O conforto de um conselho

Eu tenho um amigo que, na adolescência, costumava me chamar de conselheiro, e já ouvi de algumas pessoas, que eu tenho bons conselhos para dar. À primeira vista parece ser um bom elogio. Passa a sensação de sabedoria, inteligência e visão ampla. Mas há alguns poréns, e é sobre um deles que eu quero falar. O conforto.

Dar um conselho não requer tomar atitude, colocar um plano em prática, romper padrões difíceis, mudar o comportamento ou reações diante de algum fato da vida. São palavras de orientação. Não desmereço o valor motivacional das palavras, sei o quanto elas podem ajudar, no entanto, esse é o papel de um conselho e somente esse.

Dar um conselho pode vir de alguns lugares internos da pessoa que os entrega, e muitas vezes vem de conhecimento profundo, oriundo de dores passadas e feridas cicatrizadas, ou não. Esses são os melhores conselhos, é claro. Porém existe um outro tipo de conselho, que é o de conhecimento superficial, adquirido através de muitos filtros de terceiros, sem a prática e vivência necessária. É comum encontrarmos esses nos discursos de coachs e motivadores profissionais.

Pensando nesses, percebo que há coisas que são muito bonitas na teoria, ainda mais se embaladas por uma música extremamente emocional, em um vídeo curto, porém a prática requer muito mais que palavras rasas e músicas fervorosas, e é nesse momento em que o conflito  e decepção acontecem.

Meu amigo Diego, me contou a história de um grande amigo, exímio baterista, que sozinho era capaz de realizar as mais absurdas viradas de seu instrumento de percussão, porém quando convidado a tocar em uma banda, nunca conseguiu acompanhar os outros instrumentos e o improviso necessário para fazer dar certo.

Teoria e prática. Projeção e realidade. Ver ou viver. Sempre o confronto desses carece de coragem e ação para se ter sucesso na empreitada. As palavras motivam, a ação é que transforma. E essa é a importância da palavra dita com substância e experiência.

Por isso hoje rejeito o papel de conselheiro, e indico a quem quer aconselhar, que se certifique de ter tido a prática para entregar um conselho honesto. Isso ajudará a revisitar aquela experiência, e diante das suas limitações, talvez ajudar alguém.