A experiência de ter uma filha autista na escola pública

No final de 2021, por motivos que não vem ao caso neste momento, decidimos transferir nossa filha Heloisa para uma escola pública. Por ela ser uma criança autista, essa mudança, embora necessária, me preocupava. A insegurança aumentou quando ela tomou conhecimento de que mudaria de escola e de imediato demonstrou uma grande resistência. No entanto, a decisão havia sido tomada e a possibilidade de voltarmos atrás estava descartada.

No Brasil, o que mais se ouve em relação a rede pública de ensino são críticas, os pontos positivos quase não aparecem. Ao procuramos a Secretaria de Educação nos surpreendemos com a receptividade e com o fato da profissional responsável pela área de educação especial não interpretar como um problema a chegada de mais uma criança autista na rede municipal. Isso já nos deixou aliviados.

Veio então a segunda etapa, que era fazer a Heloísa aceitar a nova escola. Este detalhe, que imaginávamos ser uma grande barreira, foi resolvido com uma única visita à escola que havíamos escolhido, a Bom Pastor. Em poucos minutos ela estava correndo pelo pátio com outras crianças e a partir dali a dificuldade foi fazê-la entender que ela só estudaria naquele local a partir do ano seguinte. Durante as férias ela só falava em ir para a escola “Bom Patoi”.

Mas haviam outras dificuldades a serem superadas. Se para nós, pais, já é difícil lidar com o autismo dos nossos filhos, para a escola isso é ainda mais desafiador. No entanto, o que encontramos naquele ambiente foi um cenário extremamente acolhedor e inclusivo, em todos os sentidos. A começar pelos alunos, não só da turma dela, que receberam a Heloísa de uma forma extremamente carinhosa, entenderam sua condição e se esforçam para protegê-la e envolvê-la nas atividades. Por parte dos funcionários, são nítidos o cuidado e a atenção que ela recebe. Em relação à direção, equipe pedagógica, professores das disciplinas curriculares e atendimento educacional especializado, as PAAEs, tivemos a felicidade de encontrar pessoas dedicadas, abertas à novas experiências e, principalmente dispostas a aprender. Sim, porque lidar com o autismo exige um aprendizado diário, com erros e acertos.

O desenvolvimento de uma criança autista depende de uma série de fatores. Família, escola, médico, terapeutas e em alguns casos medicamentos. Tudo isso precisa estar em sintonia. É como uma engrenagem, se um desses elementos falha, todo o conjunto fica comprometido.

Desde o diagnóstico, em 2018, a Heloísa sempre fez rigorosamente todas as terapias recomendadas pelo médico, passa por consultas frequentes e toma os medicamentos receitados. Em casa, procuramos fazer a nossa parte seguindo as orientações do médico e das terapeutas. Porém, a evolução que ela tem apresentado não seria a mesma se não tivesse a felicidade de estar em uma escola onde o autista não é visto como um estorvo e sim como alguém que tem suas particularidades, mas que como todos nós, se assemelha aos demais nas suas diferenças.

*O autor é jornalista e pai da Heloísa, uma menina autista de sete anos.