Ao mestre com carinho

Paternidade é um tema que mexe demais comigo, por inúmeros motivos. Bom, eu tenho um filho de 6 anos, e nada me preparou para a incrível experiência de ser pai. Nem as palavras dos muitos pais que me deram valiosos conselhos, nem a minha experiência como filho, os textos que li sobre o tema, ou mesmo as minhas altas expectativas ao redor do nascimento dele. Nada chegou perto da emoção intensa que foi segurar meu filho nos braços no exato momento de seu nascimento, e levar aquele pacotinho barulhento até a mãe, que estava ainda mais emocionada que eu.
Dizer que eu fiquei observando o tom levemente arroxeado sumir de sua pele nos primeiros minutos de vida, ou que vigiei cada respiração dele durante todas as primeiras 48 horas, que eu dei o primeiro banho, que eu tirei as primeiras 820 fotos em sequência e mandei todas, sem exceção, no grupo da família, é só chover no molhado. É padrão de todo pai de primeira viagem.
Porém, eu sinto ter perdido os dois primeiros anos de seu crescimento, pois estive trabalhando em outra cidade e estudando à noite. Assim, eu saía de casa ainda muito cedo, – enquanto ele dormia o sono mais tranquilo que um humano pode ter, – e chegava em casa com os ponteiros do relógio prestes a marcar os últimos minutos do dia.
No entanto, aproveitei cada segundo ao lado dele, dormindo ou acordado, eu – com todas as minhas limitações – procurei participar de todas as partes da paternidade. Troquei fraldas, fui “batizado” algumas vezes, algumas delas de forma homérica. Brinquei e brinco com meu menino, deixei e deixo ele dormir na nossa cama, incentivei cada novo gosto, cada novo hobby, seja jogar bola, aviões, PJ Masks, Album da seleção, Dinossauros, HotWheels e ainda mais dinossauros.
E sobre estar preparado para a experiência de ser pai, o que se imagina é que o pai ensine ao seu filho como a vida funciona, mas é aqui que a maravilhosa decepção ocorreu. Sim, maravilhosa, pois eu aprendi e aprendo muito mais do que eu poderia ensinar. O que o Thomas me ensina, nenhum dos livros que eu li foi capaz. A sabedoria de suas palavras simples é superior às palavras dos filósofos pré e pós-socráticos. A doçura e inocência de seus olhos, a incapacidade de fazer mal ao coleguinha que o bateu, – mesmo chorando de raiva – ensina mais do que um monge budista poderia tentar, o perdão dado antes mesmo de se pedir desculpas, me ensina de forma profunda e permanente.
Eu poderia aqui filosofar um pouco e falar sobre o papel do pai na vida do filho, partindo dos rincões do Xintoísmo, onde a reverência aos ancestrais e a harmonia com a natureza ressoam, até as tradições cristãs, islâmicas, budistas, cabalísticas, matrizes africanas e muitas outras, que mostra o papel do pai como guia, protetor e transmissor de valores, mas para mim é muito mais que isso.
Sempre estive ciente das minhas responsabilidades de pai, mas não estava preparado para as gratas surpresas de aprender com o filho. E eu tenho a sorte de ter sido escolhido para ser o pai do Thomas, e assim como se diante de um grande mestre, um sábio, eu sou grato e procuro aprender cada palavra de sabedoria que recebo dele. Meu papel é proteger e o fazer brilhar nesse mundo, para que um dia ele possa iluminar a outros tantos, assim como me ilumina diariamente.
Assim, se quem aprende é aluno e quem ensina é o mestre, esse texto é para você, Thomas.
Ao meu pequeno mestre, com carinho!