruno Viana ao Olympiacos da Grécia também gerou processo contra o Cruzeiro, movido pela empresa D. de Souza Machado Novaes. A situação, entretanto, teve não pagamento de custos pelo autor e foi encerrada em discussão de 1º grau ainda em 2019.

Já a J.R.C. Servicos Profissionais aciona o clube celeste judicialmente para receber R$ 300 mil. A empresa alega que foi a descobridora do meia-atacante Bernardo, promessa das categorias do Cruzeiro e que foi vendido posteriormente ao Vasco da Gama em 2012. O Cruzeiro foi condenado em primeira instância, mas não reconhece a dívida e coube recurso.