“Isso desestrutura você por completo”, diz pai de bailarina

A família da bailarina Maria Glória Poltronieri Borges, encontrada morta no dia 26 de janeiro na Zona Rural de Mandaguari, encontra nos atos contra o feminicídio e nos amigos forças para continuar.

Durante a semana, o pai de Magó, Maurício Borges, conversou por telefone com o Jornal Agora para falar sobre como tem sido a rotina da família após o brutal assassinato da jovem. “A gente está muito devastado com tudo o que aconteceu, e esperando que a Justiça seja feita. Pra nós tem sido cada dia uma batalha nova, pra poder suportar essa dor”, detalha.

Borges explica que a filha conhecia a região da cachoeira do Massambani, onde o crime ocorreu. “A primeira vez que ela foi lá foi dia 15 de janeiro de 2019. Depois disso, ela esteve mais quatro ou seis vezes lá. Tanto é que a dona da pousada conhecia ela pelo nome”, complementa.

Ainda à reportagem, Maurício explicou que a família tem encontrado conforto nos atos promovidos contra o feminicídio. No último sábado (1º), atos em protesto pelo assassinato de Maria Glória ocorreram em ao menos cinco estados pelo país. “A gente queria que ela fosse lembrada, mas que aquele ato não fosse só por ela, mas por todas as mulheres que sofreram feminicídio”, ressalta.

Sobre a rotina da família, Borges conta que ainda está processando o crime, e que vai levar ainda muito tempo para que ele, a esposa Daisa e a filha Ana consigam lidar com isso. “Isso desestrutura você por completo. Você não sabe da onde tirar forças. Isso afeta sua vida profissional, pessoal, seu dia-a-dia. É comum, às vezes, do nada, ter uma lembrança ou fazer algo que traga a lembrança da Magó, e naquele momento a gente desaba a chorar, sentir uma dor muito grande. A gente não sabe quanto tempo essa dor vai continuar”, afirma.

“Enquanto pais, nós nunca esperamos que um filho vai morrer antes da gente. É particularmente muito dolorido, e sofremos isso muito mais do que se fosse o contrário até por uma questão natural. E de tudo, temos que levar um dia de cada vez, e isso também é muito triste”, conclui.

Investigação

A Polícia Civil de Mandaguari e a Delegacia de Homicídios de Maringá estão próximas de desvendar o assassinato de Maria Glória. Mais de 40 testemunhas foram ouvidas por investigadores desde o dia do crime.

“Estamos bastante adiantados, aguardando alguns resultados de laudos e exames, e recebendo informações que continuam nos chegando”, explicou o delegado Zoroastro Nery do Prado Filho à reportagem.

O aparelho celular da vítima também passa por perícia. O último contato da jovem foi realizado no final da tarde de sábado (25/1), horas após ela chegar ao local para acampar.

Magó, como era conhecida, tinha decidido ficar sozinha no local, por um contato maior com a natureza, algo que era usual, segundo seus familiares. Ela era adepta da Tribo da Lua, uma espécie de religião indígena, e possuía um histórico repleto de viagens.

“Aquilo que algumas pessoas possam eventualmente estranhar, era completamente normal para a família, e deve ser respeitado”, esclarece o delegado.

Violência

Por ser uma “cidadã do mundo”, conclui-se que Magó sabia se virar sozinha, e isso faz a polícia concluir que houve muita violência contra a jovem. O próprio laudo já apontou que além de violência sexual, é possível que a bailarina tenha sido vítima de alguém que possuía muita força física.

“É precipitado chegar a uma conclusão no momento, e não descartamos qualquer hipótese, mas há um direcionamento nas investigações”, revela o delegado. “Não descartamos nada”.

Além da delegacia de homicídios e da delegacia de Mandaguari, o delegado chefe da Polícia Civil de Mandaguari e até a subdivisão de Apucarana estão empenhados na elucidação do caso.

*Reportagem publicada na 336ª edição do Jornal Agora