É seguro, mas exige responsabilidade
Por: André De Canini*
Um dos assuntos mais comentados no final de semana foram os dois acidentes que ocorreram nos últimos dias com balões tripulados e que resultaram na morte de nove pessoas. Essas tragédias levantaram questionamentos sobre a segurança da prática do balonismo, uma modalidade de voo livre que acontece em todo o mundo e costuma mexer com o imaginário das pessoas.
Como assessor de comunicação, tive a oportunidade de atuar em eventos de balonismo, o que me permitiu conhecer mais a fundo o esporte e alguns dos principais pilotos do Brasil daquela época. Nessas ocasiões, também realizei alguns voos e integrei equipe de apoio e resgate. E é justamente por conhecer de perto esse universo que concordo com a Federação Aeronáutica Internacional (FAI). A entidade afirma que o balonismo é o esporte aéreo mais seguro do mundo, desde que respeitados os fatores como pilotagem, equipamento e ambiente.
Antes de embarcar em um voo, é importante se certificar da experiência e da responsabilidade do piloto que comanda a aeronave. Além de ser devidamente habilitado, é fundamental que as condições climáticas sejam respeitadas. Os voos só podem ocorrer se a velocidade do vento estiver dentro dos limites que garantam a segurança da decolagem, do voo e do pouso. Essa velocidade é em torno de 10 km/h. Ventos mais fortes do que isso aumentam os riscos, principalmente para aeronaves maiores, que carregam muitos passageiros, como aquelas que se envolveram em acidentes no interior de São Paulo e Santa Catarina.
Outro aspecto essencial a ser observado são as condições dos equipamentos. Na aviação, no motociclismo, no automobilismo e em tantos outros esportes radicais, tudo precisa estar funcionando perfeitamente, pois qualquer falha pode ter consequências graves e até fatais. Com o balonismo não é diferente. No caso de Santa Catarina, pelo que se sabe até o momento, a tragédia foi causada por uma combinação de dois fatores: vazamento de gás em um dos cilindros e um extintor de incêndio que não funcionou.
O problema é que, embora essenciais, não há uma regulamentação e tão pouco fiscalização para aferir esses pontos. Ninguém pede para ver a habilitação do motorista ao embarcar num táxi. Antes de uma viagem, ninguém vai checar se os freios do ônibus estão em bom estado. Ninguém exige o laudo de inspeção e manutenção regular do avião na hora de fazer o check-in. Pressupõe-se que as referidas empresas têm boa fé e cuidam desses detalhes. Da mesma forma, espera-se que os órgãos e autoridades responsáveis façam o que lhes cabe para garantir que os meios de transporte oferecidos ao público estejam em conformidade com as normas legais e de segurança. Com o balonismo deveria ser assim, mas não é.
Após a tragédia do último final de semana, autoridades começaram a se mobilizar para tentar regulamentar a prática do balonismo, em especial, os voos de passeio. Tomara que isso avance, para que acidentes como esses não voltem a ocorrer e as pessoas que desejarem, possam desfrutar com segurança e tranquilidade da maravilha que é voar de balão.
*O autor é jornalista e já atuou como assessor de imprensa em campeonatos e festivais de balonismo.