Reflexões de alguém sem propriedade sobre um tema (ou o exercício do direito em se preocupar)

Eu não sou médico, não sou biólogo, não sou “cientista”. Eu sou um cidadão Brasileiro que, no últimos 18 meses teve sentimentos muito distintos e muito intensos: a solidão do isolamento, a profunda tristeza pela morte de pessoas queridas, a raiva pela inatividade e ineficiência do Estado, o medo de adoecer, a alegria pela recuperação de pessoas contaminadas, a esperança da vacina. Eu sou o Brasileiro que, algumas vezes, ignorou as recomendações sanitárias, encontrou alguns amigos e parentes e depois ficou paranoico e arrependido quando descobriu que um deles teve febre ou tosse nos dias seguintes.
Esse sou eu.
E eu também sou o Brasileiro que, de tanto receber notícias a respeito da pandemia, tem a prepotência de, mesmo não sendo médico, biólogo, cientista e nem exemplo de conduta, achar que conseguiu compreender razoavelmente o caminho que nos trouxe até aqui, o suficiente para expressar opinião sobre ele, sobre os próximos passos e para se preocupar com as decisões mais recentes.
Eu sempre defendi que, um dos erros da administração pública, no que diz respeito ao combate a pandemia, foi o de demorar muito pra tomar decisões e começar a executá-las só quando o cenário já era muito ruim, com número altíssimo de contaminações, mortes e ocupação de leitos de UTI. Via de regra, qualquer coisa feita às pressas e baseada mais na pressão e no desespero que na razão, tende a não ser muito bem feita.
Pois bem. Hoje, por mais que a média de mortes e contaminações no Brasil ainda seja altíssima, nós temos um cenário em que ela vai lentamente desacelerando, (já como resultado da vacinação) e nos dando a impressão de certo controle. Como consequência, as autoridades estão também abaixando a guarda e reduzindo a fiscalização para que as normas sanitárias sejam cumpridas.
Mais do que isso, se estamos num momento de “baixa”, de “controle”, é exatamente esse momento que deve ser usado para rever as estratégias, estudar o que funcionou, o que não funcionou e executar novas ações, dessa vez preventivas e não mais esperar que a situação se agrave novamente para, então, esse tema voltar a ser discutido.
Essa é uma “nova chance” para não repetirmos os erros do início da pandemia.
Essa é uma “nova chance” para aprendermos com nossa própria experiência e com a experiência de fora: em outros países, novas ondas de contaminação estão surgindo na mesma medida que diminuem as restrições.
Antes de existir a vacina, nossa única ferramenta de controle, eram os testes e as estratégias de isolamento de infectados, lembram? Porque, agora, não aproveitamos, justamente, que temos um número menor de contaminados pra ampliar e fortalecer essa estratégia? Testar pessoas próximas ao infectado, testar antes dos sintomas, criar um mapa do vírus, inspecionar os isolamentos nesse período.
Será que isso, somado a uma forte fiscalização (que permite que nós possamos ir retomando nossas vidas, desde que cumprindo todas as regras de distanciamento, de higienização, de uso de máscaras) e a mais ampla e rápida vacinação possível não conseguiriam trazer mais segurança, evitar mais mortes e ainda, impedir que surja uma nova onda de contaminação que nos leve a estaca zero dos progressos que conseguimos até aqui?
Será que é correto considerar que a redução do número de contaminados e mortes deve significar, obrigatória e diretamente um afrouxamento dos cuidados e um desprendimento menor de energia com o tema?
Mas eu não sou médico, não sou biólogo, não sou “cientista” e nem exemplo. Eu sou só um cidadão Brasileiro, um cidadão Mandaguariense, igual a você.