Geada atinge lavouras e acende alerta no campo

A geada registrada no fim de junho atingiu diversas regiões do Paraná, deixando rastros de perdas pontuais, mas preocupantes para a agricultura. Em Mandaguari, embora a cafeicultura tenha escapado dos maiores danos, culturas como o milho, hortaliças e pastagens sofreram impactos diretos, especialmente em áreas de baixada e fundos de vale, zonas naturalmente mais suscetíveis ao frio intenso.

Café praticamente não foi afetado, mas há sinais de atenção
Diferente de outras culturas como o trigo ou o milho safrinha, o café não tolera geadas fortes. A planta sofre danos principalmente quando o frio vem acompanhado de vento e umidade. A geada queima as folhas e destrói os tecidos vegetais, impedindo a fotossíntese e comprometendo a frutificação.

Segundo levantamento de agrônomos da Bela Esperança Agro, as lavouras de café de Mandaguari não sofreram grandes prejuízos. Isso se deve, principalmente, à curta duração da massa polar que provocou o fenômeno.

“A massa de ar frio entrou muito rapidamente no país, o que causou um resfriamento abrupto, mas de curta duração. Em Mandaguari, as lavouras mais afetadas foram em áreas de baixada, com histórico de baixas temperaturas. No geral, o café não teve grandes perdas”, explicou Fernando Lopes do Café Bela Esperança.

Ainda assim os pequenos danos pontuais poderão ser sentidos na próxima safra. Mudas recém-plantadas, que não estavam com terra cobrindo o colo, foram danificadas, principalmente nas regiões mais baixas da cidade. A cafeicultura local, que está em plena colheita, deve se estender até setembro, devido à falta de mão de obra.

Milho safrinha tem perdas estimadas em 20%

De acordo com o Secretário de Agricultura de Mandaguari, Luis Carlos Garcia, a safrinha de milho apresentou perdas de até 20%. As lavouras plantadas mais cedo escaparam da geada, mas as semeadas em áreas de baixada ou com colheita tardia foram prejudicadas.

“O milho safrinha vinha muito bem. Algumas áreas chegaram a produzir até 300 sacas por alqueire. Mesmo com a perda, a produção média ainda será positiva. Estimamos a finalização da colheita até o fim de julho”, informou ele.

Além de Mandaguari, os municípios de Ivaiporã, Grandes Rios, Astorga e Pitangueiras, no Paraná, também relataram danos ao milho, principalmente em áreas de plantio mais recente.

Hortaliças e pastagens estão entre os mais atingidos
As hortaliças, especialmente as de folhas, tiveram perdas de até 60% em Mandaguari. As pastagens também foram severamente afetadas, o que preocupa pecuaristas, já que a oferta de alimento para o gado caiu drasticamente.
O tipo de geada registrada foi a chamada “geada de irradiação”, ocorre em noites de céu limpo, quando a perda de calor da superfície terrestre é mais intensa. Na madrugada da quarta-feira (dia 26/06), os danos foram maiores, por conta da ausência de nuvens no período noturno.

Regiões mais afetadas de Mandaguari
Foram relatadas ocorrências significativas de geada nas regiões: Estrada Caitú, Estrada Alegre e Estrada do Cambuizinho. Essas áreas, por estarem em altitudes mais baixas, concentram o ar frio e, por consequência, sofrem mais com as geadas.

Ações da prefeitura e orientações para o produtor
A prefeitura de Mandaguari vem apoiando os agricultores com maquinários agrícolas e recuperação de estradas. Neste ano, já foram adquiridos um trator novo e um caminhão zero para atender a agricultura do município. Além disso, o município receberá R$ 3,7 milhões do Governo do Estado para aquisição de novos equipamentos ainda este ano.

Para os produtores, a principal recomendação é antecipar o plantio do milho safrinha, evitando os períodos de maior risco no inverno. A orientação também vale para o milho da safra de verão, que deve ser semeado mais cedo para permitir o ciclo da safrinha a tempo.

Para mitigar os efeitos das geadas, técnicos recomendam práticas como uso de quebra-ventos, podas programadas, irrigação por aspersão durante madrugadas frias e escolha de cultivares mais resistentes. No entanto, a realidade de muitos pequenos produtores da cidade impede a adoção dessas tecnologias.

Embora não seja possível evitar a ocorrência da geada, há algumas estratégias que podem reduzir significativamente os danos às plantações, especialmente nas lavouras de café, que são mais sensíveis ao frio. São elas:

  • Escolha de cultivares mais resistentes: Opte por variedades de café mais tolerantes ao frio e adaptadas à altitude da região e consulte técnicos para saber quais cultivares são mais adequadas.
  • Utilize quebra-ventos: Barreiras vegetais como fileiras de eucalipto, bambu ou árvores nativas que ajudam a reduzir a velocidade dos ventos frios e proteger a lavoura. O ideal é que sejam plantadas com antecedência e dispostas perpendicularmente à direção predominante do vento.
  • Irrigação por aspersão na madrugada: Ligar o sistema de irrigação nas horas que antecedem a geada (geralmente entre 2h e 6h) pode proteger as plantas, pois a água libera calor durante o congelamento e evita que a temperatura da planta caia drasticamente. Essa técnica é eficaz, mas exige planejamento e estrutura.
  • Faça podas preventivas: Em lavouras novas ou em formação, a poda baixa pode reduzir a área exposta ao frio. Após a geada, pode ser necessário realizar uma poda de recepa para estimular a brotação e salvar a planta danificada.
  • Cobertura do solo: Manter palhada ou cobertura vegetal entre as linhas do café ajuda a conservar o calor do solo e reduzir o impacto térmico. Além disso, melhora a umidade e a saúde do solo.
  • Sistemas de seguro rural: Contratar seguro agrícola é uma forma de proteção financeira contra perdas causadas por eventos climáticos, como geadas, secas ou granizo.
  • Planejamento de plantio: Evite plantar café em baixadas ou vales, que são áreas mais suscetíveis à formação de geadas. Prefira encostas ou áreas com boa drenagem e circulação de ar.

Essas medidas não eliminam totalmente os riscos, mas ajudam o agricultor a enfrentar com mais segurança os efeitos do frio intenso. A prevenção, aliada ao acompanhamento técnico constante, é a melhor forma de proteger o trabalho de meses, e até anos, no campo.

Já no caso do café, técnicos orientam:

  • Manter a nutrição adequada do cafeeiro
  • Fazer o enterrio de mudas com até 6 meses para proteger o colo das plantas
  • Escolher áreas menos suscetíveis a geadas para novas lavouras

Geada moderada, mas com impactos sensíveis
A geada, embora previsível em alguns casos, é um fenômeno de difícil controle e com potencial devastador. Em regiões onde a agricultura é a principal fonte de renda, ela pode significar a falência de famílias inteiras e a retração de economias locais.

Com os impactos climáticos se tornando cada vez mais intensos e frequentes, especialistas defendem políticas públicas mais robustas de seguro rural e investimentos em pesquisa para tornar a agricultura brasileira mais resiliente aos extremos do clima.

Embora considerada moderada, a geada de junho de 2025 trouxe lições importantes para o produtor rural. Segundo os agrônomos da Bela Esperança Agro, “por pouco não foi uma geada severa”. A combinação entre preparo técnico, gestão climática e apoio público será fundamental para garantir a recuperação da produção e evitar novos prejuízos pelo restante do inverno.