‘Pague um, leve dois’: a disputa pelo governo do Paraná

Aquele papo de que o que vai acontecer já está acontecendo é bem verdade na política. A cada dois anos, vemos uma eleição atrelada à outra. A disputa para o governo do Paraná começou a ser costurada mais fortemente no ano passado — o que qualquer envolvido negaria se perguntado com o microfone ligado.

Existe um padrão claro. Desde 1994, o governador eleito fica dois mandatos no Palácio Iguaçu: foi assim com Jaime Lerner, Roberto Requião, Beto Richa e Ratinho Jr. É o “pague um, leve dois” da política paranaense. E por isso também não faltam interessados.

A costura nas eleições municipais foi uma estratégia adotada por todos os ex-governadores e o atual para garantir oito anos no poder. Os compromissos são firmados na disputa municipal. Com a máquina e os prefeitos na mão, as chances aumentam consideravelmente.

Uma manifestação desse sintoma foi mostrada neste mês pelo repórter Juliano Galisi, em reportagem no Estadão. A pré-candidatura do ex-juiz e senador Sérgio Moro (União Brasil) causou uma debandada de prefeitos do Progressistas (PP) no Paraná.

O levantamento com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que dos 61 prefeitos eleitos em 2024, 18 deixaram a sigla desde a oficialização da federação PP-União Brasil — que levou a reboque a pré-candidatura de Moro. Dirigentes do partido contaram ao repórter que o número de dissidentes é ainda maior, chegando à metade da bancada eleita no ano passado.

Pegando apenas os 18 dissidentes, 11 ainda estão sem partido e 7 foram justamente para o PSD de Ratinho Jr. O movimento evidencia os acordos firmados na eleição municipal e, por que não, o medo dos prefeitos de não terem parcerias e convênios assinados pelo governo estadual. PP e União Brasil fizeram, e de certo modo ainda fazem, parte da base de Ratinho Jr.

As pesquisas de intenção de voto para governador publicadas até agora colocam Moro à frente da disputa. Do grupo de Ratinho Jr., o secretário das Cidades, Guto Silva (PSD), é um dos principais cotados, ao lado do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Alexandre Curi (PSD). Rafael Greca (PSD) também está de olho.

Na disputa pelo governo, nomes como Paulo Martins (Novo), Enio Verri (PT), Requião Filho (PDT) e Cida Borghetti (PP) surgem nas projeções como adversários para a tentativa de Ratinho Jr. eleger um sucessor. A Genial/Quaest mostrou, inclusive, que 70% dos paranaenses acreditam que o governador merece dar os rumos da sucessão.

De todos os citados, sei que dificilmente algum empolgou quem lê esta coluna. A realidade está posta. Vamos possivelmente discutir sobre o menos pior até outubro do ano que vem. E vale o lembrete: é sempre bom desconfiar das promoções.

Ederson Hising

Jornalista e ex-editor do Jornal Agora