O avanço necessário do Agro

Se existisse uma máquina capaz de trazer alguém do mundo dos mortos, eu certamente traria meu avô Ricieri, que era agricultor e faleceu em 1996, um ano após meu nascimento — afinal, nasci em 1995. Tenho certeza de que, ao chegar aqui e ver as tecnologias do mundo moderno, ele ficaria profundamente surpreso.

Quando meu avô faleceu, já existiam algumas tecnologias como os telefones celulares e os computadores, mas ele nunca teve acesso a elas. Talvez até tenha visto um ou outro, mas jamais chegou a usá-los. Se ele pudesse hoje observar e utilizar um smartphone, por exemplo, com certeza acharia que se trata de algo mágico ou vindo de outro planeta.

Mas o que mais o impressionaria seria, sem dúvida, o avanço tecnológico na agricultura nos últimos 30 anos. Meu avô, que usava machados e traçadores para derrubar árvores, ficaria encantado ao saber que hoje existem motosserras elétricas movidas a bateria. O trabalho de abrir grandes áreas para formar campos de plantação, especialmente de café, se tornaria muito mais fácil aos olhos dele.

Se ele soubesse que, para plantar soja, hoje utilizamos tratores com cabines climatizadas, GPS e plantadeiras capazes de contar quantas sementes estão sendo plantadas por metro, ficaria de queixo caído. Se visse que, ao invés de enxadas e foices, agora usamos tratores superpotentes para arar a terra e drones que sobrevoam a lavoura aplicando defensivos agrícolas, acho que ele até desmaiaria.

Se visse que no lugar dos cambões e antigas trilhadeiras, usamos colheitadeiras gigantescas, com tecnologia superior à de muitos carros esportivos, ele certamente diria: “Tudo é mais fácil hoje em dia” ou “No meu tempo era diferente”. Com todo respeito ao meu avô, eu responderia: “Sim, vô, hoje tudo é mais fácil, mas se não fosse o senhor e a sua geração, nós não teríamos chegado até aqui.”

Meu avô viveu a transição da agricultura 2.0 para a 3.0. Meu pai viveu a passagem da 3.0 para a 4.0. E eu, agora, vivo a transição da 4.0 para a 5.0.

“Mas eu não estou entendendo nada, Paggi!” Calma, vou te explicar rapidamente.

A agricultura evoluiu em cinco grandes fases:

Agricultura 1.0: baseada na força humana e animal, com técnicas rudimentares.

Agricultura 2.0: início da mecanização com uso de máquinas e implementos.

Agricultura 3.0: Revolução Verde, com uso de fertilizantes, defensivos químicos e aumento da produtividade.

Agricultura 4.0: integração de tecnologias digitais como sensores, GPS e computadores.

Agricultura 5.0: união de inovação, automação com robôs, inteligência artificial e uso de bioinsumos.

Esse avanço tem uma razão: alimentar o mundo.

Em 1980, éramos 4,4 bilhões de pessoas e consumíamos cerca de 1,62 trilhão de quilos de alimentos. Em 2024, somos 8,16 bilhões e consumimos cerca de 3,6 trilhões de quilos — um aumento de 122% na demanda por comida.

Agora pense no futuro: segundo a ONU, em 2054 seremos 9,7 bilhões de pessoas. Se cada um mantiver uma dieta de 3.000 calorias diárias, serão necessários cerca de 4,42 trilhões de quilos de comida — um aumento de 22,8% em relação a hoje.

Já pensou? É muita gente para alimentar. E se não fosse esse avanço da tecnologia no campo? Se existe fome no mundo hoje, ela certamente seria muito pior sem essa evolução.

É por isso que eu acredito que a agricultura é a profissão do futuro. Mesmo sendo uma das mais antigas do mundo, ela será a grande revolução científica da próxima era. Afinal, todos nós precisamos comer.

Paulo Paggi Junior

Gestor em Agronegócios 

Agricultor