A costela saiu de cena, mas o bar segue firme e forte

O ano era 1995, então com 26 anos, José Marques Monteiro decidiu fechar o açougue que tinha na Avenida Amazonas e buscar um novo negócio. Alguns anos antes, ele havia começado a assar costela em uma pequena churrasqueira de metal com o objetivo de gerar uma renda extra para o estabelecimento, que enfrentava sérias dificuldades financeiras. A ideia ajudou a reforçar o caixa, mas não resolveu o problema.

Naquela época, Monteiro também vendia peixes na feira livre que acontecia na Avenida Firmino Corazza e notou que nas imediações, uma sorveteria que funcionou por pouco tempo no prédio do antigo Hotel Lisboa tinha encerrado as atividades. “Vi que seria um bom lugar para montar um bar, onde eu poderia vender bebidas e continuar assando costela. Conversei com o dono e consegui alugar esse ponto. Eram só duas portas, a gente assava a carne na calçada”, conta.

No início, a carne era assada em uma churrasqueira na calçada.

Ele não imaginava, mas aquela decisão mudaria a sua vida e a forma como passaria a ser chamado pela população de Mandaguari: “Zé da Costela”. O que ele também não sabia era que o negócio “engrenaria” tão rápido como foi. “Quando fechei o açougue sobrou muita carne que eu congelei. Aí tive a ideia de fazer uns espetinhos para dar como aperitivo para os clientes que estivessem consumindo as bebidas. Um dia fui levar minha esposa para a faculdade e deixei meu irmão cuidando do bar. A gente assava o espetinho aqui do lado de dentro, mas ele colocou a churrasqueira na calçada. Aquilo chamou a atenção de quem passava, porque naquela época ninguém fazia espetinho na cidade. As pessoas vinham perguntar quanto era e quando eu cheguei, ele já estava vendendo. Resultado: no outro dia estava eu no açougue comprando carne pra fazer mais espetinhos. Foi um espetáculo, em questão de três meses o bar já estava sempre lotado”, relembra.

Estabelecimento familiar que cresceu sem perder sua essência
O comerciante conta que em quase trinta anos de funcionamento, o Barzinho da Costela passou por altos e baixos e enfrentou muitos desafios. “Nesses momentos de dificuldade muita gente me ajudou e eu consegui me recuperar, por isso sou muito grato a todos que me apoiaram”, comemora.

No entanto, as adversidades nunca o fizeram desanimar. Ao fazer uma retrospectiva, é nítido o quanto o estabelecimento cresceu ao longo desses anos. No início, ocupava apenas duas pequenas portas comerciais. Hoje são cinco portas, além de uma cozinha externa e o pátio lateral do imóvel, que também é utilizado para atender os clientes. Mesmo assim, o espaço mais disputado continua sendo as mesas que ficam na calçada.

O cardápio também mudou e passou a oferecer vários pratos e porções que no início sequer eram cogitadas pelos proprietários. Com o crescimento, a família de Zé da Costela acabou se juntando a ele na administração e na linha de frente, fazendo com que não só o ambiente, mas também o negócio se tornasse totalmente familiar.

Essa característica faz com que o bar seja frequentado por um público extremamente variado. Não importa o dia, quem chega ao local sempre se depara com pessoas das mais diferentes idades e classes sociais. Questionado sobre os motivos que levaram seu estabelecimento a receber clientes com perfil tão diversificado, Zé é enfático: “Aqui a gente trata todo mundo com respeito e carinho. Não importa quanto a pessoa vai gastar, todo mundo é bem tratado. E também preparo tudo com muito amor. Então eu acho que é por isso que as pessoas gostam daqui”, afirma.

A costela sai de cena
Desde a abertura do bar, a costela assada pelo “Zé” foi uma referência, tanto para o estabelecimento como para a cidade de Mandaguari. Aos domingos, era comum os clientes formarem uma enorme fila na calçada para comprar o prato que dá nome ao estabelecimento e que rendeu ao proprietário uma Moção de Aplauso, concedida pela Câmara Municipal em 2022.

José Marques Monteiro, o Zé da Costela, com a esposa, filho e neta durante evento no qual recebeu Moção de Aplauso da Câmara Municipal.

Mas no mês passado os clientes foram surpreendidos com uma notícia: o bar continuará funcionando, mas deixa de abrir aos domingos e a costela assada não será mais servida. A decisão foi tomada por motivos pessoais. Após quase três décadas, o proprietário entendeu que precisa dedicar mais tempo para a família. “No começo, a gente abria de segunda a segunda. Teve uma época que também servíamos almoço durante a semana, trabalhávamos o tempo todo, só fechava na sexta-feira santa”, lembra.

José explica que, embora só fosse servida aos domingos, o preparo da costela é extremamente trabalhoso e demorado e a limpeza depois também demanda muito esforço. “No domingo, levantava às três e meia da manhã e às vezes a gente ficava aqui as cinco da tarde”, diz. Ele conta que há algum tempo familiares já vinham cobrando uma mudança no ritmo de trabalho. “Minha filha nasceu pouco depois de eu abrir o bar e faleceu em 2021. Ela sempre falava para irmos para a praia juntos, para fazer uma ceia em família na praia. Depois que abri, nunca fiz um churrasco de Natal com família. Infelizmente, não vou poder fazer isso com ela. Por mim eu ainda trabalharia assim por mais uns dez anos, mas minha família merece uma atenção também”, ressalta.

A “despedida da costela” foi no dia 18 de maio, quando dezenas de amigos e clientes fizeram uma verdadeira festa no estabelecimento para marcar a último dia dos assados no local. Desde então, o comerciante e sua família vêm tentando se adaptar à nova rotina dominical. “Ainda estou meio perdido. Às vezes eu acordo e acho que tenho que levantar pra vir assar a carne, mas vou me acostumar”.

“Sou muito grato a todos que me apoiaram”