O agro é inimigo do meio ambiente?

Com certeza, você já leu, ouviu ou assistiu a alguma reportagem dizendo que o grande vilão do meio ambiente é o agro. Afinal, dizem que o agro desmata, polui, envenena e mata. Mas será que tudo isso é verdade? Será que o agricultor é, de fato, o grande vilão do meio ambiente?

Sei que pode parecer tendencioso um agricultor falar sobre isso. No entanto, acredito que esse é justamente o problema: os agricultores acabam se calando diante das acusações e não se defendem, e assim a desinformação toma conta do imaginário popular.

Quando procurei o Portal Agora para falar sobre agricultura, meu objetivo era justamente abordar o agronegócio e ajudar a disseminar nosso ponto de vista — o ponto de vista de quem está no campo — para você, que não é do agro. E também para que você, que é do agro, sinta-se acolhido e saiba que não está sozinho.

Na minha visão, o agro é um dos setores que mais preserva o meio ambiente — sim, exatamente o oposto do que muitos pensam. O setor agropecuário depende profundamente do meio ambiente por inúmeros motivos. Então, por que seríamos os grandes vilões?

Claro, não estou aqui para isentar todos os produtores. Existem, sim, agricultores que adotam práticas erradas, visando apenas a extração do solo, desmatando e utilizando defensivos agrícolas de forma inadequada. No entanto, esses produtores não representam a maioria, e não é justo que os bons paguem pelos maus.

Para se ter uma ideia, o Brasil produz cerca de 2,4 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano, dos quais aproximadamente 600 milhões são atribuídos à agropecuária. Por outro lado, só o cinturão citrícola do sudoeste brasileiro retira da atmosfera cerca de 133 milhões de toneladas por ano. Algumas pesquisas mostram que a soja, quando cultivada por meio do plantio direto, chega a sequestrar mais carbono do que emite.

No Brasil, as áreas preservadas por produtores rurais somam cerca de 25% do território nacional. É como se cada produtor utilizasse apenas metade da sua terra para a produção agrícola. Essas áreas preservadas incluem matas ciliares, reservas legais e vegetação nativa excedente.

No Paraná, está em andamento um programa que, até 2026, pretende proteger mais de 30 mil nascentes em propriedades agrícolas. Além disso, a agricultura de precisão — que utiliza GPS, drones, inteligência artificial e softwares de alta tecnologia — permite identificar com exatidão as necessidades de adubação e aplicação de corretivos, metro a metro. Isso reduz drasticamente o uso de defensivos agrícolas e fertilizantes químicos, promovendo uma agricultura mais sustentável.

É claro que ainda temos muito a melhorar. Mas, com certeza, não somos os vilões do meio ambiente.

Faça um teste simples: use o Google Earth e percorra o Rio Tietê desde sua nascente até a capital paulista. Você verá quem realmente polui. Ou então, observe o Rio Paraná e suas matas ciliares — e compare com rios na França ou nos Estados Unidos. Vai perceber que o Brasil, nesse aspecto, é diferenciado.

O problema é que muitas pessoas acreditam que o produtor rural acorda todos os dias pensando: “Vou desmatar uma floresta” ou “Vou aplicar veneno nas lavouras”, como se isso não tivesse um custo econômico e de tempo. Como produtor, posso afirmar: o que menos queremos é desperdiçar dinheiro e tempo.

Portanto, antes de repetir o discurso de que “o agro mata”, pesquise, informe-se e reflita. Porque é muito fácil criticar enquanto não falta arroz e feijão no prato. Difícil vai ser quando faltar.

Paulo Paggi Junior

Gestor em Agronegócios

Agricultor