Marcos Daniel: da origem humilde ao sucesso da Prorelax

Prestes a completar 33 anos, a Prorelax se consolidou como uma das maiores empresas de colchão e espuma do Brasil e emprega cerca de 800 funcionários espalhados pelo país. Mas o que está por trás de todo esse sucesso? O empresário e proprietário da Prorelax, Marcos Daniel Perez de 74 anos, contou toda a sua trajetória e sua história de vida em uma entrevista especial e exclusiva a Agora Comunicação. 

Origem e uma infância de desafios

Marcos Daniel, hoje conhecido como um dos maiores e mais respeitados empresários de Mandaguari, tem uma história de muito esforço e superação. Nascido em uma família humilde, Marcos enfrentou desde cedo a dureza da vida. A infância pobre, repleta de limitações, foi o ponto de partida de uma jornada marcada por trabalho árduo, fé e uma obstinação inabalável.

Nascido em Mandaguari, sua primeira casa foi na Fazenda Monte Alto, ela foi vendida pelo seu pai e a família se mudou para uma chácara nos fundos do antigo aeroporto. Logo após foram morar na Avenida Paraná, onde hoje é a casa do seu cunhado Antônio Carlos, onde residiram por muitos anos. 

Apesar de ter nascido em uma das famílias mais ricas da cidade, um trágico acidente marcou pra sempre a vida da família. “O papai foi um dos caras mais ricos de Mandaguari, ele tinha 22 propriedades e era muito trabalhador. Meu irmão mais velho, que era o companheiro dele e andava sempre com ele, foi pescar no Rio Ivaí e morreu afogado. Eu tinha quatro anos na época, na década de 50, e ele tinha 24 anos quando morreu. E a morte desse meu irmão acarretou todo o desequilíbrio do meu pai, ele desandou. Eu não sei o que aconteceu porque eu era muito criança, mas gerou efeitos muito ruins para nós e o papai foi vendendo tudo, acabou com tudo. Meu papai morreu vendendo verdura e fruta na rua, com uma cestinha. Todo mundo daquela época conheceu o meu pai”, relatou com tristeza. 

Mesmo com tudo isso, a família seguiu em frente e se reestruturou como podia e Marcos sempre levou seu pai como um exemplo a ser seguido. “Não é por ser meu pai, mas ele era um dos homens mais honestos que eu já vi na minha vida e eu trilhei essa mesma aula que ele me dava de conselho. Eu nunca tive um cartório na minha vida, nunca tive um protesto e nunca soltei um cheque frio. É uma das coisas que eu aprendi com o meu pai”

Seus pais vieram a falecer no mesmo ano, em 1979, e Marcos lembra com muito carinho da sua mãe. “A minha mãe era uma mulher muito inteligente, apesar da humildade dela, dela não ter estudo nenhum, ela sempre falava pra mim assim ‘Meu filho, procure sempre andar com gente melhor do que você, não anda com porcaria e procure sempre ser decente nas tuas atitudes. Isso foi me marcando e eu estudei, fiz mini ginásio, porque eu já tinha a idade avançada e demorei pra estudar, mas fiz vestibular e casei com a dona Elizabete”.

Trabalho, amor e família 

Apesar das dificuldades e da diferença de classe social entre os dois, Marcos não desistiu e contou que se casou por amor: “Foi uma época que me marcou muito, mas graças a Deus eu casei por amor, eu era apaixonado pela ‘encrenqueira’ e estamos juntos até hoje, 53 anos de casados. E nós temos uma família, graças a Deus, bonita e decente, meus filhos são fantásticos, são meninos do bem que nunca me deram trabalho e nunca fizeram coisa errada. Foi um casamento que deu certo porque ela me ajudou muito”

Com o tempo, a família decidiu morar todos no mesmo condomínio, a Fazenda Alegria, ideia dos próprios filhos. “Um dia estávamos na mesa conversando e eles falaram ‘Pai, o que o senhor acha da gente mudar para cá?’. Eles que quiseram, não fui eu, falei ‘Vocês é que mandam porque vocês já estão adultos’. Então fizemos um condomínio para nós, cada um ia casando e fazendo uma casa ali”.

Marcos contou que começou a trabalhar muito cedo, como engraxate, e depois se tornou entregador. “Eu trabalhei de engraxate quando moleque e fui entregador da Casa Paulista. A minha vida foi isso daí, sempre de luta”. Logo depois ele começou a trabalhar como vendedor com o seu sogro, que era empresário e proprietário da antiga Tika, fábrica de refrigerantes e tubaína. “Trabalhei 16 anos com o meu sogro sendo funcionário da empresa, vendedor. O primeiro nome da empresa foi Atlântica, depois Quelps e ficou Tika. Naquela época as estradas não tinham asfalto e eu andava uma média de 10 mil quilômetros por mês vendendo os refrigerantes”

Querendo expandir os negócios da família, Marcos deu a ideia de expandir a fábrica para que ela tivesse capacidade de produzir 30 a 40 cargas por dia. Para isso ele contou com a ajuda do seu cunhado Carlinhos, o ex-prefeito Carlos Alberto Campos de Oliveira. “O meu cunhado me perguntou o que tínhamos que fazer porque estava todo mundo casando e a fábrica não dava para todo mundo. Eu falei, vamos montar uma fábrica grande para produzir 30 a 40 cargas por dia. Na hora ele assustou, porque eu sempre tive a cabeça grande e nunca tive medo. Aí eu perguntei pra ele como é que estava o crédito no BADEP, que era o Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná. Falei, viu, faz um projeto e monta uma fábrica grande. Aí ele falou, e a venda você garante? Eu falei, eu garanto”

Perguntado se ele sempre teve essa visão de empreendedor, Marcos respondeu que sempre quis ter seu próprio negócio. “Eu sempre tive a ambição de ter o meu negócio, aí foi quando o meu sogro estava lendo um jornal e disse que aqui na região, no norte, não tinha nenhuma fábrica de vinagre. Eu fiquei quietinho e fui correr atrás da fábrica de vinagre, tinha uma em Cascavel e eu entrei lá, conversei com o dono e perguntei se ele não tinha interesse em vender. Ele falou que não e eu disse que tinha vontade de montar uma fábrica de vinagre e ele me deixou conhecer a fábrica”

A fábrica de vinagres São Marcos

Marcos começou a contar do seu primeiro negócio em 1987: a fábrica de vinagre São Marcos. “Foi a grande cagada dele porque eu já tinha a ideia, né? E depois consegui o funcionário dele para fazer o vinagre pra mim, ele largou lá e veio junto comigo. Montei a fábrica de vinagre e de engarrafamento de vinho, porque eu precisava de vinho para fazer vinagre, e também montei a fábrica de plástico para envasar o vinagre. Olha que doido, tudo dentro da mesma estrutura.

E naquela época eu tinha um monte de dívida para pagar. Eu fiz um financiamento de um milhão de dólares, hoje dá mais ou menos seis milhões. Sem ter dinheiro, mas eu tinha umas propriedades que eu dei de garantia”.

A fábrica estava se expandindo e havia recebido uma nova assopradora, que permitia fazer 50 mil caixas de vinagre por mês. Porém uma grande tragédia aconteceu, a fábrica acabou pegando fogo em 1992, cinco anos após sua abertura, e um dos funcionários morreu no local. Nessa época Marcos havia sido dispensado do trabalho com seu sogro para focar no seu negócio e no dia do acidente estava viajando de férias com a família. Quando soube do incêndio voltou imediatamente para Mandaguari. 

Marcos relembra da tragédia com muita tristeza e disse que foi um momento difícil e triste para a família do jovem e para ele. “Peguei a Elisabete aqui em casa com as crianças e fui para Guaratuba para passear naquela época. O Alexandre fez o vestibular de Medicina em Prudente e o resultado iria sair na segunda, ele foi aprovado. Estavamos muito felizes e fomos almoçar em um restaurante de lá, deu 14h30 meu sogro me ligou dizendo pra eu ir embora porque minha fábrica havia pegado fogo e um dos meus funcionários havia morrido lá dentro. Uma tragédia o que aconteceu!”

Após isso, Marcos encerrou as atividades nesse ramo e colocou à venda o que havia sobrado da carga de vinagre e vendeu o que havia sobrado da fábrica para um grupo de empresários de Paranavaí, após ter entregue tudo reformado. Porém, uns meses depois o negócio faliu. 

Surgimento da Prorelax

No mesmo ano, Marcos Daniel teve outra ideia. Ele estava passando por Marialva quando viu um homem trabalhando com um bloco de espuma, em um pequeno barracão, achou interessante e perguntou ao seu amigo, apelido de Jacaré, o que era o local. “Ele falou que era uma fábrica de colchão e espuma e ainda falou assim ‘Porque você não monta uma fábrica de espuma?’ Eu falei ‘pô, cara, é interessante’. Aí andei mais uns 50 metros, ele não falou mais nada, eu peguei, freei e dei uma ré no carro, voltei e parei na frente da fábrica.

Era um homem com mais quatro garotinhos lá, mexendo. Eu falei ‘Viu, gostei desse troço aqui, achei bonito, você que é o dono?’ Ele disse que era o gerente. Perguntei se eu poderia olhar ‘Posso olhar? Faz mais um bloco desse aí pra eu ver’ e fiquei lá olhando e conversando com ele. Eu falei ‘pô, esse troço é interessante!’”.

Nessa época o setor moveleiro estava em alta na região, somente em Arapongas havia 17 fábricas de sofá e mais de 50 fábricas de colchões e espuma. Diante disso Marcos teve a ideia de ter sua própria fábrica de colchão e espuma, atualmente conhecida nacionalmente, a Prorelax. “Final da história: eu já saí dali com o rapaz, que era o gerente da fábrica, contratado para trabalhar comigo. Perguntei pra ele quanto ele ganhava e se ele queria ganhar mais, ele aceitou e virou meu funcionário. Foi um intervalo de quatro meses e já estávamos montando a fábrica de espumas. Do mesmo jeito que eu fiz com ele, ele fez comigo porque uns meses depois passou outro lá e ofereceu um salário maior e ele foi embora para outro lugar. (Risos)

O Celso, que já trabalhava comigo na fábrica de vinagre, se ofereceu e perguntou ‘O senhor quer que eu aprenda a fazer esse negócio?’ Aí ele fez química em Arapongas, na Unopar, e trouxe muita gente para ensinar ele e foi dando certo. Fomos devagarinho, afirmando e crescendo no setor. E deu certo, graças a Deus, hoje nós somos uma empresa a nível de Brasil!”.

Já a ideia de fabricar também colchões veio do filho dele, Alexandre. “O colchão foi criação do Alexandre, meu filho. Ele conversou com o Marcelo Generoso, que trabalhava numa fábrica de colchão de Maringá, porém essa fábrica faliu e perguntou se ele não queria trabalhar comigo. Ele aceitou e trouxe outras pessoas junto também e começamos a fabricar”

Perguntado sobre o segredo de todo esse sucesso da empresa ele respondeu com uma única palavra: qualidade. “É a qualidade, sempre briguei por qualidade. É o segredo da nossa empresa e o porquê somos diferenciados. A espuma é um detalhe mínimo e é uma matéria-prima cara. Então se você quiser ficar rico nesse ramo, você fica em dois anos. Só que tem uma coisa, se não tiver qualidade você quebra e nunca mais ninguém compra de você. Se você fizer porcaria, não adianta. 

Muitas empresas desse ramo não sobreviveram porque no desespero para vender fazem porcaria. Você tira um pouquinho de produto, por exemplo, densidade 33, você vende a 33, mas entrega a 28. O dia que o freguês descobre que ele está sendo passado para trás, ele não te compra mais. Então é um negócio de honestidade”

A Prorelax iniciou com apenas 15 funcionários, 5 desses primeiros continuam trabalhando na empresa até hoje, e atualmente conta com cerca de 400 funcionários somente em Mandaguari, totalizando 800 funcionários espalhados pelo Brasil. “Eu acredito que a nossa empresa, hoje, está entre as três maiores do Brasil no segmento de espuma e colchão. Tem uma do Rio Grande do Sul, outra em São Paulo e a nossa do Paraná”.

Para o futuro, Marcos Daniel pretende construir outra fábrica, mas mais perto de São Paulo, capital. “Temos uma fábrica com aproximadamente 100 funcionários em Cosmorama, São Paulo. Quando eu montei lá a cidade era um polo moveleiro que tinha quase 200 fábricas de sofá e esse polo vendia para o Nordeste. Com o custo do frete, minguou e acabou. Hoje nós estamos em Cosmorama, mas a nossa venda é ínfima, é muito pequena. Eu quero chegar mais longe porque Cosmorama está a 500 quilômetros de São Paulo e eu quero montar mais perto da capital, para pegar o retorno do pessoal de Ubá, que é de Minas Gerais, que é outro polo que está igual Cosmorama. Tem 200 fábricas de sofá lá, eu ia até montar a fábrica em Minas Gerais, mas tirei a ideia da cabeça”

Política e vida pública

Um dos assuntos tratados na entrevista foi sobre política e a vida pública do empresário. Em 2012 seu nome foi cogitado como um possível candidato a prefeito de Mandaguari, porém ele decidiu tomar outro caminho. “Era para me candidatar a prefeito quando o Romualdo Batistão entrou em 2012, porque eu já estava sentindo que estava envelhecendo e esse desejo sempre existiu. Porém o Romualdo veio falar comigo sobre isso e eu disse que precisava ver com a minha família. Se eles concordassem, eu iria sair candidato, mas eles criaram uma resistência à ideia.

Disse pra ele que se eu não saísse candidato o iria apoiar na campanha dele e eu apoiei, inclusive falei para ele correr atrás da Ivoneia para ela ser a vice dele. Nós ganhamos a eleição, mas me frustrei com ele. Na eleição anterior (2024) eu apoiei o Jorge porque sou muito amigo do Edson Lopes. Hoje em dia eu percebo que política não é pra mim, eu sou uma pessoa honesta e de decência”

Lições de vida

Marcos tem orgulho de ser mandaguariense e disse que não pretende deixar a cidade por nada porque, palavras ditas por ele, “se eu mudar pra Maringá nem o coveiro me conhece”

“Nunca vou sair de Mandaguari, eu tenho meu túmulo pronto, o meu histórico de vida é aqui. Eu me sento na praça faz quarenta anos e eu trato todo mundo com carinho, trato bem, e acho que a soberba não faz bem pra ninguém, a soberba é mortal. Eu tenho dó de algumas pessoas porque muitos compram um carrinho novo e já não te olham mais, uma bobagem, né? Eu brinco com todo mundo e converso com todo mundo, comigo não tem grandeza. É tão rápida essa passagem aqui, temos que ter temor a Deus, né?”.

No ano passado Marcos passou por sérios problemas de saúde e muitos acharam que ele não iria conseguir se recuperar, porém ele saiu do hospital e continua firme e forte trabalhando todos os dias. “Anunciaram duas ou três vezes que eu havia morrido e eu realmente fiquei mal, fiquei entubado, mas Deus tinha um projeto pra mim, pra eu voltar aqui e pagar o resto das contas. E eu me considero um vencedor e feliz, sou a pessoa mais feliz do mundo, sair de onde eu saí e passar por tudo que eu passei nessa vida e continuar aqui, sendo respeitado.

Eu tenho uma penca de funcionários que têm um maior carinho por mim. Eu acho que eu sou um dos empresários do Brasil que é bem quisto pelos funcionários, porque normalmente o patrão é o diabo, né? Eu não sou não, eu sou querido porque eu trato bem todo mundo, cumprimento e ainda brinco. É gostoso, é muito bom, a humildade cabe em todo lugar, até pra ter dinheiro você tem que ter equilíbrio e humildade”.

Essa filosofia de valorização do ser humano se estende também aos amigos. Marcos cultivou uma rede de amizades construída ao longo das décadas, especialmente entre aqueles que, como ele, enfrentaram e venceram batalhas pessoais e profissionais.

A história de Marcos Daniel é um retrato do Brasil que acredita, trabalha e vence. É também um lembrete de que sucesso verdadeiro se mede não apenas pelo que se conquista, mas pela forma como se vive, com humildade e respeito.