A inteligência e a crueldade

O título desse texto gera um sentimento de incoerência, não é? Afinal, as duas palavras parecem antagonistas. É natural que pensemos que a inteligência deva ser usada sempre para a melhoria da vida humana, certo? Bom, não é correto afirmar isso, assim como não é correto afirmar que idosos são sempre sábios, visto que os canalhas também envelhecem.

Certo, mas como a inteligência pode ser cruel? Eu consigo pensar em vários exemplos da história em que a inteligência foi usada de forma cruel. Um deles, cujo tema voltou à grande mídia graças ao filme Oppenheimer, é a bomba atômica. A tecnologia nuclear poderia ser usada apenas para elevar nossa qualidade de vida, já que é um tipo de energia limpa, trouxe descobertas em diversos ramos médicos e tecnológicos, porém, uma de suas primeiras aplicações foi justamente militar, e o pior, em uma guerra já vencida e detonando a bomba em duas cidades civis, matando duzentos e quatorze mil inocentes.

Então qual seria o contraponto? Como trazer a inteligência humana para servir ao nosso planeta? A resposta é; a EMPATIA. Inteligência sem empatia gera crueldade, leva a comportamentos egoístas, insensíveis, manipuladores, pode tirar vantagem de situações, explorar fraquezas alheias, e com certeza, levar à arrogância e ao autoritarismo.

Para defender meu argumento de que a empatia é a chave, citarei pensadores muito melhores que eu, de vertentes muito diferentes, mas que concordavam nesse ponto em específico.

Immanuel Kant, mesmo defendendo ferrenhamente que a razão pura deveria guiar a ação humana, disse a seguinte frase: “A empatia é a base da moralidade”.

Schopenhauer disse uma frase quase idêntica, “A compaixão é a base da moralidade”. Apesar de ser um Crítico de Kant, e afirmava que a vontade de viver era a força motriz da existência humana, porém essa vontade é cega, egoísta e fonte de sofrimento. Tendo a compaixão como única forma de escapar dessa condição.

Aqui cabe uma discussão. Se a inteligência sem empatia gera crueldade, a empatia sem inteligência gera o quê? A resposta é; Ingenuidade.  Que por definição não é má, como a crueldade o é, mas causa mal a quem a possui, pois esse se torna vítima do cruel, é manipulado pelo interesseiro, perde vantagens para o aproveitador e padece perante os insensíveis, arrogantes e autoritários.

Cabe finalizar dizendo que, empatia é um comportamento, não um sentimento. E como comportamento, pode ser aprendido, desenvolvido e melhorado. Exatamente como a inteligência. Sendo assim, é crucial desenvolver nossas habilidades intelectuais na mesma proporção que nossas habilidades empáticas.

Nosso futuro como espécie depende disso.