Cenário climático favorece produção, mas custos e preços pressionam o agronegócio, aponta especialista

O agronegócio brasileiro vive um momento de contrastes entre boas condições climáticas para a produção e dificuldades econômicas que pressionam a rentabilidade no campo. A avaliação é de Luiz, conhecido como Luiz da Minorgan (MBR), que analisou o cenário atual durante entrevista à Rádio Agora FM (87,7) nesta terça-feira (30). Ele abordou sobre o clima, produtividade, custos de produção e os desafios enfrentados por agricultores e pecuaristas da região.

Segundo ele, as primeiras semanas de verão têm sido positivas para as lavouras e pastagens, apesar do desconforto provocado pelo calor intenso à população. “Para o ser humano é difícil, mas para as culturas agrícolas o momento é muito bom”, afirmou. No entanto, Luiz alertou para a irregularidade das chuvas, que em algumas áreas não ocorrem há 20 dias, enquanto outras recebem precipitações concentradas e rápidas. Esse fenômeno, conhecido popularmente como “chuva de manga”, tem provocado grandes diferenças de produtividade entre propriedades vizinhas.

No caso das pastagens, o manejo tem sido decisivo. Produtores que investiram em adubação e cuidados com o solo estão com sobra de pasto, enquanto aqueles que não adotaram práticas adequadas enfrentam escassez. Luiz destacou ainda a compactação do solo provocada pelo pisoteio do gado e relatou experiências com descompactação e novos insumos, cujos resultados dependem diretamente da regularidade das chuvas.

A expectativa para a soja é de boa produção, mas com forte variação regional. De acordo com Luiz, há casos em que um produtor pode colher mais de 170 sacas por hectare, enquanto outro, a poucos quilômetros, não passa de 90 sacas. Apesar do potencial produtivo, o problema está na rentabilidade. Os custos de produção variam entre 50 e até 80 sacas por hectare, dependendo da estrutura do produtor e da forma de aquisição dos insumos. Com a saca da soja girando em torno de R$ 116 a R$ 120, a margem de lucro fica cada vez mais apertada.

Para Luiz, os picos de preços registrados em anos anteriores foram situações excepcionais e não representam uma tendência de mercado. Ele avalia que uma soja entre R$ 130 e R$ 140 e um milho a R$ 70 seriam valores mais equilibrados para garantir segurança ao produtor. A realidade atual, porém, é diferente, especialmente para quem trabalha com arrendamento de terras, grupo que, segundo ele, sente com mais intensidade os impactos da alta dos custos e da instabilidade dos preços.

A situação mais crítica, conforme destacou, é a da cadeia do leite. Luiz afirmou que praticamente todos os produtores estão operando no vermelho, sem conseguir pagar as contas básicas. A falta de subsídios no Brasil, ao contrário do que ocorre em outros países, agrava o problema e gera um desequilíbrio significativo no setor.

Por outro lado, o preço mais baixo do milho, atualmente em torno de R$ 50 o saco, tem favorecido o confinamento de gado em sistema de alto grão. A prática, que dispensa o uso de pastagens e se baseia exclusivamente em grãos e concentrados, permite engorda mais rápida e redução de custos, com abates em até 90 dias. Luiz observa que o número de produtores adotando esse sistema vem crescendo na região, indicando uma alternativa viável diante do cenário atual.

Ao final, Luiz reforçou que o agronegócio segue produtivo, mas enfrenta um ambiente de incertezas e margens cada vez mais estreitas. Para ele, o momento exige planejamento, gestão eficiente e cautela, especialmente diante das oscilações climáticas e econômicas que impactam diretamente o dia a dia do produtor rural.