E se o milagre não estiver no extraordinário, mas no cotidiano?

Ao longo da história, aprendemos a associar o milagre ao que rompe a lógica, ao que impressiona. Mas, ao olhar para a vida de Jesus, percebemos algo diferente. Ele não estava apenas nos grandes sinais, mas na mesa compartilhada, na escuta atenta, no cuidado com quem ninguém via. O milagre, muitas vezes, começava antes do extraordinário: no encontro.

Jesus caminhava com pessoas comuns, falava de sementes, de pão, de casa, de trabalho. Mostrava que Deus se revela no simples, no dia a dia e que a transformação verdadeira nasce de pequenos gestos de amor, justiça e compaixão. Talvez por isso, até hoje, o cotidiano seja o lugar onde a fé mais se manifesta.

Quantas vezes olhamos ao nosso redor e, na correria do ano que passa, indo de um lado para o outro, nos esquecemos de agradecer pelo que já temos? Muitas vezes esperamos por algo grandioso, por um sinal extraordinário, e acabamos ignorando as bênçãos diárias, como a vida preservada, o pão de cada dia, o sorriso que insiste em permanecer no rosto mesmo em meio às lutas.

O cotidiano exige atenção, decisões e pressa, mas o tempo com Deus é essencial para manter a chama acesa em nosso coração. Deus faz infinitamente mais, isso está presente na criação do mundo, nos milagres narrados na Bíblia, mas Ele também se revela nos momentos simples, na comunhão, no choro silencioso, no abraço da família.

Deus é Deus do extraordinário, e faz muito mais do que podemos pedir ou pensar. Ainda assim, escolheu lavar os pés dos discípulos para nos ensinar sobre serviço e humildade. Ensinou-nos a orar, a confiar, a caminhar mesmo quando o caminho parece incerto. Mas também nos ensinou algo fundamental: a fé.

E como pedir algo a Deus sem fé? Como esperar respostas se o coração não aprende, primeiro, a confiar? Acredito que o milagre esteja exatamente aí: em reconhecer Deus no cotidiano e permitir que Ele transforme o simples em extraordinário.