Seremos a última geração vendo a natureza respirar?
Quando criança, eu ouvia meu pai contar histórias sobre o trabalho no sítio e sobre a saudade que sentia daquele tempo. Ele falava do ar puro, das estações do ano que seguiam um ritmo certo e da sensação de equilíbrio que, segundo ele, parecia natural. Eu não entendia muito bem o que aquilo significava, mas um dia acabaria entendendo.
Na escola, por outro lado, aprendia sobre o desmatamento das florestas, a falta de água em algumas regiões e a responsabilidade que todos temos de cuidar do meio ambiente. Parecia um discurso distante, quase teórico. Hoje, é estranho pensar que as consequências do desmatamento, do uso excessivo de recursos e da poluição chegariam tão rápido.
Agora compreendo quando meu pai falava com saudade daquele tempo. Não que a poluição não existisse naquela época, pois existia, e talvez ainda mais silenciosa, já que campanhas de conscientização praticamente não havia. Mas as consequências não eram tão visíveis quanto são hoje.
E hoje a ciência deixa claro que a situação é séria. Especialistas alertam que, se não conseguirmos reduzir os impactos das mudanças climáticas, o planeta pode enfrentar uma extinção em massa parecida com a do Período Permiano, quando 90% das espécies desapareceram. Ou seja: não é um exagero, é um risco real.
Não dá mais para tratar as mudanças climáticas como previsão distante, nem o cuidado ambiental como dever apenas das futuras gerações. Os efeitos estão aqui, em temperaturas irregulares, nas chuvas intensas, na estiagem inesperada, nos produtos que encarecem porque a natureza já não dá conta de sustentar os excessos.
Cuidar do que temos agora é a única forma de garantir que, um dia, outras crianças possam ouvir sobre o passado com carinho, assim como eu ouvia meu pai, e não com a sensação de que fomos os últimos a ver a natureza respirar com tranquilidade. E que a saudade que meu pai sentia do sítio não vire, para as próximas gerações, saudade de um planeta que deixamos escapar.
