O avanço silencioso do vape entre jovens no Brasil

A indústria do tabaco reaproveita o mesmo truque de sempre: associar sofisticação, esportividade e modernidade a um hábito nocivo. Hoje, os cigarros eletrônicos se apresentam como inofensivos, usam de influenciadores para atrair jovens a um vício que poucos imaginam ser tão perigoso.

Esses dispositivos aquecem líquidos com THC ou nicotina em forma de sal, que chega ao cérebro dez vezes mais rápido, além de solventes, aromatizantes, metais pesados (níquel e chumbo) e diacetil. Os cigarros eletrônicos estão ligados ao “Pulmão de Vidro” ou à EVALI, que causa pneumonia, bronquiolite obliterante (“pulmão de pipoca”), levando mais da metade dos pacientes à UTI e pode ser fatal.

O vaping causa dependência veloz, com necessidade de doses maiores, acentuando quadros de ansiedade e déficit de atenção. Há relatos de aumento de pressão arterial, taquicardia e queda na função pulmonar. Baterias de íon-lítio podem explodir, provocando traumas e queimaduras. Além desses danos citados, o aerossol exalado contém partículas ultrafinas e compostos tóxicos que são deletérios aos que estão envoltas.

Os jovens não fumantes que experimentam vapes têm 3 vezes mais chance de migrar para cigarros convencionais e se tornarem fumantes recorrentes. Não existem recomendações médicas de que o vape ajude a cessar o tabagismo convencional, sendo tal prática contraindicada.

No Brasil, apesar da proibição, o número de usuários cresceu 600% em 6 anos, somando cerca de 3 milhões de pessoas. Adolescentes de 15 a 24 anos representam 70% desse total, estimando-se que 1 em cada 15 jovens é usuário recorrente do cigarro eletrônico. É comum encontrar produtos que alegam não conter nicotina, porém a falta de fiscalização dificulta atestar a segurança destes, que muitas vezes trazem doses imprevisíveis da substância.

Diante desse cenário, é urgente reforçar a proibição, intensificar a fiscalização contra o comércio clandestino e promover campanhas educativas que alertam sobre os danos irreversíveis ao pulmão, ao coração e ao cérebro. Não se deixe enganar pela aparência “tecnológica” do vape: este é um risco real para a sua saúde.

Dr. Marcos César Valério de Almeida – Cardiologista
Augusto César Villar de Almeida – Graduando em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, doutorando em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.