Projeto sobre uso medicinal da Cannabis em Mandaguari recebe indicação para prêmio estadual

Na manhã desta quinta-feira (18), a Agora FM recebeu o ex-vereador Sidney da Silva, conhecido como Chiquinho, e a presidente da AFAM (Associação de Familiares de Autistas de Mandaguari), Dra. Josiane Pires Viana, para uma entrevista sobre a lei municipal que garante o fornecimento de medicamentos à base de Cannabis pelo SUS. A iniciativa, aprovada em 2022, foi indicada ao Prêmio Gestor Público Paraná.

Chiquinho relembrou que a proposta surgiu a partir de debates sobre a necessidade de ampliar alternativas de tratamento para pessoas com autismo e outras condições. “A lei 3.879 assegura o acesso à Cannabis medicinal pelo SUS. Foi um projeto que gerou polêmica, discussões e embates, mas que trouxe dignidade para muitas famílias de Mandaguari”, destacou.

A inspiração para o projeto também esteve ligada a casos locais. A legislação leva o nome de Pedro, filho de Ana Elisa, falecido em meio à luta por tratamentos alternativos. “O preconceito sempre foi um obstáculo. Muitos acreditavam que estávamos dando maconha às crianças, quando, na verdade, falamos de um óleo com uso exclusivamente medicinal”, explicou a Dra. Josiane.

Segundo ela, o canabidiol (CBD) tem sido eficaz no controle da agitação, na melhora da comunicação e na redução de crises em crianças com autismo, sem os efeitos colaterais comuns em outros medicamentos. “Recebemos relatos de mães cujos filhos, que antes não falavam nada, passaram a pronunciar palavras após o início do tratamento”, relatou.

O medicamento, no entanto, ainda é caro e de difícil acesso. Os preços variam entre R$ 700 e R$ 1.700, dependendo da marca e da dosagem, o que representa um custo elevado para as famílias. “Por isso, garantir esse fornecimento pelo SUS foi um passo fundamental”, afirmou Chiquinho.

A elaboração e aprovação da lei envolveram audiências públicas, debates com especialistas e participação ativa de famílias. “Foi uma soma de esforços: Câmara de Vereadores, Prefeitura, AFAM e, principalmente, as mães que foram às ruas defender o direito de seus filhos”, reforçou a presidente da associação.

Hoje, cerca de 50 crianças em Mandaguari recebem o medicamento pelo município. Outros pacientes, que não se adaptaram à marca nacional, seguem recorrendo a opções importadas.

O projeto ganhou repercussão estadual e foi apontado como referência para outras cidades. “Esse reconhecimento não é meu, não é da Câmara ou da Prefeitura. O prêmio é da população de Mandaguari, que conquistou dignidade e qualidade de vida”, disse Chiquinho.

Ele também ressaltou a importância de romper o estigma em torno da Cannabis. “Ainda existe muito preconceito. Mas estamos falando de saúde, de um tratamento que muda vidas. O canabidiol não cura, mas oferece qualidade de vida”, concluiu.