“Estamos mudando, mas ainda há muito a caminhar”
No mês de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra, que em 2024 passou a ser considerado feriado nacional. Pensando nisso, conversamos com a professora Alessandra Guimarães dos Santos Medina, professora e pesquisadora das relações étnico-raciais, para conversar sobre como a escola tem atuado no combate ao racismo e sobre o avanço da consciência racial.
Alessandra afirma que o reconhecimento da identidade negra tem crescido dentro das comunidades escolares. “As pessoas têm uma facilidade maior em se enxergar enquanto pessoa negra, em reconhecer sua negritude e não achar que isso é um defeito”, explica. Ela reforça que, anos atrás, era muito comum ouvir alunos e responsáveis evitarem o termo “negro”, preferindo expressões como “morena clara” ou “morena bombom”. Hoje, essa resistência diminui. “Estamos mudando sim, eu acredito que estamos no caminho certo”, afirma. Mesmo assim, lembra: “Ainda tem muito, muito, muito para gente caminhar.”
Como estudiosa da temática, a professora avalia que o racismo vai muito além das ofensas ou ataques explícitos. “Eu enxergo o racismo para além das atitudes… vejo o racismo na estrutura mesmo”, diz, apontando que situações aparentemente simples revelam o problema. “Às vezes ele está sutilmente numa água que caiu e numa sala interira, escolhem a menina negra pra ir lá buscar o pano pra limpar, e a gente faz isso sem perceber.” Para ela, isso mostra como determinadas funções e lugares ainda são automaticamente atribuídos a pessoas negras.
Um dos pontos centrais destacados pela professora é a forma como a escola deve trabalhar a educação antirracista: de maneira contínua, integrada e sem folclorização. “Não é pra parar um momento e dizer ‘vamos trabalhar agora o racismo’. É pra ir costurando a educação antirracista ao longo do ano e de forma interdisciplinar.” Para ela, atividades pontuais, caricaturas de cabelos, representações com rolinhos e desenhos estereotipados acabam reforçando preconceitos. “A gente não pode fazer uma educação antirracista fazendo o que a gente sempre fez.”
A docente cita ainda a importância das diretrizes nacionais e do fortalecimento de políticas permanentes dentro das escolas, com participação de equipes multidisciplinares e formação continuada dos profissionais. Ela destaca iniciativas de referência no Brasil, como a Escola Maria Felipa, cujo currículo tem como eixo as relações étnico-raciais e a ressignificação da história e dos heróis negros. Para Alessandra, esse é um exemplo de como a educação pode avançar quando rompe com o eurocentrismo e reconhece a presença africana e indígena na construção do país.
Ao final, a professora reforça que a luta antirracista não é responsabilidade apenas das pessoas negras. “A luta contra o racismo… se faz com todas as cores”, afirma. E deixa um desejo para o futuro: “Eu sei que é utópico, mas trabalho para que um dia todas as pessoas sejam antirracistas, independente da cor da pele.”, finaliza.
A data de 20 de novembro reforça a importância da memória, da luta e da valorização da população negra no Brasil. No entanto, como destaca a professora Alessandra, a consciência racial precisa ser praticada diariamente, nas escolas, nas famílias e em todos os espaços de convivência. Falar sobre racismo, respeito e equidade não é uma pauta restrita ao calendário, mas um compromisso contínuo para melhorar a nossa sociedade.
