Capitulo 2: O globo da morte na propriedade rural

A imagem do Globo da Morte no sítio  dominou Lucy Eny por vários dias.  Sonhava acordada. Pesadelos dormindo. Queria porque queria ver antes de todos. Obsessão. Código de honra. A cada hora do dia sentia-se arremessada.

Na sua ilusão, via o grande Globo da Morte instalado perto do terreirão de secar café. Entre a tulha e a casa, sede do sítio. O sol nascendo para os lados da Estrada Alegre fazia um eclipse com a grande esfera de madeira.

A ambição dentro de sua cabeça atormentava-a. Não admitia ser a segunda. Muito menos a terceira.  Fervendo, sua mente impetuosa gastou muito tempo calculando, pensando. Matutando.  Em qual parte do município, em qual estrada estará escondido? Se fosse eu, que local escolheria para ocultar?

Foi um exercício detetivesco. Extenuante. Tanto pensar, pensou. Só pode ser para os lados da Madeireira. Na saída da cidade. Rodovia. Por lá, chama muito menos a atenção o  o movimento do transporte de materiais necessários para construir o Globo. E foi assim que iniciou seus cálculos.

Dedicou tanto tempo aos cálculos, hipóteses e teorias que sua mente vacilou. Para se reequilibrar ligou o rádio em uma música em volume bem alto.   Balançou o corpo. Trepidou a mente. Um clarão de luz explodiu na hora em que a bateria fazia o solo. E Lucy Eny voou. Num pesadelo. Num rodamoinho. Enxergava-se caminhando para lá da  Madeireira. Pessoas e caminhões apressados. Cheiro de árvores sacrificadas. Sirenes comandando horários de entrada e de saída do pessoal.

Nâo conteve seus passos. Observou com terror empresas que industrializavam o metal. Entre elas a Disto Pia. Sempre envolta em fumaça. Corriam lendas. Pessoas desapareciam nesta empresa. Não deixavam registros.

Os outros empresários pressionavam. Acabar com aquela empresa para salvar o rio. Toneladas de lixo tóxico por mês. A paisagem enferrujada já dava sinais há muito tempo.

Eram os pesadelos de Lucy Eny. Quando recuperou seu equilíbrio e voltou a si, resolveu apostar todas as fichas nesta ideia. O Globo da Morte estaria no caminho do rio ameaçado por poluições, em seus pesadelos.

No dia marcado para o reencontro da turma, ela já tinha tudo pronto. Planos, esquemas, ideias. Galinzé não concordou. Bateu no peito. Eu que descobri, eu que sei o que devemos fazer.

Lucy Eny não pestanejou. Só retesou o dedo. Então você está fora. Você que sabe. Não aceito insubordinação.

Galinzé, que nunca na vida tinha cedido em qualquer discussão,  sentiu o golpe. Abaixou a cabeça. Se submeteu. Mas, por dentro, jurava vingança. Já estava procurando como seria seu contragolpe  contra Lucy. Tinha que recuperar sua imagem de vencedor. De dominador.

O plano de Lucy era simples. Descerem pelo Rio Tabatinga. Cada um com uma câmara de pneu de caminhão Fenemê. Como boia. E irem investigando. Propriedade por propriedade. Até localizarem o Globo da Morte.

Para evitar suspeitas, escolheram o dia do aniversário da cidade. O desfile das escolas seria após o meio dia. Primeiro, haveria a grande apresentação do maior motociclista da história da cidade, o Jair Marques. Todo ano, a população se acotovelava para vê-lo. Vinha gente de longe. Fãs, repórteres. Jair executava acrobacias incríveis, no meio da avenida, levando a multidão á loucura. Ao êxtase.

Então,  o plano determinava que eles fossem pela manhã. Poderiam atravessar a cidade carregando as boias sem despertar maiores atenções já que muitas escolas sempre produziam carros alegóricos.  Ninguém iria duvidar deles. Mas, e se a policia parasse, perguntou o Jenesley preocupado, mas com medo da resposta de Lucy Ene.