Presidente da CSCB, Tânia Gomes lança livro “Olhares interdisciplinares sobre a pandemia do Covid-19”

A presidente da Comunidade Social Cristã Beneficente (CSCB), Tânia Gomes, está lançando o livro “Olhares interdisciplinares sobre a pandemia do Covid-19”. A obra, elaborada por Tânia junto de outros professores e colaboradores, aprofunda os impactos causados pela pandemia em vários aspectos da sociedade.

Para comentar sobre o lançamento do livro, Tânia concedeu entrevista ao apresentador Júlio César Raspinha durante o Show da Manhã da Agora FM (91,3). A seguir você confere os principais trechos da conversa.

Júlio César Raspinha: Na capa já vemos três crianças fazendo desenhos sobre sua visão desse assusto. Imagino que isto esteja abordado no livro, como as crianças estão lidando com isso tudo? Afinal já fazem nove meses, quase uma gestação, que as crianças estão fora da escola, em uma rotina diferente, como que isso tem influenciado as crianças, no seu comportamento, no seu aprendizado?

Tânia Gomes: Eu sou professora no curso de pós-graduação, de mestrado e doutorado em promoção da saúde da Unicesumar. E esse ano, em função da pandemia, o Professor Marcelo Benuti, da área da biologia e medicina, e eu fizemos um projeto e enviamos pro ICETI, que é um instituto da Unicesumar que apoia as pesquisas, e nós conseguimos recursos pra fazer essa obra. Então a ideia era realmente ter um olhar interdisciplinar sobre a pandemia, porque no inicio eu li um livro que saiu online com comentários do Boaventura de Sousa Campos, que é um sociólogo português com pensamentos muito avançados, e o Boaventura disse o seguinte, “esse vírus é democrático, ele atinge ricos e ele atinge pobres de todos os países”, e ele errou.  Porque isso foi dito no inicio da pandemia, e depois nós vimos que esse vírus não é democrático “coisíssima” nenhuma, esse vírus incide sobre todos, mas ele é mais cruel e mata mais os pobres e as pessoas em piores condições. Nós tivemos um olhar amplo, sabendo que é difícil falar coisas definitivas. E quanto a capa, eu estava correndo em Maringá e vi tudo absolutamente vazio, então pensei “puxa vida, vou pedir para que Gabriel, quem fez nossa capa, coloque Maringá bem vazia”, porém quando eu peguei a imagem, não senti o impacto que deveria. Nesse momento estava acontecendo aqui na Comunidade Dr. Osvaldo, uma gincana de desenhos sobre o Covid-19, e eu vi e gostei muito dos desenhos. E ali estão, as crianças quebrando a dureza desse momento, aqui está a Maria Cecília Cortez, de 9 anos, a Maria Vitória Ferreira, de 7 anos e a Keiti Emanuely, de 6 anos. Todo mundo que pega esse livro fala primeiro da capa, é muito triste o Covis, mas as crianças elas trazem essa esperança, que eu penso que nós precisamos ter nesse momento. Como eu disse, o Boaventura de Sousa Santos, um grande estudioso cometeu equívocos, e eu acho que nós também podemos cometer sempre quando nós nos anteciparmos a falar muito sobre isso. Tenho ouvido muita coisa, muita crítica a educação, eu parto primeiro do princípio. Eu não sou uma professora pra dar aula online, eu gosto do presencial, mas não fui contra a chegada desse método de ensino, porque era isso, ou ficar sem aula. Por outro lado, a nossa geração é a que fica mais aflita pois não sabemos lidar tão bem com a tecnologia, mas para as crianças tem sido difícil, mas algumas colocações não tanto quanto as pessoas pensam, porque eles sabem lidar melhor com isso. Agora, claro que o estresse, o ficar dentro de casa, a falta do amigo, isso nós sabemos que não é legal. Nós vivemos num momento de todo mundo falar as coisas sem saber de nada, sem pesquisar e sem estudar, a valorização da ciência precisa voltar. Nós precisamos estudar mais pra saber os impactos dessa pandemia, no que diz respeito a educação, ela está indo para um buraco já faz muito tempo, não é especificamente devido a pandemia. Para ver isso, é só olhar os índices internacionais de outros anos. Validando o que disse Paulo Freire, que dentro de uma ótica capitalista não existe uma educação libertadora, o que nós temos, já a muito tempo, é uma educação massificante, que não leva a reflexão e a análise. Nós vivemos uma era muito difícil no conhecimento, no saber, então assim eu acho que é cedo para fazermos prognósticos. O capítulo que eu escrevo, por exemplo, é sobre a violência contra a mulher, como ela aumentou. Não a violência, mas a visibilidade dela. Os casais começaram a ficar em casa, tencionou muito os relacionamentos e isso fez com que no mundo inteiro. A Organização Mundial da Saúde diz que 35% das mulheres no mundo sofrem violência doméstica, e o maior algoz tem sido seus parceiros íntimos, ou seja, aquela história de que o lugar da mulher é em casa, é mentira, a mulher não está protegida em casa.

Essa semana, estava conversando com uma pessoa sobre futebol, como que está a canalizando aquele cidadão que era de ir na arquibancada, que a vida dele era ir no estádio assistir o jogo. De que maneira ele tem canalizado, quando ele está frustrado, estressado devido ao seu time.

Uma de minhas alunas, tem feito uma pesquisa sobre as crianças na pandemia, sobre a convivência, o estresse, e uma coisa que nós já temos percebido é que as crianças que tem um animal doméstico estão lidando melhor com o isolamento social.

Tânia, me conte uma coisa. O livro, ele se aprofunda em quais assuntos?

Ele fala sempre da perspectiva da Covid-19, a violência contra a mulher no Paraná, com um levantamento de denúncias nas delegacias de lesão corporal dolosa, meu capítulo, também sobre violência, mas amplo. Nós temos o capítulo falando sobre a arte e outros momentos de pandemia no mundo, temos sobre o início do século 20, a varíola, a febre amarela e a rubéola. E quem quiser saber mais, é só ler sobre a revolta da vacina, de 1904, quando as pessoas se revoltaram, que é uma coisa semelhante a que estamos vivendo ainda. Então, ler esse livro é buscar em diversos momentos da história esses acontecimentos traumáticos, e no final, pra que não ficasse um livro tão pesado, temos o depoimento de pessoas, como uma amiga minha, por exemplo, residente na Itália que diz como que foi esses primeiros dias da Covid-19. A pandemia nos trouxe muitas coisas novas pra pensar, no início muita solidariedade, depois um recuo disso, a morte a nossa espreita. Eu penso que uma coisa que foi muito difícil para as crianças, mas do que ter aula via internet foi ver muitas coisas ruins sendo noticiadas na televisão, toda hora se falava de morte, imagina isso no pensamento de uma criança.