A era das cancelas

A concessão que custou caro ao Paraná

Era 1997. O então governador Jaime Lerner anunciava um ambicioso projeto, a concessão de mais de dois mil quilômetros de rodovias paranaenses à iniciativa privada. Surgia o chamado Anel de Integração, que prometia transformar o estado num corredor logístico moderno, interligando regiões, fomentando o crescimento e melhorando a segurança nas estradas. A promessa era pavimentada com duplicações, marginais, contornos e viadutos e, claro, com tarifas justas.

Mas o que começou como esperança logo virou tropeço. Em junho de 1998, os paranaenses começaram a sentir no bolso a nova realidade. A cobrança de pedágios foi implantada com valores considerados altos, e a insatisfação popular explodiu. Pouco tempo depois, em um gesto populista às vésperas da eleição, Lerner cortou pela metade o valor das tarifas. O gesto agradou o eleitorado, mas irritou as concessionárias, que foram à Justiça e passaram a exigir compensações. O resultado? As obras prometidas começaram a ser engavetadas.

Nos anos 2000 e 2002, vieram os termos aditivos. Neles, o Estado flexibilizou cláusulas dos contratos originais, eliminando centenas de quilômetros de obras e concedendo aumentos graduais nas tarifas. A equação era cruel: pagava-se mais, recebia-se menos. O que era para ser um modelo de modernização virou um símbolo de frustração, com marginais prometidas reduzidas de 75 km para menos de 3, e contornos de 37 km encolhendo para apenas 15.

As denúncias não tardaram. Ao longo dos anos, investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal revelaram um esquema de corrupção que envolvia pagamento de propinas, fraudes em contratos e desvios milionários. A Operação Integração, desdobramento da Lava Jato, escancarou o que muitos já suspeitavam: os contratos beneficiavam empresas em detrimento do interesse público.

Mesmo com toda a contestação popular e jurídica, os contratos seguiram firmes até o fim do prazo original. Em novembro de 2021, após 24 anos de concessões, as cancelas finalmente foram abertas. Os pedágios, que durante décadas marcaram a paisagem e o imaginário do Paraná, foram desativados em um cenário de transição, aguardando novos modelos de concessão prometidos como mais justos, com tarifas reduzidas e mais transparência.

O período do pedágio no Paraná, iniciado sob o manto da modernidade, terminou como um caso exemplar do que acontece quando a promessa de desenvolvimento é sequestrada por interesses econômicos e políticos. A estrada que deveria conectar o presente ao futuro foi, por vezes, um labirinto de tarifas, litígios e escândalos. A pergunta que ecoa, mesmo com as cancelas erguidas, é esta: o Paraná aprendeu com essa travessia? Ou estaremos, novamente, apenas mudando o número do contrato e a placa da empresa?

Movimento Tarifa Zero liderou protestos contra pedágio na BR-376

Criado por moradores de Mandaguari, o Movimento Tarifa Zero ganhou destaque no Paraná por liderar protestos contra a cobrança de pedágio na BR-376, especialmente na praça localizada no município. O movimento surgiu em 2017, quando a população reagiu ao alto valor das tarifas e à tentativa da concessionária Viapar de fechar o acesso pela estrada rural Terra Roxa, usada como rota alternativa gratuita.

As manifestações reuniram centenas de pessoas e chegaram a ocupar a praça de pedágio, abrindo cancelas e interrompendo a cobrança. A mobilização resultou em um acordo que garantiu 80% de desconto para veículos com placas de Mandaguari, medida que vigorou até o fim dos contratos de concessão em 2021.

Além do grupo Tarifa Zero, professores, estudantes e integrantes de movimentos sociais também participaram de ações na praça, reivindicando isenção e melhorias no acesso. O caso de Mandaguari é considerado um dos exemplos mais expressivos de resistência popular ao pedágio no estado.