O necessário respeito e a nova responsabilidade em tempos de pandemia

Nos últimos quatro meses, estamos sendo bombardeados diuturnamente com inúmeras informações, sendo que em uma grande maioria nos orientam sobre medidas de segurança e de prevenção para nos protegermos e evitarmos o contágio pela Covid-19.

A grande verdade é que aquilo que fazemos, o nosso comportamento, rege-se por decisões pessoais, quer seja por necessidade, conveniência ou por rebeldia quanto às normas vigentes. Não nos faltam informações e a impressão que temos é de que parte da população está sendo forçada a cumprir o isolamento, quer seja por respeito às normas e por orientações sanitárias e/ou regras familiares ou ainda, devido ao senso apurado de suas responsabilidades para consigo mesmos, ou para com terceiros. Outra parte da população labora em áreas consideradas essenciais e sequer tem a opção de escolher entre o isolamento e/ou demais medidas de segurança, uma vez que a manutenção do funcionamento daquilo que é imprescindível à sociedade depende do labor destas pessoas.

Consideradas estas duas situações, temos ainda outras pessoas que poderiam tomar maiores precauções e contribuir para reduzir o risco de contágio, porém estas pessoas recusam-se a cumprir as orientações e podem ser também os elos da corrente de contágio, que continua a trazer despropositadas perdas de vidas, bem como perdas de condições de dignidade de manutenção futura da vida (trabalho, renda, moradia, segurança etc.).

Nada se compara à perda das vidas, que são sagradas, agora precisamos refletir que, por si sós, as vidas perdidas também destroem famílias e desestruturam sonhos e aquilo que existia simplesmente desaparece de forma absolutamente inesperada. Da mesma forma, temos visto a desesperança daqueles que estão vendo o esforço de uma ou mais gerações, para viabilizar suas empresas e negócios (grandes ou pequenos), que agora simplesmente desaparecem em consequência das medidas de combate exigidas pelas autoridades ou afetados diretamente pela pandemia.

O que precisamos é de uma profunda revisão do sentido e da aplicação da palavra respeito que, segundo a definição da Wikipédia, “demonstra um sentimento positivo por uma pessoa ou para uma entidade (nação, religião, política, dentre outros) e também ações específicas e condutas representativas daquela estima”. Ser rude é considerado falta de respeito (desrespeito), enquanto que ações que honram alguém ou alguma coisa são consideradas respeito…

Respeito por tradições e autoridades legítimas são identificadas por Jonathan Haidt[i][1] como “um dos cinco valores morais[2] fundamentais compartilhados para um maior ou menor por sociedades diferentes e indivíduos diferentes”.

De forma pessoal e muito particular, em relação ao respeito, tenho para mim que este é um sentimento que serve de base para muitos outros, e sequer o amor de pais e filhos subsiste diante da falta de respeito (desrespeito), portanto, neste prisma, fica fácil avaliar as consequências do desrespeito entre as demais pessoas cujo vínculo afetivo é menor do que o existente entre pais e filhos e, somado a isso, o que podemos dizer ainda do termo responsabilidade que deve somar-se ao respeito – aqui, de maneira muito simples e direta, vou destacar o contido no dicionário:

Responsabilidade – Substantivo feminino.

1 – Obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros;

2 – Caráter ou estado do que é responsável.

Agora, vamos trazer tudo isso para uma reflexão no nosso cotidiano: será que as causas da evolução da pandemia estão nas empresas onde ganhamos nosso sustento, ou também são as pessoas que compõem a estrutura funcional destas empresas, as quais, muitas vezes são vítimas da falta de respeito e/ou responsabilidade daqueles que não querem aceitar as medidas preventivas e, por consequência, acabam por se contaminar fora do ambiente de trabalho e então trazem o problema e maiores custos para dentro das empresas com consequências para elas mesmas e, o pior, para suas famílias?

Finalmente, considerando os cinco valores morais de Haidt, citados no rodapé, podemos avaliar:

  • Será que estamos minimizando ou contribuindo com o sofrimento de outros pelo nosso comportamento?
  • Nossa reciprocidade pelo esforço das pessoas que atuam nas atividades essenciais e, de forma especial, dos profissionais da saúde e suas famílias tem sido justa?
  • Estamos sendo leais aos esforços para disponibilizar recursos que estão sendo conduzidos por nossas autoridades e sabemos, como sociedade, que teremos que pagar a conta?
  • Qual nota damos ao respeito necessário às normas sanitárias de distanciamento, uso de máscaras etc.?  Se cada um de nós fizer a sua parte, o todo será resolvido.
  • Finalmente, nossas decisões e comportamento podem ser considerados puros (íntegros) e voltados no sentido de respeito e responsabilidade para com os demais membros da nossa família, comunidade etc.?

Nossas chances de êxito estão diretamente ligadas à condição de que façamos cada um a nossa parte e basta lembrarmos do princípio do mínimo, onde o elo mais fraco determina a maior resistência de qualquer corrente.

As consequências de nossos atos não são individuais e afetam diretamente aqueles com quem nos relacionamos.

Precisamos refletir… E, então, agir com o devido respeito e responsabilidade.

Muito obrigado!

[1] Jonathan Haidt é um psicólogo social e professor de Liderança Ética na Stern School of Business da New York University.
[2] Os cinco valores morais descritos por Haidt são: Cuidar do Sofrimento; Reciprocidade justa; Lealdade interna no grupo; Respeito à autoridade; e Santidade da Pureza.