Segurança: Mandaguari cobra respostas do comando e contesta versão sobre efetivo
Na terça-feira (8) o Portal Agora noticiou uma reunião entre autoridades locais e o comando regional da Polícia Militar. A principal reclamação foi o baixo efetivo no Pelotão da Polícia Militar de Mandaguari, dentre outras reclamações.
A iniciativa partiu do Presidente da Câmara, Edilson Montanheri, e reuniu a prefeita Ivoneia Furtado, vice Nei Hising e o vereador Fábio Sukekava. Pela PM, participaram o Tenente Coronel Peres, Capitão Correia e Subtenente Barbieri. Peres é o comandante do batalhão de Sarandi, ao qual Mandaguari pertence após desmembramento de Maringá.
Mandaguari conta atualmente com somente nove policiais militares. As escalas se tornaram de 24 horas, dado o baixíssimo efetivo. Uma viatura da Rotam, obtida através de emenda parlamentar, também foi “levada embora”. O citado fuzil, foi doado através de um “rateio” entre empresas da cidade, também não se encontra mais no pelotão local.
Na quarta-feira (9) o pelotão da Polícia Militar de Mandaguari informou que um policial será incorporado à equipe. Um cabo será o 10° policial da cidade. Outros dois cabos devem ser direcionados para Marialva, segundo apurou a reportagem.
Versão
A reportagem abriu espaço para que a Polícia se manifestasse sobre as acusações e, na quinta-feira (10), o Coronel Peres, responsável pelo 32º Batalhão da Polícia Militar, e o Capitão Correia, chefe da Companhia, concederam entrevista ao vivo na Rádio Agora FM (87,7).
Eles detalharam os desafios enfrentados com a limitação de efetivo, os esforços para reforçar o policiamento, os investimentos em tecnologia e a importância da colaboração entre município, estado e comunidade. Logo no início, o Coronel reconheceu o problema central da segurança pública local: o baixo número de policiais nas ruas. Segundo ele, a situação não é exclusiva de Mandaguari, mas de outras regiões do Paraná.
Perez explicou que a falta de efetivo está diretamente relacionada à defasagem de concursos públicos, agravada por processos burocráticos e fases recursais que atrasam a conclusão dos certames. Apesar disso, garantiu que há perspectiva de aumento do efetivo a partir do próximo ano, com a previsão de uma nova turma de soldados iniciando o curso de formação em janeiro.
“Uma escola de soldados leva cerca de um ano entre o início do curso e o policial estar na rua. Então só poderemos ter uma projeção mais concreta a partir da assinatura de matrícula dos alunos”, explicou.
Segundo o Coronel, Mandaguari está entre as regiões com maior número de vagas previstas no concurso da PM, o que é um indicativo de que o governo estadual reconhece a carência de efetivo na região. “Se o maior número de vagas está aqui, é sinal de que o maior número de policiais formados será destinado para cá”, ressaltou.
Guarda Municipal
A criação da Guarda Municipal de Mandaguari também foi tema da entrevista. O Coronel relatou que já vem prestando apoio à estruturação da guarda, inclusive auxiliando o tenente da reserva Maurí de Camargo, nomeado como chefe da corporação. “É o mesmo problema. A previsão é de um ano, talvez mais, dependendo do andamento dos trâmites”.
Durante a entrevista, o Coronel destacou a importância da transparência com a imprensa e mencionou a existência de um grupo de WhatsApp exclusivo para veículos de comunicação, onde são compartilhadas informações em tempo real. Ele se mostrou aberto a sugestões, inclusive a solicitação de um relatório diário de ocorrências, mas alertou para os limites impostos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “Podemos divulgar dados gerais, mas temos que respeitar os limites legais”, explicou.
Ainda sobre a relação com a comunidade, o Coronel comentou situações de contradições nas cobranças da população. Citou como exemplo um morador que pediu mais blitz em um dia e, no seguinte, alertou em grupos sobre a localização das barreiras policiais. “Todos querem mais policiamento, mas ninguém quer ser fiscalizado. É essa incoerência que enfrentamos diariamente”, lamentou.
A entrevista foi encerrada com o coronel reiterando o comprometimento dos policiais do 32º BPM, que, mesmo com estrutura reduzida, têm apresentado resultados expressivos. “Os nossos policiais não têm preguiça. Estão todos os dias na rua fazendo abordagens, cumprindo mandados e combatendo o crime. A comunidade pode confiar”, concluiu.
Conseg
Na manhã desta sexta-feira (11) a Rádio Agora FM (87,7) recebeu no estúdio o presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança de Mandaguari), Marcelo Siqueira, para falar sobre segurança e policiamento na cidade.
Enquanto a Polícia Militar defendeu a atual estrutura de segurança na cidade, representantes da comunidade e do conselho alertaram para o abandono do município após a criação do 32º Batalhão da PM, com sede em Sarandi.
De acordo com o Coronel, houve redução nos índices de criminalidade. “Nós tivemos uma redução nos índices de criminalidade. Há um trabalho sendo feito, inclusive com o apoio da comunidade. A criação do 32º BPM foi estratégica e atende a região como um todo”.
Para o presidente do Conseg, a realidade nas ruas é diferente dos números apresentados. Segundo ele, a sensação de insegurança cresceu, os homicídios aumentaram e a presença policial diminuiu. “Com todo respeito ao Coronel, mas quem anda pelas ruas sabe. Só em 2025 já são cinco homicídios. Tem tráfico, contrabando, tentativas de homicídio. Os números podem até cair no papel, mas a sensação é outra”, rebateu ele em entrevista.
Um dos principais alvos de crítica foi o desmonte da base da ROTAM em Mandaguari. A cidade havia investido recursos públicos e privados na instalação da unidade, que contava com alojamento e estrutura completa, mas teve sua equipe transferida para Sarandi após a instalação do novo batalhão.
Além disso, viaturas do município estariam paradas por falta de efetivo, enquanto policiais trabalham sob escalas exaustivas. “Temos viatura pronta, estrutura pronta, mas está tudo parado. Os policiais estão esgotados, virando turnos de 24 horas. Isso é inaceitável. O Estado nos abandonou”, disse Siqueira.
Após pressão pública, a ROTAM retornou temporariamente à cidade por dois dias e realizou prisões logo na chegada. Para o Conseg, isso comprova que o problema não é a falta de ocorrências, e sim a ausência de presença policial contínua. “Foi só a comunidade cobrar que a ROTAM veio e prendeu gente. Isso mostra que o crime está aí, solto. O que falta é policiamento”.
Mandaguari possui diversas empresas que operam em turnos de 24 horas, movimentando milhares de trabalhadores durante a madrugada. A ausência de policiamento nesses horários foi outro ponto de destaque nas críticas. “Tem mulher voltando sozinha da fábrica às 3h da manhã, sem viatura na rua. Não temos segurança nos horários mais críticos”, alertou ele.
Em sua fala, o Coronel afirmou que a nova distribuição das equipes visa atender a região de forma mais eficiente e que Mandaguari continua sendo prioridade. Também destacou a colaboração da comunidade e o papel do Conseg. “A ROTAM continua existindo e atua na região. Mandaguari não está desassistida. O diálogo com a comunidade é importante, mas temos que entender que segurança é responsabilidade de todos”.
Apesar das justificativas da PM, a comunidade quer ações concretas. Um dos pedidos é a reavaliação da estrutura do 32º BPM e o retorno da ROTAM com base fixa na cidade. Também cobram aumento de efetivo, viaturas exclusivas e escalas mais humanas para os policiais. Marcelo afirma estar articulando com Consegs de outras cidades e vereadores para poder levar as demandas diretamente ao Governo do Estado. “Se não tem efetivo, que se faça algo emergencial. Que se convoque os inativos, que se use a GM de apoio. Não dá pra esperar mais. Estamos cobrando porque fomos enganados”, finalizou.