Tem de haver algum jeito
Tinha pensado em falar da porteira de Mandaguari. Os últimos lotes do pedágio no Paraná serão leiloados neste outubro que se aproxima. Mais próxima também a volta da cobrança, certamente salgada pra uma cidade que depende de Maringá. Mas não.
Poderia ter falado com algumas fontes, pesquisado sobre o tema, lido uma parafernália de parágrafos ininteligíveis em documentos públicos, trazido alguma informação em primeira mão. Essas coisas que ando fazendo há quase duas décadas. Mas não.
Mesmo sem informação nova, daria pra dizer que o governador mentiu pra você, que radares atrás das moitas pagaram a conta do atraso, e até relembrar que as obras que a Viapar não entregou continuam nos matando. Mas não. Não deu.
Às vezes — ou muitas vezes — é isso. Não dá mesmo. E nem é porque a gente não quer. É porque, pois bem, não dá mesmo. Ninguém escapa do dia em que conhecerá os próprios limites. E pode haver mais de um desse.
Já se foram quatro parágrafos e não disse a que vim. Um crime jornalístico chamado nariz de cera — e um desrespeito com o leitor. É que tem assunto que não dá pra chegar assim, do nada. Pelas beiradas ninguém nunca queimou a boca.
Deram um banho de amarelo em setembro. Peças publicitárias, ações de conscientização sobre a importância da promoção da saúde mental, do bem-estar emocional, da prevenção ao suicídio. Deram também um chocolatinho pro funcionário sobrecarregado e mal remunerado. Um mês é pouco. E os dias bem longos para atravessar.
Aqui eu poderia falar da lógica perversa do capital, da exploração da mão de obra a qualquer custo, das desigualdades e dos nossos diferentes pontos de partida. Mas não. Aqui eu vou falar pra você que mamãe não mente pra mim.
Por isso, digo que deve haver alguma saída. Mesmo não sabendo qual. Tem de haver algum jeito. Mesmo não sabendo como. Lembre-se de cuidar de você e de que existe ajuda profissional disponível. De outra parte, dá pra ser mais leve com os outros, oferecer apoio, considerar os contextos, ser humano.
E sobre o pedágio. Bem, nunca vi porteira segurar multidão.
Ederson Hising
jornalista e ex-editor do Jornal Agora