O machismo e a ignorância

Alguns assuntos têm se transformado em debates acalorados em redes sociais em Mandaguari, e trabalhando em uma empresa de comunicação, por vezes escutamos comentários de todos os tipos. 
Algumas destas mensagens são especulatórias sobre investigações, críticas e algumas vezes trazem até uma solução digamos que mágica para certas situações. Pois bem, dois assuntos nas últimas semanas vêm criando certo burburinho tanto nas redes sociais quanto nas rodas de conversa, um deles é o assassinato na bailaria de 25 anos Maria Glória Poltronieri Borges e o outro é sobre a presença indígena na região da antiga estação ferroviária de Mandaguari.
Em ambos os casos são inúmeros os comentários feitos por leitores do site Portal Agora ou de ouvintes da Agora FM, sejam eles na página do Facebook ou nos grupos de WhatsApp.
Maria Glória Poltronieri Borges ou a Magó como era mais conhecida, entrou para história de Mandaguari da maneira mais trágica que poderia acontecer, vítima de um dos mais brutais e violentos crimes do município. Magó veio até a cidade para acampar na região conhecida como Cachoeira do Massambani, local esse que ela já esteve anteriormente.
Em relatos de familiares e amigos, a bailarina tinha esse hábito de buscar o contato com a natureza. O que pode causar estranhamento para muitos, para ela e sua família isso era comum. Magó foi abusada sexualmente e morta. Seu corpo foi encontrado no dia 26 de janeiro perto da cachoeira pela sua mãe e irmã.
A morte de Maria Glória desde então se tornou assunto obrigatório na cidade, através de comentários muitas vezes cruéis e sem fundamentos. É infelizmente um hábito nosso na maioria das vezes culparmos a vítima, então nessas semanas que se passaram após o crime vi comentários muitas vezes machistas. “O que foi fazer lá sozinha?”, “Ela procurou!”, “Aposto que marcou de encontrar alguém!”, entre tantos outros.
Em relação aos índios que estão na cidade em um “acampamento” em um terreno nas proximidades da rodoviária, a situação vem dividindo opiniões. Há pessoas que não veem mal em ficarem naquele lugar, mas há também pessoas contrárias à sua permanência, principalmente moradores das proximidades.
Recentemente o Jornal Agora abordou o assunto em uma das suas edições, levando as reclamações dos munícipes até as autoridades como o Poder Executivo e ao Ministério Público do Paraná. Ambos afirmaram que formalmente não existem reclamações ou indícios até mesmo de crimes praticados pelos índios, e, que acima de tudo a sua cultura deve ser respeitada e que eles estão na cidade para vender o seu artesanato.
Porém, quando essa matéria foi postada gerou comentários de cunho preconceituoso e discriminatório contra a população indígena, termos como “vagabundos” e acusações foram usados em comentários feitos por moradores. Teorias que os índios estariam no local para dar uma espécie de golpe e transformar a área em reserva indígena foram, além das acusações de supostos furtos praticados por eles.
Vale ressaltar que Mandaguari fica em uma região que no seu passado foi habitada por uma grande população indígena, a prova disso está em achados arqueológicos feitos na região rural da cidade. Outro ponto a ser lembrado é que até mesmo o nome Mandaguari é de origem indígena, e parafraseando um dos comentários, se nós fossemos devolver tudo que por direito é deles, Mandaguari teria que devolver até o nome. 
Esses dois assuntos são apenas uma pontinha de grande iceberg que nos últimos anos vem emergindo, uma parcela da população vem sofrendo um emburrecimento, uma involução de assuntos que vinham avançando em debates para a construção de uma sociedade mais esclarecida.
Já não é novidade ou de ficar espantado que pessoas que se dizem estudadas ou religiosas apoiem ideais que preguem o preconceito, que tentam desqualificar fatos históricos, por exemplo. Espero que Mandaguari, uma cidade que ainda tem aspectos de interior mas que também tem sérios problemas como a violência e tráfico de drogas, não se entregue a essa ignorância travestida do cidadão de bem.