Dois anos de Tarifa Zero

Em 2019, o movimento Tarifa Zero completa dois anos. A iniciativa, que surgiu após anos de insatisfação da comunidade local com o pedágio, é, sem dúvida, marco histórico para Mandaguari. Trata-se da prova de que, unida, deixando bandeiras e diferenças de lado, a população consegue alcançar feitos até então inacreditáveis.

A partir desta edição, o Jornal Agora inicia série de reportagens sobre o movimento, ouvindo moradores, integrantes da iniciativa, personalidades, fazendo retrospecto e mostrando que o Tarifa Zero repercutiu em diversas outras esferas.

Cada texto será acompanhado de um pequeno trecho da saga, além da opinião de um dos membros do movimento.

Início

O ano é 2017, e a tarifa na praça de pedágio de Mandaguari, administrada pela concessionária Viapar, é de R$ 8,20. Com muito custo, moradores pagam diariamente o preço cheio para poderem ir a cidades como Marialva e Maringá.

Há duas alternativas para fugir do custo: fazer um cadastro na ARD e conseguir “meia tarifa” (ao comprovar a necessidade de passar pelo pedágio todo dia para trabalhar ou estudar, por exemplo) ou usar um trecho da estrada municipal Terra Roxa, há anos conhecido como desvio do pedágio e motivo de disputa entre concessionária e moradores.

Enquanto a Viapar insistia em dificultar o acesso ao desvio, criando buracos e bloqueios, alguns motoristas insistiam em transitar pela Terra Roxa. A situação beirou o insustentável quando um agricultor teve negado pela empresa o direito a um cartão de livre acesso, algo que muitos outros proprietários rurais da região possuíam. Indignado, ele abriu um buraco entre a Terra Roxa e seu imóvel, permitindo que motoristas passassem ao lado de um parreiral de uvas.

No começo de março, em resposta ao ato do agricultor, a Viapar colocou guard rails (muretas metálicas) em um dos acessos à Terra Roxa. O fato ocorreu numa terça-feira, dia 7, e foi a gota d’água para os mandaguarienses que, revoltados, derrubaram os obstáculos.

No dia seguinte, uma quarta-feira, ganhou força em redes sociais uma mobilização popular contra a concessionária. O objetivo era se reunir durante o início da noite na praça de pedágio e abrir as cancelas por uma hora, dando passagem livre aos motoristas. Era Davi tentando ferir Golias. E deu certo. Nascia ali o movimento Tarifa Zero.

Após a primeira mobilização, os manifestantes foram buscar apoio do poder público. Na noite de segunda-feira, 13, 400 pessoas se aglomeraram no plenário da Câmara de Vereadores. O objetivo era pedir a adesão dos legisladores à causa, e deu certo. Todos os vereadores assinaram um documento de apoio ao movimento.

No dia seguinte, o grupo pagou para uma máquina abrir a Terra Roxa, no local onde a Viapar havia cavado buracos, impedindo a passagem de veículos. Nos bastidores, a empresa tentava pressionar o poder público para “esvaziar” o movimento. A ameaça era de cortar a meia tarifa concedida a poucos veículos caso o Executivo não agisse de acordo com os interesses da empresa. O município não cedeu.

Em outra ponta, a empresa procurava possíveis líderes do movimento e abria processos contra eles, no intuito de “abafar” os protestos. As ações surtiam efeito contrário, e os mandaguarienses se mostravam cada vez mais inflamados.

No dia 25 de março, duas semanas após a primeira manifestação, ocorreu um protesto que mobilizou cerca de três mil pessoas na praça de pedágio da BR-376, no limite entre Mandaguari e Marialva. Novamente pacífico, o protesto chamou atenção em nível estadual. Percebendo a derrota iminente, Golias aceitou negociar com Davi…

*Reportagem publicada na 300ª edição do Jornal Agora