Muita estrela e pouca constelação

Coluna do dia 30 de setembro de 2022

Jardim Delgado

A novela na qual se transformou a construção do asfalto no Jardim Delgado teve um novo capítulo esta semana, mas isso não significa que ela esteja caminhando para um final feliz.

Contrato cancelado

Alegando recorrentes descumprimentos contratuais, a Prefeitura cancelou o contrato com a empreiteira. Com isso, a obra que já se arrasta há vários e vários meses ainda deve demorar para ser concluída. Mesmo que a empresa não recorra da decisão, levará muito tempo até que aconteça uma nova licitação e outra empreiteira possa dar continuidade aos trabalhos.

Reforma

A Prefeitura de Mandaguari lançou esta semana uma licitação para reformar o Paço Municipal. As obras preveem a troca de todo o telhado, inclusive a estrutura, melhorias nas instalações elétricas, troca de forro e pintura do prédio. O valor máximo dos serviços foi estimado em R$ 1 milhão.

Funcionalismo

E mais uma vez a relação entre a administração municipal e o funcionalismo público está estremecida. Na última quinta-feira dentistas da Secretaria de Saúde fizeram uma paralização. Somente casos de urgência foram atendidos. Eles reclamam da questão salarial, da falta de profissionais e das condições de trabalho. Há inclusive relatos de que equipamentos essenciais para o atendimento dos pacientes estariam aguardando conserto há mais de 90 dias.

Sem resposta

A categoria afirma que decidiu cruzar os braços como forma de protesto porque eles já teriam levado essas reclamações ao conhecimento da administração e estavam há quase dois meses sem uma resposta.

Nota de esclarecimento

Após o anúncio da paralização a Prefeitura emitiu uma nota falando sobre o caso. No entanto, dos pontos levantados pela categoria, apenas um é abordado diretamente: a questão salarial. De acordo com a administração, é impossível conceder o percentual de aumento reivindicado pelos profissionais, que é de 35%. Ainda segundo a nota, a aplicação do piso salarial dos dentistas é motivo de controvérsias judiciais e que só pretende discutir esse reajuste em março, que é data base do funcionalismo municipal.

Investimentos

Também esta semana aconteceu a audiência pública para apresentação das metas fiscais do município no segundo quadrimestre do ano. Um detalhe que chamou a atenção é que de janeiro a agosto a prefeitura empenhou apenas R$ 3 milhões, dos R$ 32 milhões previstos para investimentos no orçamento deste ano. Questionada pelos vereadores sobre esses valores tão baixos, a secretária de Finanças, Marcia Mantovani explicou que com as licitações que estão em andamento, até o final do ano os recursos empenhados devem alcançar cerca de 85% do que estava previsto.

Polícia na rua

No último final de semana a Polícia militar realizou uma grande operação em Maringá. Todo o efetivo da corporação foi colocado nas ruas para intensificar o patrulhamento ostensivo, fazer abordagens em pessoas e fiscalizações em veículos e estabelecimentos comerciais. A ideia é muito boa e deveria ser estendida para outras cidades que fazem parte o 4º Batalhão. Em Mandaguari, por exemplo, há muito tempo não acontece uma ação semelhante.

Eleições

Como esta é a última edição da coluna antes das eleições, vamos discorrer sobre alguns pontos que observamos nesse período de campanha.

Foco errado

O primeiro ponto é que, infelizmente, mais uma vez as campanhas para deputado foram pautadas majoritariamente em torno de recursos que os parlamentarem viabilizaram ou prometem viabilizar para as bases eleitorais. Como já dissemos várias vezes aqui nesse espaço, a função dos deputados, sejam eles estaduais ou federais, é legislar e fiscalizar o Executivo.

Corretagem

No entanto, a maioria das pessoas que ocupam ou pleiteiam esses cargos se apresentam para a sociedade como se fossem corretores de verbas públicas. Quem conhece um pouco dos bastidores do poder sabe que quase sempre a liberação de emendas parlamentares está atrelada aos votos incondicionais em favor do governo ou de vistas grossas em relação aos atos questionáveis de quem está no poder.

(in)Fidelidade partidária

Uma das questões que também chamaram a atenção foi que em Mandaguari e região grande parte dos políticos não levaram em conta a fidelidade partidária na hora de definir quem iriam apoiar na campanha.

Desinformação

Outro fato lamentável foi o nível de desinformação de pessoas que em tese são esclarecidas e deveriam ter consciência (ou seria mais responsabilidade?) sobre aquilo que falam ou ajudam a disseminar.

Logomarca

Um exemplo foi a “indignação” de alguns apoiadores do presidente da república quando os governos municipais e estaduais ocultaram a logomarca do governo federal em placas de obras e adesivos de veículos. Muitos afirmavam que se tratava de uma ação orquestrada pelos “comunistas” para prejudicar o presidente, quando na verdade estava-se apenas cumprindo o que é determinado pela legislação eleitoral desde 1997. Há exatos 25 anos, durante os três meses que antecedem as eleições, é proibida a divulgação de logomarcas governamentais em qualquer tipo de publicação. Isso já aconteceu em eleições seis municipais e seis eleições gerais, mas só agora esses indignados se deram conta.

Anulação de votos

Ainda sobre a desinformação, faltando dois dias para o pleito, ainda circulam em redes sociais e grupos de whatsapp textos afirmando que se o eleitor deixar de votar para algum dos cargos em disputa seu voto é anulado. Essa é outra aberração. Se fosse assim não existiriam os votos brancos. Quem já se deu ao trabalho de observar o resultado de alguma eleição certamente viu que eles existem. Uma busca rápida no Google também ajudaria muito evitar que esse tipo de informação falsa continuasse circulando.

Prisão

Mais incrível ainda é ver pessoas que se surpreendem com o fato de que nos dias que antecedem o pleito, os eleitores só podem ser presos se for em flagrante. Essa regra existe desde 1965. Ou seja, isso já ocorre há quase 60 anos, portanto não é nenhuma novidade.

Vigília

Um grupo de mandaguarienses pretendia fazer uma vigília próximo a um dos locais de votação na noite de sábado para domingo. A intenção era passar a noite toda rezando pela eleição dos candidatos que eles apoiam. No entanto, os organizadores foram orientados a abandonar a ideia, pois a partir da meia noite do dia da eleição só podem ocorrer manifestações individuais. Qualquer ato em que haja concentração de pessoas em prol de uma ou mais candidaturas é crime eleitoral.

Apagada

Pela primeira vez em muitas décadas, Jandaia, que já foi considerada a “capital política do Vale do Ivaí”, não teve nenhum representante na corrida eleitoral. Em que pese o fato do governador Ratinho Junior ter nascido na cidade, nenhum político que tenha lá sua residência ou domicílio eleitoral registrou candidatura.

Deputados estaduais

No passado Jandaia já elegeu dois deputados estaduais: Antônio Costenaro, em 1986 e 1990, e Miltinho Pupio em 1994, 1998 e 2002. Em 2006, quando morava em Jandaia mas tinha domicílio eleitoral em Mandaguari, Miltinho ficou na suplência, mas depois acabou assumindo o cargo.

Federais

Jandaia também teve dois representantes na Câmara Federal: Pinga Fogo, em 1990 e José Borba, eleito em 1994 e reeleito em 1998 e 2002.

Renúncias

Uma coincidência é que os depois deputados federais que Jandaia elegeu acabaram renunciando. Em 1994, faltando nove meses para terminar o mandato e com reeleição praticamente garantida, Pinga Fogo renunciou alegando que por ser um deputado do chamado “baixo clero”, não tinha força política para fazer o trabalho ao qual havia se proposto. Depois disso ele nunca mais disputou nenhuma eleição. Em 2005, José Borba exercia o terceiro mandato quando foi denunciado, e posteriormente condenado, no escândalo do mensalão e renunciou para fugir do processo de cassação na Câmara, preservando assim os direitos políticos. Ele continuou atuando nos bastidores em Brasília por muito tempo e ainda exerceu um mandato como prefeito entre 2009 e 2012.

Muita estrela e pouca constelação

A música composta por Raul Seixas e Marcelo Nova há 35 anos retrata bem a situação dos viadutos que devem ser construídos na PR-444. Nas últimas semanas o que não faltou em Mandaguari foi candidato a deputado querendo ser o pai da criança e prometendo liberar recurso para as obras. Curiosamente nenhum deles mencionou o fato de que o projeto está parado há quase um ano no DER porque precisa de alterações para atender as normas técnicas. Sem isso as obras não sairão do papel.