Após 35 anos de serviço, subtenente Bergamo encerra carreira

Após três décadas e meia dedicadas à segurança pública, o subtenente José Roberto Bergamo, 53 anos, despediu-se da Polícia Militar do Paraná no dia 1º de maio, ao atingir o tempo máximo de permanência no serviço ativo. Com uma trajetória marcada pela atuação junto à Patrulha Rural, Bergamo deixa um legado de comprometimento, conhecimento de campo e apego ao serviço comunitário.

Natural de Mandaguari, ele iniciou sua carreira em 1991, após aprovação em concurso público estadual. Ingressou no 4º Batalhão da PM em Maringá e, pouco tempo depois, foi transferido para sua cidade natal, onde atuou até 2008. Ao longo do percurso, ascendeu pelas patentes: cabo, sargento e, por fim, subtenente, após 16 anos dedicados exclusivamente à Patrulha Rural, modalidade criada para atender demandas específicas das comunidades do campo, muitas vezes invisibilizadas nas grandes estruturas de segurança pública.

“Era uma época em que se trabalhava muito na raça”, relembra. Em 2009, integrou a equipe pioneira do então recém-estruturado serviço de patrulha rural comunitária, passando a cobrir uma extensa área que compreendia sete municípios entre os rios Pirapó e Ivaí. Comandando a única equipe da região, era responsável por ações que iam do policiamento ostensivo ao trabalho de inteligência. “Não é só franguinho e cafezinho. O campo também é rota de fuga, cenário de crimes e exige muito preparo”, ressalta.

Bergamo viveu de perto a evolução da PM, desde os tempos da máquina de escrever até o uso de tablets e tecnologia embarcada nas viaturas. “Mudou tudo. A minha geração é a ponte entre o papel carbono e o tempo real das redes sociais”, afirma, destacando a necessidade constante de adaptação.

As lembranças da farda, no entanto, não são apenas de progresso técnico. Marcam-no profundamente os episódios de perda e risco iminente, como a morte do colega Cabo Roberto, com quem ingressou na corporação. “Esse tipo de coisa a gente não esquece. Era um irmão de farda”.

Aos que pensam em seguir a carreira, o conselho do subtenente é direto, “É uma profissão espinhosa. Trabalhamos com o que há de mais sensível, vida, liberdade, patrimônio. Quem não estiver disposto a servir de verdade, a lidar com a ingratidão e a trabalhar mesmo quando ninguém vê, melhor procurar outro caminho”.

Agora na reserva, termo usado pela PM para designar a aposentadoria, Bergamo redescobre os pequenos prazeres da rotina civil, noites em casa, convivência com a família, encontros com amigos e a vida religiosa. Mas admite: “A saudade dos colegas e das comunidades rurais bate. Foram anos de convivência, de parceria verdadeira”.

Discreto, simples e avesso aos holofotes, o subtenente Bergamo encerra sua trajetória sem arrependimentos, com a serenidade de quem cumpriu a missão. “O que fica mesmo é a amizade, a saúde e a família. O resto é detalhe”.